Gadgets

12 mai, 2011

[Review] Motorola Xoom: músculos de sobra, cérebro em desenvolvimento

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O primeiro tablet com Honeycomb no Brasil, o primeiro da Motorola e
possivelmente o verdadeiro concorrente do iPad 2. Essas são as
credenciais do Xoom. Mas o que ele realmente é, no dia a dia? Uma
criança de sete anos extremamente musculosa. Estranho? Entenda.

O Xoom é puro músculo: seu processador é um Tegra 2, da Nvidia de 1GHz,
sua memória é de 1GB. A versão testada – e que está sendo vendida –
tem 32GB de espaço interno, câmera traseira de 5MP e frontal de 2MP,
porta microHDMI e tela de 10,1 polegadas. Com tantos recursos, o precinho nada
humilde é de R$1.899 para o modelo Wi-Fi de 32GB. No papel, um monstro.
Mas e na vida real?

Hardware

Você deve se lembrar, não faz tanto tempo assim, de quando o Milestone
foi lançado. Enquanto o iPhone 3GS tinha linhas finas e sutis, o
primeiro e salvador Android da Motorola era como um grande robô
futurista – por isso o nome Droid nos EUA.

O mesmo acontece com o Xoom:
ele é parrudo, curvado na parte traseira e passa aquela sensação de
firmeza que você espera de um aparelho que irá com você frequentemente
para todos os cantos da casa.

O único problema é que 730 gramas (50g a mais do que o primeiro iPad e
129g a mais do que o segundo modelo) é muito para ficar segurando o
aparelho com uma só mão, como se fosse um livro.

A tela de 10,1 polegadas tem resolução de 800 por 1280 pixels e entrega
imagens dignas. Em alguns jogos ela se sai muito bem, mas em situações
cotidianas, como no browser, a tela não é exatamente empolgante.

Não
espere muito brilho, contraste ou ângulo de visão no nível do principal
concorrente ou dos vindouros tablets coreanos – ainda falta à Motorola uma tecnologia
de tela com nome impactante tipo Super AMOLED Plus.

O detalhe estranho
é que o display suja com extrema facilidade. Ok, isso pode ser comum
nos tablets, mas estamos falando de muitas marcas de dedo. E de uma
certa dificuldade para limpar tudo também – só a camiseta não basta.

As entradas são simples e ficam na parte inferior e superior do
aparelho (em modo paisagem). Porta micro HDMI (com cabo vendido
separadamente), microUSB e a entrada do carregador.

Um detalhe
negativo: o Xoom só é carregado pela tomada, com uma fonte não muito
pequena. Conectá-lo ao computador dá apenas acesso aos dados. No topo, a
entrada de fone de ouvido no padrão 3,5 milímetros.

Apesar de parecer simples criar um tablet – trata-se de uma tela
gigantesca, moldura e poucos botões, a Motorola não foi muito feliz no
posicionamento e na escolha dos materiais.

O botão de liga/desliga fica
na parte de trás do aparelho, ao lado da câmera. Em nossos testes com
pessoas que nunca viram o aparelho, a média era de 30 a 45 segundos para
encontrá-lo – elas procuram, obviamente, na frente e nas laterais. Já
os botões de aumentar e diminuir o volume ficam do lado esquerdo, no
topo, mas não tem a sensibilidade ideal.

Ao lado do estranho botão de liga/desliga, há um dos dois
alto-falantes. Com bom espaço entre eles e posicionamento inteligente, o
som do aparelho é acima da média para tablets. Para completar a
traseira, a câmera de 5 MP e seu flash.

Bateria

Ao contrário de sua versão para smartphones, o Android Honeycomb parece
saber lidar com bateria. Isso pode ter a ver, na verdade, com o maior
espaço para baterias mais poderosas na parte interna do aparelho.

O Xoom
marcou bons números em nossos testes: 9 horas e 21 minutos de exibição
de vídeo com brilho em 75%. E, é claro, há a comodidade de não precisar
desligá-lo de fato.

Como boa parte dos usuários utiliza os tablets de
noite, após passar boa parte do dia na frente do PC, é possível dizer
que o Xoom só precisa ir à tomada lá pelo terceiro ou quarto dia. É o
trunfo dos tablets em relação aos notebooks. E o tablet da Motorola vai
bem no quesito.

