DevSecOps

1 fev, 2007

A Importância dos Processos em TI

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Muitas vezes subestimamos a importância dos processos dentro das organizações, descrevendo-os como um mero instrumento burocrático, criado com o intuito de controlar o que cada profissional está fazendo, limitando o talento de nossos profissionais de TI, levando-os gradualmente à perda da capacidade de criar e inovar em situações de adversidades.

Na verdade, processos existem porque representam a experiência acumulada de décadas de trabalho, organizadas por empresas e profissionais que compilaram as melhores práticas para lidar mais pró-ativamente com os riscos inerentes à execução dos mais variados serviços de TI, incorporando mecanismos de controle que reduzem o nível de erros dos profissionais, levando-os de forma mais segura à finalização dos trabalhos.

Os processos possibilitam que os serviços de TI sejam impessoais, ou seja, independente de quem executará os trabalhos, serão realizados as mesmas atividades, avaliados os mesmos parâmetros, produzidos os mesmos artefatos, gerenciados pelo mesmo conjunto de indicadores. Com este nível de padronização dos trabalhos, os projetos tornam-se mais previsíveis, possibilitando que riscos sejam monitorados e mitigados com alto grau de precisão e controle.

Sem um processo formalmente estabelecido, os profissionais buscariam caminhos diferentes para realizar as mesmas atividades, trazendo mais variáveis e incertezas no projeto, aumentando os consideravelmente os riscos de insucesso. Nestas condições, a simples troca de um profissional pode desestabilizar toda uma cadeia de serviços TI, demonstrando a fragilidade de todo o modelo operacional que a organização está submetida.

Os processos foram modelados para conduzirem os profissionais ao caminho mais controlado e seguro, possibilitando que qualquer membro da organização, com perfil e treinamento adequado, possam atender continuamente os projetos e manter os níveis de serviços dentro de uma variabilidade aceitável.

Os processos não podem ser estáticos e devem ser gradualmente aprimorados pela organização, à medida que a condução de novos projetos revelem deficiências operacionais que deveriam ser minimizadas, evitando gerar fontes de instabilidade e incertezas futuras.

Uma empresa busca a definição de processos corporativos, de forma a garantir que todo sua estrutura operacional esteja baseada num único modelo de trabalho, não em ilhas isoladas de organização. A adoção de padrões corporativos garante que uma determinada inovação ou aperfeiçoamento metodológico seja aplicado em todas unidades operacionais, viabilizando a melhoria contínua no longo prazo.

Portanto, a formalização de processos dentro das estruturas da TI devem ser encarados como uma estratégia para gerenciamento de serviços cada vez mais segmentada e complexa. Não é por acaso que a busca pela adequação por modelos como CMM-I, focam explicitamente na formalização dos processos que, muitas vezes, são atropelados pela correria do dia a dia.

O legado das “Software Houses”

A maioria dos profissionais de TI não gostam de seguir padrões e nem trabalhar apoiados em processos ou modelos de trabalho. Uma das desculpas mais comuns é comparar a construção de software como uma obra de arte, impossível de ser gerenciada sob risco de penalisar a criatividade da equipe e prejudicar a qualidade das entregas. A verdade é que criar software é um serviço que deve ser entregue como um outro qualquer, respeitando o escopo, prazos, custos e qualidade combinadas em contrato.

Esta visão artística sobre a área de TI foi criada no final dos anos 80, quando iniciou-se o down-sizing corporativo, onde investimentos em grandes equipamentos e infra-estrutura, geralmente oferecidos por grandes e robustas corporações, foram gradativamente substituídos por serviços e tecnologias mais simples e baratas, viabilizando a entrada de pequenas consultorias, chamadas na época de “Software Houses”, pois os empresários alugavam casas comuns como local de trabalho de seus profissionais.

Estas pequenas consultorias prestavam serviços baseados em horas de trabalho, possuiam pouco ou nenhum controle operacional e focavam exclusivamente no domínio da tecnologia. Entender a complexidade tecnológica era suficiente para gerar respostas rápidas sem a necessidade de construir modelos de trabalho. O controle operacional era entendido como uma burocratização desnecessária, que comprometeria os rápidos índices de atendimento obtidos nestas novas condições. Neste novo modelo, os serviços de TI eram rapidamente entregues e novos sistemas eram produzidos com grande agilidade. Tudo era produzido com o mínimo de formalização.

