DevSecOps

9 mar, 2015

A Internet vai “desaparecer”…

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Assisti a vários webcasts do World Economic Forum de Davos e um, particularmente, me chamou a atenção. Pelos painelistas de primeira linha, como Eric Schmidt, do Google, Satya Nadella, da Microsoft e Sheryl Sandberg, do Facebook. E como eu imaginava, foi apresentado um conteúdo muito bom. Teve uma frase do Eric Schmidt, bem provocativa: “A internet vai desaparecer…”. Mas, claro, o que ele se referia é o fato de que a Internet deixará de existir pelo conceito atual, de um mundo virtual dissociado do mundo off-line.

A Internet será (em muitos casos já é) parte integrante de nossa vida, de nossa presença em todos os momentos. Com a Internet das Coisas conectando todos os objetos, a computação vestível e uma inteligência cada vez maior nas máquinas (computação cognitiva ou machine learning), conviveremos com tantos dispositivos e coisas (inclusive as que vestimos) e com tanta interação, que nem mais perceberemos a existência da Internet. Ela será tão onipresente e comum a nós como o dia e a noite. Na verdade, este mundo já está delineado. Por exemplo, a Samsung afirma que em 2017 (daqui dois anos!), cerca de 90% de seus produtos já estarão prontos para a Internet das Cosias e que em 2020 o percentual chegará a 100%. A Internet das Coisas não é mais futuro, é um fato.

Impressionante como as mudanças estão se acelerando. Há 25 anos dois eventos aconteceram que mudaram o mundo: a queda do muro de Berlim, que abriu o caminho para uma verdadeira globalização e a criação da World Wide Web (www). Agora estamos vislumbrando uma nova ruptura que provavelmente terá muito mais impacto: o “desaparecimento” da Internet e o fato da sociedade se tornar digital. Na próxima década, é provável que os 2/3 da população ainda não conectados à rede, estarão on-line e, com isso, toda empresa será, de alguma forma, uma empresa de tecnologia, de Internet. Estamos no início da transformação digital, mas é o momento em que não podemos perder o passo. Os consumidores criam novos hábitos, já se acostumaram com experiências de se servirem sozinhos (self-service) e moldaram seu comportamento para isso. É o que as pessoas esperam das empresas com as quais interajam – seja uma empresa aérea, um banco ou uma operadora de celular.

A economia mundial já está madura o suficiente para aceitar novos modelos de negócios disruptivos como o AirBnB, que tirou o chão de baixo do tradicional sistema hoteleiro. Neste cenário, já está atrasado falarmos em estratégias de cloud e mobilidade para o futuro. Na verdade, o que se espera das áreas de TI é uma explicação do porque as suas empresas ainda não estão usando de forma mais intensiva o cloud computing e os aplicativos móveis. O big data e a computação cognitiva já estão se materializando e vemos novas interfaces que mudarão de forma radical nossa interação com a tecnologia, como o recém lançado HoloLens, da Microsoft. A empresa ou o profissional que se atrasar terá grandes dificuldades de sobreviver neste novo contexto.

No cerne destas mudanças está a área de TI, o CIO e os seus profissionais. A TI que se delineia para qualquer empresa (relembrando que toda empresa será, de alguma forma, uma empresa de tecnologia) é uma TI não mais voltada para dentro, focada em redução de custos e produtividade, mas sim como um motor de crescimento e geração de receita. É uma TI que se comportará como um ambiente de nuvem, ou seja, elástica, self-service, com recursos aparentemente infinitos e modelo pay-per-use. Bem diferente do modelo atual.

No coração destas mudanças estão as pessoas. O CIO deixando de ser um gestor de recursos tecnológicos para ser executivo de desenvolvimento negócios, tendo nas mãos uma startup de tecnologia e não mais um setor dissociado do negócio, como hoje são muitas áreas de TI. E como startup, deve estar à frente até das demandas atuais do negócio, buscando continuamente inovação, além de aplicações novas e disruptivas de uso da tecnologia.

Os profissionais também deverão se transformar. Este é um aspecto da transformação digital no próprio setor de TI que provoca reações contrárias. As novas tecnologias são muitas vezes vistas como risco ao status profissional dentro das empresas, pois colidem com a expertise profissional acumulada por dezenas de anos de experiência profissional. Houve mudanças antes, mas em sua essência foram evolucionárias. Agora falamos de mudanças disruptivas. Por exemplo, o processo de desenvolvimento e entrega contínua de software colide de frente com os processos e métodos atuais escudados por metodologias e certificações como ITIL e outras. A mentalidade libertária no uso de tecnologias, como smartphones e mídias sociais, pela geração digital (que está entrando nas empresas) bate de frente com os conceitos de controle de tecnologia na qual muitos profissionais de TI estão apegados. Um exemplo: a geração digital não usa e-mail como a geração anterior e não se sente confortável quando seus meios de comunicação como Facebook ou Whatsapp são limitados ou impedidos nas empresas. Os clientes também. Mas, o e-mail está tão entranhado na consciência coletiva da TI atual que é o meio natural embutido nas suas aplicações e processos. São raras as áreas de TI que adotam internamente como processo operacional com mídias sociais ou ferramentas como Whatsapp.

Para enfrentar este desafio, as áreas de TI (começando pelos CIOs) tem que se reinventar. Buscar novas proficiências, novas expertises e começar a olhar para profissionais que antes nem eram imaginados nas suas equipes, como “user experience designer” ou “data scientist”. A organização de TI também deve ser redesenhada. O modelo hierárquico e controlado pode e deve dar lugar a um ambiente típico de uma “lean startup”.

Sim, é uma jornada e tanto. Muitos desafios e descrenças pela frente, assim como o conceito de cloud teve que enfrentar. Mas hoje cloud é uma realidade. O profissional de TI deve estar aberto a novas ideias e não mais se apegar a uma ou outra tecnologia. Estas estão e estarão em constante mudança. E seus papéis profissionais também! As empresas e os CIOs também devem colocar educação continuada como requisito essencial à sobrevivência e relevância da TI.

Ah, e o link para o painel é esse aqui!