Câmeras

Antes de tudo, vamos ser muito sinceros: apontar um tablet de 10
polegadas com quase 25 centímetros de largura e 16 de altura para
fotografar ainda é algo é muito estranho. Quiçá bizarro. Não é o tipo de
ação que você fará com frequência, e talvez as futuras versões possam
até não dar muita bola à função, deixando só a câmera frontal para
vídeochamadas. Ela é notadamente melhor que a do iPad 2 e possivelmente
melhor do que a do vindouro Galaxy Tab, mas nada para ficar muito
orgulhoso.

Tradicionalismos à parte, a câmera do Xoom é o que você pode esperar
de uma câmera de qualquer smartphone da Motorola: imagens com cores
fracas e ruídos excessivos em fotografias noturnas e resultados
minimamente satisfatórios de dia.

A qualidade de vídeo, em 720p, também não empolga. Confira o vídeo de teste que fizemos com a câmera traseira do Xoom. 

A câmera frontal, com 2 MP, faz o trabalho necessário para vídeochamadas
e tira fotos boas para os mais ególatras. A qualidade da imagem em
conversas pelo Gtalk são dignas e lembram os bons tempos de webcam –
agora com mais chacoalhões e imagens vertiginosas: conversar com alguém
com webcam de tablet lembra assistir a um filme tipo Bruxa de Blair, já
que a base não é fixa.

Software

Deixando os músculos de lado, hora de entender porque o Xoom está em
processo de desenvolvimento de cérebro. O motivo, claro, é o Android
3.0. O sistema ainda é cru.

Isso se traduz em aplicativos fechando com
frequência sem motivo aparente – às vezes avisando o usuários, às vezes
simplesmente voltando para a tela inicial, além de momentos de lentidão que
obrigam a reiniciar o aparelho.

A sensação, em geral, é de que o Honeycomb ainda não está pronto. Ele
ainda parece uma versão para smartphones com algumas adições, como a
barra de status, que dissecaremos em breve.

Por exemplo: cada tela
suporta 56 pequenos ícones de aplicativos, os mesmos dos smartphones. Quem quer sujar tanto uma tela a ponto de colocar mais de 50 apps
por página? Com cinco telas, dá para colocar 280 ícones. Desorganização
para os mais novos e inutilização para pessoas mais velhas.

Você pode argumentar que esse espaço será explorado por widgets. Talvez,
mas pelo menos não por enquanto. São poucos os aplicativos que utilizam
widgets inteligentes nas 10 polegadas – tirando as opções do Google,
apenas o app da CNN tem um widget grande e interativo. Neste momento,
não há o que colocar nas cinco páginas iniciais, a não ser um mar de
ícones de aplicativos.

Há também um sério problema para o sistema como um todo: a transição
entre as telas, entre apps pesados e leves, não é extremamente fluida.
Não é exatamente ruim ou lenta, mas falta aquela sensação
imediata que esperaríamos de um processador dual-core – ou simplesmente
porque estamos acostumados a isso no tablet da Apple.

Mudar a posição de
paisagem para retrato não é instantâneo. E isso nos deixa muito
intrigados. Veja bem, o Xoom tem configuração digna de um notebook mas
não consegue rodar com maciez total o sistema do Google? O Honeycomb é
tão pesado assim? Parece que sim.

Mas existem bons e inteligentes pontos. A grande sacada com futuro é a barra de status. Na parte debaixo da tela, há sempre
a barra de status principal, lembrando que você tem como sair de
qualquer app – e de que você está em um sistema que se parece mais um PC
do que um tablet. E a barrinha é inteligente.

Na lateral esquerda, há
sempre três ícones, os substitutos dos botões capacitivos dos
smartphones com Android: o primeiro equivale ao “voltar”, o segundo é o
“home” e o terceiro é o multitarefa.

O multitarefa exibe os últimos cinco aplicativos abertos pelo usuário em
janelas, com o ícone do processo por cima. Apesar de prático –  é bom
ler sobre um app na internet e cair no Android Market em dois toques, ele é limitado aos cinco últimos apps.

Do lado direito, o horário, a bateria e a conexão Wi-Fi ficam
constantemente exibidos. O espaço vazio ao lado é preenchido com
avisos de apps diversos, como novo e-mail no Gmail, conversa no Gtalk,
menções no Twitter, música tocando ou novas notícias no Pulse.

Clicar no
horário e no pequeno ícone no canto abre uma paleta prática de
configurações básicas como bloqueio de orientação, modo avião, brilho
de tela etc.

