Desenvolvimento

7 jul, 2008

Software fast-food – Parte 01

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Com a sensação do “para ontem” pairando no ar a cada dia, sofre-se com a métrica do desenvolvimento fast food. O que se pode fazer para não ser atropelado por isso e os compradores não se frustrarem? Veja nesta primeira parte as dicas para os desenvolvedores e designers.

– Estou precisando de um website…

– Ótimo, podemos fazê-lo. Gostaria de marcar uma reunião para fazermos o briefing do que precisa, conhecer alguns detalhes de design, tipo de hospedagem…

– Não, não, você não está entendendo, é para ontem!

Duvido e faço pouco que exista algum desenvolvedor que nunca tenha ouvido algo semelhante. De meu lado, esta é uma regra e não uma exceção e pelas conversas que tenho com parceiros e colegas, para eles também. Mas de onde vem esta euforia toda que mais se assemelha a um acasalamento de galo?

Muitos jogam a culpa na atual sociedade digital. Devido as facilidades de comunicação quase onipresentes, temos que nos adequar a esta política da velocidade. Para açucarar ainda mais o melado, está o corre-corre frenético das grandes cidades, as operações multitarefas como ver TV ao mesmo tempo que atende o celular e digita um e-mail, a pressão da China (antes eram os tigres asiáticos) e da Índia, a concorrência e todo o tipo de caos imaginável. Com tudo acontecendo ao mesmo tempo, clientes de todos os tamanhos acreditam piamente que quanto mais rápido melhor e deixam não somente as preliminares de lado mas também precisam arcar no futuro com uma escolha mal feita, tal qual aquela namorada chata que se arruma na balada.

Interessante ver que as grandes conquistas não são feitas a toque de caixa. Dias atrás reli o livro 100 dias entre o céu e o mar de Amyr Klink onde ele narra não somente sua travessia pelo Atlântico em um barco a remo, mas principalmente os anos de preparativos para a empreitada. Não é a toa que Klink é um dos melhores palestrantes brasileiros quando se deseja conhecer estratégia e pés no chão. Ele sabe o que faz e principalmente que tempo não é uma questão de dinheiro; é uma questão de coerência. O tempo que se ganha agora pode-se perder pouco depois.

Da mesma forma que seu feito, colocar um satélite em órbita, construir um navio ou ainda descobrir a cura de uma doença são atividades demoradas e que dependem não somente de investimento, mas principalmente de tempo. Um mísero jantar quando bem feito, demanda horas para ficar pronto. Mas, se está com pressa a solução é mesmo o fast-food.

No meio deste cenário o que resta ao desenvolvedor? Nada mais que pedir a Deus e/ou à outras entidades que consiga um cliente com visão diferenciada e passe ao largo destas sócio-mudanças de humor. Sem não for possível, que arrume as melhores ferramentas para enfrentar as feras sedentas por tempo. Como a primeira opção não anda muito fácil, vamos conhecer então algumas da segunda.

Tomando as rédeas do tempo

Feche seu cliente de e-mail e seu msn AGORA! Isso mesmo, esta é a primeira regra. Você está lendo meu artigo e para compreendê-lo corretamente deve LER e não VER. Boa parte do tempo perdido acontece nas chamadas tarefas múltiplas. Esqueça, você não é um processador de núcleo duplo, você não é uma máquina. Você e sua cabeça tem limites e este está totalmente atrelado a quantidade de coisas que faz ao mesmo tempo. Duvida? Veja as estatísticas de acidentes de trânsito causados por uso de celular e vai entender o que digo.

Não desperdice seu tempo. Falar no MSN é legal, responder mensagens é importante e ver as fotos da namorada do amigo muitas vezes excitante (e certamente perigoso). Mas fazer tudo isso ao mesmo tempo pode trazer complicações. Você pode estar escrevendo que seu chefe é um ignorante justamente na janela dele do msn ao invés da janela do amigo, pode estar respondendo uma mensagem num tom que não deveria/precisaria e pode esquecer aberto seu navegador no exato momento que a sua namorada chega e poderá conhecer um lado dela que nunca viu; o homicida.

Não dá para fechar o msn e o e-mail? Mantenha-os escondidos longe de seus olhos (conhece aquela que o que os olhos não vêem o coração não sente?) e atenda/responda somente aquilo que for estritamente essencial. Tire também um tempo para ficar fazendo nada. Isso mesmo, reserve parte de seu tempo para navegar, ler blogs ou jogar. Mas seja crítico, deu o tempo, desligue tudo e volte ao trabalho.

