DevSecOps

16 jan, 2015

De onde vêm as melhores ideias de negócios digitais?

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Este texto foi originalmente publicado pela Exame.com em 17/11. Confira aqui.

No seu livro “O Dilema da Inovação”, Clayton Christensen categorizou três tipos de inovação: a que ele chamou de “melhorias de performance”, que substitui antigos produtos por modelos novos e melhores; as “inovações de eficiência”, que faz com que produtos já estabelecidos sejam vendidos melhores e por maiores preços; e, por fim, as inovações “market-creating”, que transformam produtos caros e complicados tão radicalmente que acaba criando uma nova classe de consumidores, ou um novo mercado. A partir dessas definições e dos principais cases de sucesso na área de tecnologia, podemos fazer algumas hipóteses sobre de onde vem a inovação, organizadas livremente em escolas de pensamento:

  1. Emocional, de Marty Cagan: o criador do Silicon Valley Product Group chamou seu livro de “Inspired: How to develop products costumers love”, ou seja, “como desenvolver produtos que as pessoas amam”. De acordo com ele, as pessoas irritadas definem o futuro da tecnologia. Quanto maior o nível de raiva ou frustração que o setor causa ao cliente (como telecom, bancos, burocracia, empresas aéreas, planos de saúde etc), maior a chance de sucesso do produto que resolva esses problemas.

inspired

  1. Mecanicista, de Steve Blank: o foco do pesquisador norte-americano está na startups e, neste contexto, ele diz que a inovação não é apenas implementar uma ideia criativa, mas procurar uma forma de transformar algum aspecto da ideia em alguma coisa que os consumidores querem tanto que pagariam para ter. Para ele, portanto, a ideia é irrelevante. Blank traz uma visão de empirismo extremo, na qual existe um processo sistemático de experimentos e validação de hipóteses que fará com que você chegue a alguma coisa de sucesso, se você estiver em um mercado suficientemente grande. O problema é que você pode ficar sem dinheiro antes de terminar esta trajetória e chegar na validação do seu modelo de negócio. Para atacar este tema, Eric Ries trouxe o movimento Lean (traduzido como enxuto) para estender o trabalho de Blank. A ideia é que você deve ser o mais enxuto possível para ser eficiente nesta busca e conseguir chegar ao ajuste produto x mercado antes que o dinheiro acabe.
  1. Financeira, de Steve Denning: se apoiando no trabalho de Christensen, Denning afirma que a raiz do problema da falta de inovação de mercado é que as variáveis pelas quais os executivos são avaliados são relacionadas a lucros de curto prazo, e não sobre ROIC ou ROA (Retorno sobre Capital Investido e Retorno sobre Ativos). Para o autor, a falta de inovação é uma interpretação errada do papel da firma, que causa foco no curto prazo. A falta de atenção no longo prazo fez com que o retorno médio sobre ativos de 1965 a 2009 em toda economia americana caísse de aproximadamente 7% para 1,3% (segundo o índice Shift da Delloite). A falta de inovação de mercado e a busca de ganhos de curto prazo faz com que se precise de cinco vezes mais capital para ter o mesmo retorno financeiro. Se medimos a coisa errada, induzimos o comportamento errado e temos o resultado errado.
  1. Cultural, de Mark Zuckerberg: quando dizemos que o Facebook tem uma “Cultura de Hacking” a ideia não é que os funcionários ficam invadindo sistemas para se divertir. Hackear um sistema, segundo o Facebook, é entender a diferença entre realidade percebida – ou o que as pessoas acham que são as regras – e a realidade – as regras reais que explicam o sistema. Neste contexto, a inovação aparece quando você hackeia o sistema e faz produtos que entrem nessa brecha. No prospecto do IPO do Facebook, o próprio Zuckerberg definiu o “Hacker Way” como construir algo rápido ou testar os limites do que pode ser feito (“hacking just means building something quickly or testing the boundaries of what can be done”).

facebook

  1. Dinâmica, de Eric Schmidt: no livro “Como o Google Funciona”, o fundador da gigante junta dois fatores para a inovação: a busca por mudança com o uso de talento criativo. Em um mundo no qual as mudanças são cada vez mais numerosas e rápidas, as inovações vêm das próprias pessoas, que o Google chama de “smart creatives”, ou talento criativo. Para esta escola, o problema das empresas atuais é querer minimizar riscos ao invés de maximizar a liberdade e a velocidade. A única forma de inovar, segundo Schmidt, é atrair talentos criativos e criar um ambiente no qual eles possam prosperar com escalabilidade. Para eles, a inovação não pode ser apropriada ou determinada, mas permitida.
  1. Radical, de Peter Thiel e Elon Musk, integrantes da “Máfia do PayPal”: para Thiel, um negócio inovador deve responder a sete questões: “você tem uma tecnologia que é um avanço?”; “seu “timing” está certo?”; “alguém mais faz isso?”; “você tem as pessoas certas?”; “você pode vender seu produto?”; “seu produto ainda estará disponível em dez anos?”; e, por fim, “você sabe de algo que ninguém mais sabe?”. Segundo eles, quanto mais respostas para essas sete perguntas o seu negócio tiver, mais chance de sucesso ele tem. Mas se você não consegue responder a maior parte das dúvidas, a maior chance é de fracasso.

Para terminar, destaco que as “escolas de pensamento” foram livremente criadas por mim, não há nenhum documento que as classifique como tal. Também é importante dizer que inovação em startups é um problema diferente de inovação em uma empresa estabelecida. Entretanto, precisamos observar como grandes nomes do mercado enxergam a questão de inovação e ideias no setor de tecnologia, e a simples reflexão de todos esses pensamentos pode ajudar, e muito, você a encontrar seu próprio caminho.