Aplicativos

Apesar de toda a imaturidade do Honeycomb em si, é na hora da influência
dos terceiros que a situação fica complicadíssima para o sistema. O
Google fez de tudo para desenhar apps que usam e abusam da tela grande, e
fez isso muito bem: Gtalk, Gmail, YouTube, Agenda, Earth, Sky Map e
Mapas brilham sem sofrimento, utlizando colunas, ícones grandes e
gráficos ideais para dez polegadas.

O único que chega a irritar, apesar
de bonito, é o Android Market, que só funciona em modo paisagem. Se sua
vida depende completamente de sua conta no Google, os apps são
realmente interessantes.

O problema é que, por enquanto, só o Google fez isso. E ter o aplicativo
de e-mail como seu favorito em um tablet é um caso bem sério. Ele é
legal e tudo, mas ele é mais bonito, rápido e eficiente em um netbook
que custa metade do preço.

No lançamento do segundo iPad, Steve Jobs foi agressivo com a
concorrência e disse que, enquanto o iPad surfava com mais de 75 mil
apps, o Android Honeycomb tinha apenas 100 apps (no dia de
lançamento, o iPad já tinha 3 mil ao menos adaptados). Jobs foi bonzinho
demais com o Google. Temos dúvidas se existem 50 apps efetivamente
criados para o sistema.

Buscar por apps novos de Honeycomb é aflitivo. Não há no Market uma
divisão clara de apps adaptados para a tela grande, e buscas no Google
retornam para matérias de fevereiro.

As listas recentes de melhores
aplicativos remetem aos mesmos do início do ano. Os lançamentos não são
frequentes. E os desenvolvedores, por incrível que pareça, não
demonstram muita empolgação.

Já as otimizações estão acontecendo aos poucos. O Kindle
é um bom exemplo: quando recebemos o aparelho, o app da Amazon exibia
os livros em listas, como em smartphones. Dias depois, uma atualização
específica para tablets passou a exibir os livros em uma estante
virtual.

É claro que a maior parte dos apps para Android rodam de
maneira “esticada” melhor que na concorrência, mas, em geral,
aplicativos como o NYT, Twitter e Facebook continuam exibindo listas de
informações como se estivessem em smartphones, com poucas imagens e
excesso de texto enfileirado.

Os poucos apps que usam efetivamente a tela toda mostram o potencial da plataforma. O Read It Later Pro, que salva textos para leitura offline e os adapta à tela (como o Instapaper para o iPad), funciona muito bem.

O Pulse,
agregador de feeds de RSS, exibe notícias de forma gráfica, juntando
também links de seu Facebook, e o resultado é bonito (mas não chega a
ser um Flipboard).

O Comics, da Comixology, é uma boa solução para comprar quadrinhos, e o PerfectViewer
ajuda na visualização de PDFs – apesar do formato widescreen não ser o
ideal. O app da CNN e do USA Today são belos mas, na melhor das
hipóteses, são apenas transposições dos apps de iPad.

Na parte de jogos, a reação de meu primo de 12 anos após alguns cliques
resume a situação: “só tem isso de joguinho?”. Bem, sim, só tem isso.
Por “só isso”, leia-se alguns jogos que utilizam o Tegra (Samurai II: Vengeance THD, Fruit Ninja THD, Monster Madness), Dungeon Defenders, Angry Birds e versões otmizadas de Tank Hero e Robo Defense.

Ainda é pouco, mas a Nvidia promete lançar vários jogos que abusam do
Tegra 2 nos próximos meses. Por enquanto, ainda é difícil se divertir no
Honeycomb.

Música e Vídeo

Como os outros apps do Google, o aplicativo de música para Android 3.0
recebeu um belo tapa no design e ficou bem mais atraente. Os álbuns são
exibidos em uma espécie de “cover flow” e os CDs sem capa ganham uma
versão genérica bem digna, para não deixar o app feio.

Há alguns
controles básicos de áudio, mas o aplicativo é simples e direto: música
exibida de forma prática.

Já na parte de vídeo, o Xoom derrapa feio. A Motorola promete exibição de vídeos em 1080p, mas como bem frisou
o camarada Henrique, só se for via HDMI em um asterisco que não
encontramos.

Na tela do aparelho, você precisa de apps de terceiros para
abrir formatos como .mkv e o resultado é pavoroso, com imagens
congeladas, travadas e áudio não sincronizado. Mesmo em arquivos AVI o
resultado não foi tão bom.

Estranhamente, se você conectar o HDMI à TV,
um vídeo em mkv de 720p já toca muito bem. Mas na tela do aparelho? Sem
chance. Aqui, o Google terá que trabalhar muito nas próximas
atualizações ou estimular desenvolvedores de apps de nicho.

