Final de ano é a época na qual fornecedores de tecnologia e analistas de indústria fazem previsões para os próximos doze meses. Mas na minha opinião, creio que estejamos agora em uma fase de consolidação das cinco ondas tecnológicas, pois não podemos deixar de adicionar a Internet das Coisas às ondas da mobilidade, social business, cloud computing e big data. Estamos saindo das fases de curiosidade e provas de conceito para colocá-las em prática. Algumas estão mais consolidadas, como cloud computing (praticamente se tornando mainstream) e outras, ainda mais distantes, como big data, mas para todas o ano será de crescente adoção.
Mas gostaria aqui de concentrar atenção em quatro movimentos que me parecem extremamente importantes: o primeiro é continuada evolução da mobilidade e o fenômeno da consumerização, da qual iniciativas de BYOD, BYOA ou BYOC (leia-se Bring Your Own Device, App ou Cloud) são as partes mais visíveis. Outro é o inicio da curva de adoção de sistemas cognitivos; o terceiro será o impacto das impressoras 3D na sociedade. O quarto é o conceito de DevOps, que acelera o processo de criação de sistemas agrupando desenvolvimento e operação.
Comecemos pela mobilidade e consumerização. A mobilidade estará cada vez mais presente no nosso dia a dia. Se pegarmos apenas a fabricante Apple, veremos que ela sozinha vende mais de 200 milhões de dispositivos móveis, como iPod, iPhone e iPad, por ano. Esse é aproximadamente o mesmo número de aparelhos de TV vendidos anualmente no mundo todo.
O processo de amadurecimento da mobilidade está começando a eliminar a distinção entre o que é uma app de negócios e uma app voltada para o consumidor final. No dia a dia o uso de apps como WhatsApp, Vine, YouTube, Facebook, Twitter e outras estão fazendo parte das atividades profissionais. Talvez nas corporações, por políticas ainda restritivas, o acesso seja limitado. Mas pensemos em profissionais liberais, como advogados e médicos. Seu dia a dia profissional e pessoal absolutamente não tem mais fronteiras. Eles usam o WhatsApp para enviar mensagens tanto para seus amigos como para seus pacientes/clientes.
Este movimento vai chegar com força nas empresas. No ambiente corporativo está cada vez mais difícil explicar (e convencer os usuários) porque as apps baixadas de lojas como AppStore ou Google Play são tão intuitivas e fáceis de usar, interagem com vídeos e intensificam as interações sociais, enquanto os sistemas internos são complicados, apresentam interfaces pouco amigáveis e exigem dias de treinamento e leitura de manuais. Indiscutivelmente que vivemos em um ambiente de intensa interação. Em 2002 cerca de 80% do desempenho dos funcionários dependiam deles mesmos. Hoje, cada funcionário interage com pelo menos dez outros para efetuar suas atividades e seu desempenho depende da eficiência da conexão entre ele e seus pares, bem como entre ele e seus clientes. Cerca de 2/3 dos funcionários atuam de forma muito mais colaborativa do que há três anos e esta tendência continua se acelerando. Vai ficar mais visível em 2014.
Creio que as iniciativas BYOD/A/C serão cada vez mais disseminadas e mais estruturadas (sendo pauta importante das reuniões dos executivos C-level), e menos ad hoc como a maioria das que vimos acontecer. Outra tendência será a crescente liberalização do uso de plataformas sociais nas empresas, que terá cada vez menos relutantes e seu uso se intensificará. Ainda vão acontecer erros e muitas empresas provavelmente falharão em definir guidelines claros e consistentes, mas é um processo de aprendizado normal. O fato é que será (e já é) simplesmente impossivel de impedir os as pessoas de usarem seus smartphones e tablets dentro das empresas. A não ser que eles sejam confiscados. Mas, se estiverem em home office?
Também acredito que veremos mais e mais apps corporativas saindo da mera cópia de sites adaptados para telas menores, para sistemas que realmente exploram o potencial de recursos dos equipamentos móveis, criando o que chamamos de systems of engagement. Em todas as áreas isto já está acontecendo ou vai acontecer. Por exemplo na área da saúde, criando apps que engajem o paciente em iniciativas de auto monitoração, com interação direta com os serviços e seus médicos. Ou em esportes, como o caso da Nike, que, inclusive, fomenta a criação de um ecossistema baseado na sua plataforma, para que desenvolvedores criem suas próprias aplicações.
Observo também que se TI ficar à parte ou tentar criar empecilhos, será simplesmente contornado. Hoje, em muitas empresas, cerca de 80% do budget que envolve tecnologia tem interferência direta ou está sob responsabilidade dos executivos das linhas de negócio. É o famoso “shadow IT”, que vai crescer na mesma proporção que TI não responder aos anseios da organização.
O segundo movimento que deverá se acentuar em 2014 serão os sistemas cognitivos, que ainda são relativamente desconhecidos. Alguns ouviram falar do Watson, da IBM, mas é importante considerar que eles se constituirão em uma nova categoria de sistemas, que combina tecnologias já existentes com algoritmos preditivos sofisticados, linguagem natural, e “machine-based learning”. Tem grande potencial em muitas indústrias e recentemente a IBM criou um programa mundial de incentivo à criação de novas aplicações cognitivas, com a proposta de formação de um ecossistema de desenvolvimento de novos negócios. Vale a pena visitar e analisar os casos já existentes, como os da Fluid, MD Buyline e Welltok. Sistemas cognitivos não são ficção científica e podem trazer excelentes resultados de negócios. Recomendo ler o texto “Cognitive systems redefine business potential”. Quem sabe se daí não surgem novas e inovadoras aplicações? Creio que veremos algumas delas já em 2014 – principalmente criadas nos EUA, porque atualmente o Watson só entende inglês americano. Neste ano a curiosidade em torno do tema deve se acentuar e provavelmente veremos eventos e palestras pipocando no mundo todo e talvez até mesmo, quem sabe, no Brasil.
E as impressoras 3D? Começaram orientadas à produção de protótipos e maquetes, mas começam a ser usadas para aplicações de negócio. A BMW usa impressoras 3D para produzir instrumentos especiais que ela precisa para fabricação de seus carros e que seriam muito caros se produzidos na manufatura tradicional, de produção em série.
As impressoras tenderão a cair de preço e espera-se que o mercado mundial alcance US$ 3 bilhões em 2016 e mais de US$ 5 bilhões em 2020. Poderão produzir brinquedos em casa (risco de ruptura no setor de varejo de brinquedos?). Com impressoras em casa, muitos produtos vendidos pelas lojas virtuais dispensarão a logística da entrega em casa dos produtos físicos e a trocarão pela permissão do cliente fazer download do modelo e imprimir o produto em casa. Varejistas poderão criar centros de impressão 3D para produzir produtos customizados e com isso romper a divisão entre manufatura e varejo. A logística será afetada de forma significativa e no futuro a produção de produtos baratos poderá sair de países onde a mão de obra é barata para se concentrar nas impressoras caseiras ou centros de impressão em países desenvolvidos. O fator ‘custo de mão de obra’ poderá ser bem menos importante.
Interessante este projeto de uma impressora 3D que pode imprimir cópias de si mesma. Em resumo, o que teremos de realidade em impressoras 3D em 2014? Algumas empresas industriais as usando de forma mais intensa, mas ainda estarão distantes do uso diário nas nossas casas. Mas com certeza o tema será bem mais discutido.
E finalmente, DevOps. Ah, este merece um artigo especial. Fica para o próximo!