Não temos muita paciência para ler online.
A esta altura, você já deve ter pensado, ainda que involuntariamente, em rolar a página em busca de uma imagem, um cabeçalho ou uma frase em negrito que lhe interesse. Eu entendo, faço isso também.
Com tanto conteúdo disponível, a Internet nos tornou mais ávidos, famintos por informação, mas não adicionou horas extras em nossos dias para absorvê-la. Na falta de tempo, desenvolvemos técnicas para fazê-lo, além de aplicativos para salvar artigos que não vamos ler mais tarde.
Comportamento de leitura
A constatação de que os “textões” na rede dificilmente são consumidos da maneira como deveriam – por completo – não é de hoje.
“As pessoas raramente leem páginas da web palavra por palavra”, concluía o cofundador da Nielsen num estudo em 1997. A maioria (79%) apenas escaneia o conteúdo, “pescando” listas, keywords destacadas, parágrafos curtos e cabeçalhos chamativos, num processo conhecido como “skimming”.
Outros dados desanimadores para quem ganha a vida produzindo conteúdo desse tipo na Internet e adoraria que seus textos fossem realmente lidos vêm de uma análise feita pela Chartbeat em 2013 com diversos sites americanos. Segundo a empresa, a maioria dos internautas desiste de concluir um artigo enquanto ainda restam 40% dele a ser lido. Uma parcela de 10% nem mexem a barra de rolagem antes de fechar a aba do navegador.
Não à toa, a escrita objetiva e a pirâmide invertida, técnicas fortemente difundidas nos cursos de Jornalismo, imperam ainda mais no digital. Dê ao leitor, logo de cara, sem enrolações, a conclusão ou as informações mais importantes do texto, pois ele não quer encontrá-las no último parágrafo.
Incômodos e distrações
Apesar da evolução da tecnologia, ler em dispositivos eletrônicos ainda é uma experiência desconfortável. Os e-readers dedicados a essa atividade são exceção.
Desde que me rendi ao leitor eletrônico da Amazon, por exemplo, parei de comprar livros impressos. Por outro lado, a leitura intensiva no computador, no tablet ou no celular não me traz prazer e persevera como um mal necessário.
As pessoas dizem sentir falta do cheiro do jornal quentinho pela manhã, da textura das folhas dos livros ao manuseá-los, mas as principais razões para se aterem tanto ao impresso são outras: o incômodo causado pelo brilho das telas e o reconhecimento de que a leitura em meios digitais requer muito mais esforço que no papel.
Manter a concentração ao longo de um textão na Internet é uma tarefa árdua. Se você está aqui ainda, aliás, obrigado. Prometo que o parágrafo impactante final está bem próximo.
No papel, somos só nós e as palavras impressas. Você pode até folhear as páginas, espiar o que vem em seguida. No entanto, não há hiperlinks no meio do texto nem uma barra de acesso fácil aos seus outros livros, jornais, revistas favoritos.
Na Internet, por outro lado, tudo isso e muito mais está ao alcance de um mero clique. Estamos sempre pulando de uma página a outra, navegando entre endereços familiares ou explorando domínios que serão desbravados por uma parcela muito pequena de internautas.
Assim como aquele artigo que você publicou ontem.