Em um recente evento com CIOs, aproveitando o happy hour descontraído, surgiu o assunto “como as empresas adotam tecnologias emergentes”. A conversa estava animada quando alguém perguntou ”alguém já está experimentando ou planejando experimentar a curto prazo impressoras 3D?”. Fez-se silêncio e, pelo menos para os CIOs presentes (ali estavam, entre outros, executivos de setores como indústria e varejo), esta tecnologia ainda não apareceu na tela dos seus radares. Na verdade, verificou-se que nem está nas suas “to do list” para os próximos dois anos.
Ora, mas é uma tecnologia que vem despertando muita curiosidade e atenção, já com alguns números bem significativos para mostrar que deveria estar, pelo menos, no canto da tela dos radares dos CIOs. Recentemente, a Forbes publicou um texto muito bom sobre o assunto, “2015 Roundup of 3D Printing Market Forecast and Estimates”. Lendo o artigo, vê-se, por exemplo, que alguns analistas prevêem um mercado mundial de mais de 20 bilhões em 2020 (que está logo ali!). O Gartner aponta que, entre 2015 e 2018, a taxa de crescimento no seu uso será de 103% ano a ano. A PwC estima que 67% da indústria manufatureira americana já está usando ou experimentando impressoras 3D. Este relatório merece ser lido! A tecnologia ainda está evoluindo, mas as perspectivas são de a evolução seja rápida. A Siemens propõe que nos próximos cinco anos as impressoras 3D estarão 50% mais baratas e 400% mais rápidas.
As impressoras 3D já estão dando claros sinais que começam a sair do campo da experimentação para mudar ou criar modelos de negócio. Um exemplo é a estratégia dos Correios dos EUA (US Postal Service), que planeja usar seus centros de processamento de correspondências como hubs de impressão 3D. O relatório com sua estratégia pode ser visto aqui.
Essa tecnologia mostra que devemos ter uma visão muito mais estratégica do que um simples olhar de curiosidade tecnológica. Pode transformar uma cadeia logística, com uma rede de impressoras 3D distribuídas pelo mundo produzindo em cada local um determinado produto. A logística sai do deslocamento de produtos físicos para envio de arquivos digitais. Pode produzir peças e componentes de equipamentos que já saíram de linha de produção, mas que continuam operando. O próprio processo adotado por estas impressoras, manufatura aditiva, consome menos material (menos desperdício) que a manufatura subtrativa adotada hoje.
Onde já vemos sua utilização? Na fabricação de protótipos, acelerando os tempos e diminuindo sensivelmente os custos. Um verdadeiro achado nas mãos dos setores de P&D! A GE e a Ford são exemplo de empresas que já usam intensamente estas impressoras em seus esforços de prototipação. Vemos também na fabricação de produtos, os mais diversos possíveis. Que tal uma olhada no biquíni de nylon produzido pela ContinuumFashion? Totalmente produzido via impressoras 3D. Outra aplicação é que usando estas impressoras pode-se diminuir o número de peças de um determinado equipamento. Uma parcela das peças que eram feitas separadamente podem ser produzidas pelas impressoras 3D. A indústria aeronáutica está usando isso intensamente. Este artigo do Wall Street Journal, de 2012, já abordava o assunto, citando exemplos da Boeing e Pratt & Whitney.
E quanto ao material que pode ser usado como “tinta”? Cada vez mais se diversifica: polímeros, cerâmica, metais, vidro etc.
Como tudo isso afeta as empresas? E porque os CIOs devem se envolver? Estas impressoras tem um potencial de transformar industrias e modelos de negócio de forma significativa e se os CIOs querem estar na definição das estratégias de transformação digital de suas empresas, não podem ficar alheios a esta tecnologia.
Podemos pensar em diversos exemplos: uma indústria de máquinas de lavar envia um arquivo digital para seu cliente que imprime diretamente a peça em um centro de impressão 3D. O cliente não precisa esperar dias para a peça chegar na sua casa. Isto serve também para caríssimas peças de uma aeronave, que podem ser impressas em um centro de impressão em aeroportos. Olha ai os aeroportos gerando uma nova fonte de receitas! A UPS gerou um novo negócio com centros de impressão 3D espalhados pelos Estados Unidos. E por que não produzir brinquedos customizados em situações especiais, como a experiência da Toys “R” Us em Hong Kong? Vejam o caso aqui.
As impressoras potencializam a geração de novos negócios, mais focados em criação e design e sem necessidade de possuir linhas de produção. Como AirBnB é a maior rede de hospedagem sem ter um único hotel, podemos começar a ver indústrias sem fábricas.
Creio que não há duvidas que as impressoras 3D não são apenas curiosidades tecnológicas, mas que merecem atenção dos CIOs e executivos de negócio das empresas. Afetam indústrias existentes e criam novas. Podem afetar estratégias de criação de emprego de governos, uma vez que podem, em muitos casos, tornar irrelevante o fato de um país ter mão de obra barata. Por outro lado, geram novas oportunidades, com empregos mais focados na exploração do potencial da tecnologia como criação e design. É também necessário que a academia prepare profissionais para esta tecnologia. Nos EUA existem iniciativas como esta, de distribuir 35 mil impressoras 3D pelas escolas americanas para criarem as novas capacitações necessárias.
O futuro está chegando bem rápido. Muitas vezes, por pensarmos linearmente, imaginamos que ele será apenas um pouco diferente do que foi o ano passado ou dois anos atrás. Mas a evolução tecnológica é exponencial e em dois anos muda muita coisa. Basta lembrar que agora em abril foi o quinto aniversario do iPad, que afetou de forma dramática a indústria de desktops. Portanto, deixar as impressoras 3D para depois talvez não seja a forma mais adequada de lidar com as transformações que já estão chegando. Não será impossível o dia em que veremos os robôs entrando em greve porque seus empregos nas tradicionais fábricas estarão sendo eliminados por redes de impressoras 3D.