Navegador

Eis o grande trunfo do Xoom e do Android 3.0: o navegador nativo do sistema é extremamente completo. Por ora esqueçamos de vez o Flash para Android, já está claro que ele ainda não está pronto e não pode ser em momento
algum fator decisivo de compra.

Com ele desligado, o browser flui muito
bem, busca no Google direto pela barra, mostra histórico e sugestões
com velocidade e consegue abrir até 16 abas, tudo no melhor estilo do
Chrome.

Mas é irônico pensar que o navegador mais completo de tablets ainda
seja reconhecido como “smartphone” por quase todos os sites, que exibem
inicialmente a versão móvel da página. Ainda não há páginas otimizadas
especificamente para Android, como acontece no iPad, e o usuário precisa
mudar a chave para “navegação completa” na mão.

Há também uma certa dificuldade de leitura com o tablet em posição
retrato, mas dada a posição do botão de liga/desliga e do nome da
fabricante na horizontal, parece claro que o Xoom foi feito para ser
utilizado em formato paisagem, para aproveitar sua tela widescreen.

Conclusão

Preto no branco. É fácil entender o Xoom assim como será fácil entender os
novos Galaxy Tab, o Optimus Pad da LG, entre outros. O hardware já
está em alto nível e consegue fazer tudo com consumo de bateria
decente. Por dentro, com Tegra 2 e memória de netbook, as máquinas estão
prontas. Mas isso por enquanto não quer dizer nada.

Já dissemos aqui no review do iPad
que ainda não é muito trivial justificar a compra de um tablet de
maneira racional. Se você fosse uma adolescente e falasse “Pai, me dá aí
R$ 1.800 para comprar um tablet?” e ele falasse “Por que você precisa
de um?”, seria difícil convencer o velho.

Apesar de ser vendido como
mais “capaz” do que o concorrente da Apple, nada do que o Xoom faz não
pode ser feito em um netbook (mais barato) em termos de produtividade.

Em outras tarefas essenciais, um smartphone com tela de 4 polegadas para
cima (mesmo preço, e ainda telefona) manda melhor em fotos, GPS,
interação com redes sociais e checagem de e-mail, por exemplo.

E para tarefas não-essenciais, o deserto de apps faz com que ele
perca muitos pontos. Faltam os 10 mil jogos, apps para criação (iMovie, Garageband, programas para ilustração), livros infantis ou
animados, enciclopédias, revistas.

Aliás, qualquer coisa que você queira
ler nele sofre com o fato de o Xoom não ter a proporção 4×3 – ficam
faixas pretas na parte de cima e de baixo. Mesmo a visualização de
vídeo, talvez única área que realmente tomaria benefício da proporção
Widescreen, sofre com a falta de suporte a padrões importantes, ou
performance em geral.

E há, é claro, o Honeycomb. O sistema do Google para tablets irrita
em situações cotidianas por seu excesso de travadas, e o cenário de
aplicativos não é nada empolgante em seus primeiros meses – situação que
o iPad não passou e foi um dos fatores cruciais de seu sucesso em tão
pouco tempo.

Por ser um sistema cru, o Android 3.0 remete às primeiras
versões do Android, que receberam várias atualizações em pouquíssimo
tempo, melhoraram muito, mas criaram um tipo de dor de cabeça que os
usuários não conheciam: o caos das atualizações, que envolve Google,
fabricantes e operadoras. Apesar de estar em sua versão sem
modificações, será que teremos o mesmo problema no universo dos tablets?

Apesar da expectativa em torno dos verdadeiros concorrentes do iPad –
e agora do iPad 2, vemos pouquíssimos cenários que justifiquem a
compra de um tablet com Honeycomb agora. E mesmo se você quiser muito um
tablet, mas odeia Steve Jobs, a maçã etc. e tal, escute nosso conselho:
é melhor esperar.

Se você tem dinheiro sobrando e é um fã incondicional
do robô, vá em frente por conta e risco. Mas saiba que comprar o Xoom
hoje é mais um exercício de fé do que qualquer coisa: fé que o Google
atualizará rapidamente, que os desenvolvedores entregarão apps
específicos, que o Flash será atualizado com aceleração de hardware… No
fim você terá um hardware bem decente, mas a verdade pura e simples é
que o Android para tablets ainda é um produto inacabado.

Fotos e agradecimentos: Flávio Oota