Já no início da década de 90, com o sucesso deste modelo, houve um inevitável direcionamento nos investimentos em tecnologias baseadas na chamada baixa-plataforma, possibilitando o fortalecimento e mutiplicação de novas e maiores “Software Houses”. As consultorias mais bem sucedidas e que atraiam os maiores investimentos eram aquelas que atendiam mais rapidamente seus Clientes, ao custo mais baixo possível.

A consolidação deste modelo de serviço, baseado no rápido atendimento com custos baixos tornou-se um padrão de referência das organizações na hora de contratar projetos de TI, gerando uma forte cultura negativa sobre processos e controles operacionais que encontram-se enraizados em nossos profissionais até hoje.

Neste período, as consultorias buscavam profissionais estritamente técnicos, para que as tecnologias emergentes fossem adequadamete absorvidas e rapidamente implementadas nos Clientes ao menor custo possível. Conhecimentos sobre engenharia de software e definição de processsos corporativos eram totalmente desnecessários naquele modelo.

As tecnologias referentes aos Sistemas Operacionais, Bancos de Dados, Ferramentas de Desenvolvimento, Redes e Infra-Estrutura Corporativa davam grandes saltos tecnológicos que refletiam consideravelmente no aumento de performance, controle e qualidade nos serviços executados, possibilitando ganhos significativos pela simples adoção destas tecnologias.

Transição para as “Fábricas de Software”

Ao longo da década de 90, tecnologias inovadoras foram disponibilizadas, gerando novas oportunidades de negócios que alavancaram receitas e reduziram custos operacionais, impactando diretamente nos resultados financeiros das organizações.

Aproveitar novas tecnologias para gerar novos ganhos financeiros tornou-se um fator decisivo para manter as organizações competitivas e altamente rentáveis. Sair na frente, significaria mais tempo para abordar novos mercados e obter ganhos em serviços ainda não explorados.

Neste novo cenário, a área de TI tornou-se uma das principais estratégias para garantir que a organização mantenha seu nível de competitividade, acompanhando ou antecipando tendências de mercado que poderiam ser exploradas de forma mais rápida e eficente que sua concorrência.

A complexidade dos ambientes TI trouxeram uma grande quantidade de empresas que dominavam tecnologias diferentes (Banco de Dados, Intranets, Servidores, Desenvolvimento, MainFrame, Segurança, WorkFlows, Wireless, CRM, BI, ERP), aumentando a complexidade do gerenciamento dos projetos pela grande interação entre empresas.

No final da década de 90, as pequenas consultorias já estavam sendo substituídas por médias e grandes coporações, capazes de atender um grande volume de serviços simultaneamente, sem provocar riscos de interrupção nos serviços. O modelo de “Software Houses” já não atendia mais as necessidades dos Clientes, que buscavam estruturas maiores e mais diversificadas.

Porém, a simples decisão de concentrar o volume de serviços em poucos fornecedores não ajudou na busca em atender mais demandas de negócios em prazos cada vez mais curtos. Na verdade, a concentração de serviços reduziu a competição interna dos fornecedores, criando um obstáculo adicional na busca desta agilidade operacional.

A diversidade dos cenários de negócios, combinadas com a crescente necessidade de integração dos diversos ambientes tecnológicos, migraram as restrições de produtividade do domínio da tecnologia para o controle operacional. As consultorias mais bem sucedidas seriam aquelas que atendessem mais rapidamente seus Clientes, suportados por controles operacionais mais rigorosos.

As tecnologias referentes ao desenvolvimento de software já estavam mais amadurecidas e não mais proporcionavam ganhos tão expressivos quanto no passado, sobrando espaço para os aprimorar os processos de gerenciamento e execução dos serviços TI, fortemente negligenciados na década de 90.

O segredo da agilidade organizacional não estava mais no domínio das tecnologias, mas na formatação de processos que permitiriam os profissionais gerenciarem uma grande quantidade de complexidades e garantir a execução dos serviços. As empresas de tecnologia então buscaram novos modelos capazes de suportar grandes volumes de trabalhos com alta grau de precisão e controle.

