DevSecOps

8 abr, 2014

O futuro do mobile: menos fone, mais sistema operacional

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Já passamos do final do primeiro trimestre, e ainda ecoam as notícias do “World Mobile Congress” de Barcelona: uma nova geração de smartphones traz avanços de hardware e software que vão revolucionar a forma como nos comunicamos.

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Será mesmo? E se o Galaxy S5, a novidade mais comentada, for apenas tão bom quanto a versão atual, o S4, para 99% das suas necessidades? Afinal, já ficou claro que o chip de 64 bits “revolucionário” que a Apple introduziu com o iPhone 5S gerou no máximo 1% de real valor para 99% dos usuários.

O iOS7, que também veio com o iPhone 5S, foi na verdade a desculpa que eu estava esperando para mudar totalmente e passar a usar um smartphone com Android. Fiquei bastante incomodado ano passado ao ouvir a ladainha marqueteira da Apple repetida à exaustão pelos fãs, e por isso fiz a transição. Basta assistir a três dos vídeos de apresentação do iOS para ver a mesma “formuleta” sendo repetida. Justiça seja feita, a introdução de suporte para iBeacons realmente tem um potencial bacana para transformar a nossa relação com o mundo físico, mas, fora isso, a Apple só correu atrás do prejuízo e redesenhou o sistema operacional para que ele parecesse moderno novamente. Muitas ideias foram, inclusive, copiadas do Android – talvez por isso quase todos os fiéis usuários de iPhone tiveram que se adaptar a algumas mudanças trazidas.

Minha tese é que a inovação em smartphones estagnou. Eles poderiam se tornar menores, mas agora parece que todo mundo quer um com tela grande. E parece que é muito cedo para que um formato totalmente radical de smartphone consiga quebrar os paradigmas que a Apple criou em 2007. Acredito que a evolução dos “wearables” será a chave para uma transformação de nossos “celulares”, mas vai levar tempo. Isso dito, quais seriam as inovações possíveis a curto prazo?

Apenas software poderá trazer inovações radicais para smartphones. Rodando nos aparelhos e na nuvem, principalmente na nuvem, o software fará o aparelho reagir de acordo com as necessidades do usuário, em contexto. Contexto será tão importante nos próximos anos que a indústria vai provavelmente batizar a próxima geração de smartphones de “computadores contextuais”. As aplicações rodando nesses aparelhos, assim como seus sistemas operacionais, serão preditivas e adaptáveis, isto é, se anteciparão e se adaptarão a você e às suas necessidades em tempo real.

Eu esperava que a Apple, com o iOS 7, desse um passo determinante nesse sentido, reinventando a forma como encontramos as apps no iPhone. Depois de sete anos de evoluções, é inadmissível que tenhamos que ficar procurando as apps nas prateleiras virtuais distribuídas em um monte de páginas! Quem tem mais de 100 apps instaladas é um verdadeiro sofredor, pois as pastas não ajudam em nada a organizar a bagunça. Se uma app em um smartphone não é encontrada e aberta em alguns segundos, ela não é útil o suficiente. No Android, apesar de algumas pessoas discordarem, a situação não é muito diferente: os tais dos “widgets” ajudam, mas não resolvem. A minha impressão é de que Apple e Google temem mudar muito a interface e encontrarem resistência dos usuários. O caso do Windows Phone é um sinal disso.

Muitos de nós já usamos smartphones há vários anos. Tudo o que fazemos com eles pode, em tese, ser observado e analisado. As donas do sistema operacional móvel (Apple, Google, Microsoft e outros) poderiam saber mais sobre o comportamento humano do que qualquer outra empresa na história da humanidade. O Facebook, considerado um manancial de dados sobre o consumidor, é só uma das apps que você usa. Mas, apesar desse potencial enorme, vemos muito pouca pesquisa sendo realizada e quase nenhuma alteração no iOS6, Android ou Windows Phone que aponte para descobertas. Se você está preocupado com problemas de privacidade, saiba que é possível coletar dados e analisar padrões sem infringir direitos individuais. Um sistema operacional móvel adaptável faria a coleta de dados e as análises sem conectar dados privados à sua identidade online.

Parece muito complexo? Pense no seu caso: tirando uma ou outra app ocasional que você baixou porque viu um colega usando, sua relação com seu smartphone tem muito menos variabilidade do que você imagina. Diariamente, você usa um percentual muito pequeno das apps que tem instaladas e das capacidades do aparelho. E, como todo ser humano, você repete hábitos diários e semanais. Mesmo as mudanças nesses hábitos podem ser interpretadas analisando o contexto via dados públicos, como previsão do tempo, feriados ou localização geográfica.

Um sistema operacional móvel adaptável é aquele que aprende sobre o comportamento do usuário: suas preferências no sistema, os lugares onde ele tira o smartphone do bolso e o que faz, como faz, por quanto tempo faz. O comportamento de um número enorme de usuários é comparado (big data) para encontrar padrões comuns. Com isso, é possível que num determinado instante o sistema operacional adaptável se antecipe e ofereça algo que provavelmente você iria mesmo precisar – como chegar no cinema e já receber via push notification o ingresso, ou ir à academia e já ver a sua app favorita rodando e a playlist com músicas que você curte só esperando o play. Pode acontecer de o sistema não acertar e você receber uma sugestão que não queria, talvez pela hora do dia ou o lugar onde você está. Mas ao não aceitar a sugestão e fazer outra coisa você ensina o celular sobre mais uma característica sua.

A app Aviate, um launcher para Android cuja empresa foi comprada pelo Yahoo!, tenta implementar um pouco do que descrevi, mas ainda está em um estágio bem básico. Ela usa a sua localização e a hora do dia para mostrar “espaços” diferentes onde você pode ver informações em contexto e apps que normalmente usa. Eu tenho usado e me ajuda a trazer um pouco de ordem ao caos, mas a app falha em aprender sobre meu comportamento com uso contínuo. Na minha opinião, se Aviate tivesse sido comprada pelo Google teria sido melhor para a empresa, afinal o Google está evoluindo muito no terreno de inteligência artificial. Aviate e Google Now formariam um par poderoso. Mesmo assim, Aviate é uma grande inspiração para o futuro dos sistemas operacionais móveis adaptáveis.

E, por falar em Google, há poucas semanas foi lançado o Android Wear, uma “versão” do Android que promete trazer ordem para um outro conhecido caos, o de wearables. Veja pelo vídeo abaixo que a promessa do Android Wear é justamente trazer informação relevante a você, em contexto. É um Google Now que você carrega no pulso e que está sempre ligado.

Nossas vidas serão facilitadas por um conjunto enorme de aplicações rodando em vários dispositivos, com diferentes sensores que coletam dados sobre nós em tempo real. Esqueça o Big Brother, teremos é um Big Brain nos ajudando a tirar o melhor proveito da tecnologia, um Big Brain que nos conhece com o tempo e nos surpreende com aquilo que ainda não sabíamos sobre nós mesmos.

Não estou escrevendo sobre uma ideia futurística. Já estamos vivendo o nascimento de um tempo em que a tecnologia nunca é desligada e se torna onipresente como uma teia de suporte para tudo o que fazemos, nos motivando a viver uma vida melhor.