Deu-se então o início da era das Fábricas de Software, onde os modelos industriais começaram a ser adotados como referência direta das estruturas corporativas TI, enterrando definitivamente a visão poética dos projetos de tecnologia.

Neste modelo, o processo que conduz os serviços tornou-se tão importante quanto as próprias entregas estabelecidas, abandonando a visão simples da seleção pelo custo do serviço e adotando avaliações de análise de valor agregado nos processos do fornecedor.

Entendendo a resistência das lideranças

Todos os profissionais experientes, com mais de 10 anos de TI, acompanharam a criação das consultorias que cresceram e organizaram-se baseadas na visão das “Software Houses”, onde os projetos tinham relativa complexidade, forte domínio tecnológico e pouco controle operacional.

Muitos líderes de TI, (gerentes, diretores e empresários) obtiveram sucesso profissional seguindo modelos que valorizaram apenas a execução dos serviços, sem preocupar-se com a padronização de trabalhos e à formalização de processos corporativos.

Mesmo atuando hoje em grandes corporações, com projetos envolvendo milhões de reais, dezenas de profissionais envolvidos e um grande volume de requisitos a serem gerenciados, estas lideranças conduzem seus projetos empregando estratégias não mais compatíveis com a realidade atual.

Na verdade, estes líderes de TI foram promovidos pelo profundo conhecimento tecnológico sobre os sistemas existentes ou pela larga visão de negócios que ele adquiriu ao longo de toda carreira. Infelizmente, nenhum destes conhecimentos serão pré-requisitos para transformar as áreas TI em verdadeiras Fábricas de Software, pois trata-se de uma expertise voltada aos processos de engenharia de software, muitas vezes desconhecidas por estes profissionais.

Eles não conseguiram adaptar-se às novas tendências metodológicas e dificultam a implantação de processos que visam estabelecer padrões de trabalhos. Alegam que os processos não foram construídos para a sua realidade e adiam continuamente o momento para implementá-las na organização. Invariavelmente culpa a falta de investimentos em capacitação e ferramentas, mesmo que muitas organizações gastem centenas de horas com consultorias e muitas tenham adquirido softwares que permanecem sub-utilizados pelas equipes.

Podemos facilmente observar este comportamento nas organizações que buscam adequar-se à modelos e certificações internacionais, onde ocorrem continuamente trabalhos de formalização e implantação de processos. Enquanto algumas organizações conseguem rapidamente estabelecer padrões de trabalho e alcançar a certificação, outras arrastam-se por anos e não conseguem atender todas as exigências.

Invariavelmente, o insucesso destes projetos deve-se pelo baixo comprometimento das lideranças em querer efetivar os processos de trabalho, gerando influência negativa para os demais profissionais de TI, que entendem os sinais e acabam negligenciando os procedimentos estabelecidos para garantir a correta e adequada implantação da formalização dos processos.

Entendendo a resistência dos profissionais

Quando abordamos os profissionais de TI, é consenso demonstrarem muito incômodo com a falta de organização e controle dos projetos que participam, onde regras são continuamente quebradas por suas lideranças, pela incapacidade em planejar adequadamente as demandas de trabalho.

Porém, profissionais evitam os processos e práticas estabelecidas simplesmente porque acreditam que atuando livremente, sem interferência de um padrão, modelo ou processo, ele executará com mais agilidade seus trabalhos, reduzindo as pressões por produtividade e qualidade geradas pelos contínuos atrasos e problemas.

Se os profissionais são um dos prinicipais prejudicados com a falta de um padrão organizacional, porque oferecem tanta resistência na hora de implantar e formalizar padrões de trabalho ???

Minhas observações demonstram que os profissionais simplesmente não acreditam nas mudanças corporativas, porque percebem que suas lideranças estão tão perdidas e inseguras quanto elas, criando um grande vácuo entre “querer fazer” e “saber fazer”.

Os profissionais interpretam estes projetos como modismos de mercado, introduzidos sem um adequado apoio e entendimento de suas lideranças, que muitas vezes delegam integralmente a responsabilidades da introdução destes processos a seus liderados, sem participar diretamente do esforço de tornar o processo operacional.

Os profissionais relatam que os projetos desta natureza fadados ao fracasso, emitem sinais claros de que estão sendo mal conduzidos e não terão sucesso. Geralmente, eles começam com um grande apoio da alta diretoria, bloqueando todas as pressões por quebras nos procedimentos que prejudicariam os esforços na formalização dos serviços. Após algumas semanas, as primeiras quebras de processo são provocadas por uma forte pressão pelo encaixe de novas solicitações, rotuladas como prioritárias e urgentes. Gradativamente, as lideranças são pressionadas a abandonar seu planejamento e atender as solicitações sem seguir os rituais estabelecidos pela TI, alegando a imprevisibilidade das demandas. Neste ponto, trata-se de uma questão de tempo para que os procedimentosa afrouxem-se e tudo volte ao normal.

Como os profissonais já estão acostumados a conviver com estas experiências negativas, criam estratégias para minimizar os impactos gerados por estes períodos de turbulência. Iniciam os trabalhos normalmente, evitando demonstrar que não acreditam no sucesso do projeto. Nos bastidores, busca atender minimamente as novas exigências, o suficiente para demonstrar seu apoio ao projeto, mas continuam produzindo conforme os velhos modelos, confirmando sua desconfiança com a implantação do novo processo.

Estas experiências frustradas reforçam a rejeição dos profissionais na adoção de padrões e processos de trabalho, pois entendem que estas mudanças trarão inevitáveis complicações no seu dia a dia. Sem a convicção necessária das lideranças, novas demandas irão surgir e a pressão dos resultados forçará o profissional a executar o mais rapidamente suas atividades, mantendo a padronização dos trabalhos como algo secundário.

Mesmo de forma inconsciente, os profissionais ajudam a perpetuar a cultura negativa sobre os controles operacionais, dificultando a transformação da TI num ambiente de trabalho baseado em processos, trabalhando com padrões corporativos fortemente estabelecidos e alto nível de qualidade e controle nos serviços executados.

O mercado favorece quem trabalha por processos

As organizações que apresentam dificuldades na implantação de processos que suportem sua cadeia de serviços, possuem atualmente menos oportunidades no competitivo mercado de TI, pois demonstram sua incapacidade em estabelecer regras internas e disciplinar os trabalhos de seus profissionais, criando uma condição de maior risco no ato da contratação de um serviço.

Projetos que envolvem grande volumes financeiros são repassados a fornecedores que tenham no mínimo, níveis de maturidade que garantam a execução de seus serviços, através de processos consolidados e formalizados (Nível 2 e 3 do CMM-I).

A ausência de padrões corporativos impedem que a organização esteja em conformidade com as certificações internacionais e tenham avaliações positivas quanto à seus procedimentos internos, limitando a organização em participar apenas dos projetos com baixa rentabilidade, provocando restrições financeiras que prejudicam novos investimentos e uma adequada remuneração de seus profissionais.

Através das novas lideranças, a TI será transformada num ambiente de trabalho baseado em processos corporativos, construindo uma nova geração de empresas tão produtivas, organizadas e controladas como qualquer outra organização industrial, consolidando definitivamente o modelo das Fábricas de Software.

Suportados por sólidos conhecimentos em administração, qualidade e engenharia de software, as novas lideranças moldarão o comportamento dos novos profissionais, estabelecendo modelos de trabalho que suportem os futuros desafios da área.

Se a formalização dos processos não está refletindo nos ganhos operacionais desejados, é forte sinal de que os modelos implementados foram mal planejados e devem ser revistos. Os processos devem ser definidos sempre observando duas premissas fundamentais: elevar o desempenho operacional e incorporar controles que agreguem confiabilidade e qualidade nos trabalhos realizados.

As organizações que obtiverem maior maturidade no gerenciamento das disciplinas que suportem toda a cadeia de serviços de software, conseguirão antecipar oportunidades e implementar novas tecnologias combinadas com as novas frentes de negócios, gerando diferenciais que a manterão em igualdade no cenário internacional.