Funções, classes, snippets e outros salva-pátrias

Fez uma função bacana que se conecta ao banco de dados de tudo que é jeito? Ótimo, documente-a e guarde numa biblioteca. Achou uma classe que manda e-mails como sempre sonhou? Teste-a e armazene-a. Fez uma killer routine, aquela que nem você sabe como saiu de seus dedos? Coloque no repositório. Com tudo isso em mãos e bem documentado, sem trabalho maçante e braçal cai sensivelmente e você poderá aumentar o tempo de jogatina ou ainda obter novos clientes. A programação, seja ela orientada à objetos ou procedural possui a facilidade de criação de funções e objetos reusáveis. Aproveite-se disso criando sua própria biblioteca e obtenha ganhos de tempo.

Scripts SQL também são maravilhosos, principalmente aqueles com listagem de países, cep e estados. Se precisa destes dados num cadastro, nada que 2 minutinhos de carga na base não resolvam. Simples, prático e eficiente!

Designers podem fazer o mesmo. Aquele conjunto de CSS para criar caixas de texto bacanas ou ainda uma folha de estilo completa devem ser guardados com muito carinho para futuras utilizações. Da mesma forma, formulários inteiros que executam tarefas rotineiras também podem ser colocados na mesma biblioteca.

Mas atenção; não guarde tão bem guardado que o tempo para encontrá-los seja maior que o tempo para escrever tudo novamente. Guardar quer dizer estar em um local organizado e de fácil acesso quando necessário. A maioria das ferramentas de edição de códigos possuem funções para este armazenamento organizado. Aproveite-se delas e faça backups!

Sistema estável = ganho de tempo

Ano passado deixei para sempre a plataforma PC adotei a maçã como desktop. No servidor, Ubuntu Linux que até esqueço que existe. Se você tem um sistema estável, sem vírus e que responde quando você precisa, você ganha aquele tempo que certamente irá perder removendo as pragas digitais que infestam outros sistemas. Não tem grana para um Mac e odeia Linux? Tudo bem; é possível também ter um ambiente estável em Windows. As dicas:

  • Máquina de trabalho é máquina de trabalho – tire o World Warcraft e o Flight Simulator do micro. Eles empacam a máquina como qualquer outro jogo de última geração. Ao invés de comprar uma hiper máquina para tudo, prefira uma máquina mais modesta para seu trabalho do dia a dia e outra para os games. Pode usar o mesmo monitor, claro.
  • Anti-vírus é obrigatório – sem ele é o mesmo que fazer escalada com corda de varal. Você pode ser muito sortudo mas um dia vai para o chão. Atualize diariamente.
  • Downloads – páre seus downloads (ou deixe a máquina dos games baixando os torrents). Aplicações P2P consomem não somente banda mas também processamento, memória e sua atenção. Além disso, atente-se a regra acima. As redes P2P estão tão sujas quanto o ar de São Paulo.
  • Backup – quem tem um, não tem nenhum. Faça backup (de novo, faça backup. Mais uma vez, faça backup!)

Mais um ladrão: telefone

Este é descarado. Rouba não somente seu tempo mas também seu bolso de duas formas; na demora para entregar um sistema e na conta telefônica. A invenção de Gramm Bell é sensacional mas ao mesmo tempo pode tornar a vida de qualquer um O caos (sim, com O maiúsculo). E com a criação do telefone celular a coisa piorou. Ele vai para qualquer lugar chegando ao absurdo de muitas vezes ir parar dentro da banheira, do vaso sanitário ou em outros lugares mais estranhos ainda.

Anedotas a parte todos sabemos que telefone é uma ferramenta de trabalho e o uso racional dela pode não só tornar mais produtivo seu trabalho como também mais rentável. Algumas dicas para cuidar deste larápio:

  • Separe o particular do profissional – com o preço dos telefones celulares extremamente baixos, nada melhor que ter dois aparelhos. Um, somente para uso particular (família e amigos íntimos) e outro para negócios. A grande vantagem é poder desligar um ou outro (ou os dois), ter um pouco de tranquilidade quando está fazendo algo complicado e assim mesmo “estar online” (a dica também vale para colocar horário para as coisas). Só por favor não vá para o shopping com os dois na cintura. Ridículo!
  • Use e-mail – trate conversas longas ou que precisam de muita explicação via e-mail e depois use o telefone somente para se certificar que a pessoa entendeu o que disse ou se ficaram dúvidas. Mas por favor, não mande um e-mail e ligue para a pessoa a fim de saber se ela recebeu. Nonsense!
  • Mensagens instantâneas – também maravilhosas para coibir a ação do meliante. Entretanto tome cuidado e siga a dica no começo deste artigo.
  • Tudo de uma vez – tire uma hora para ligar à todos que precisa, sejam clientes, amigos, etc. Reduz-se o tempo de duas formas: as conversas se tornam mais curtas porque existem várias chamadas para serem feitas e sobra tempo ao longo do dia para o que deve ser feito.

E os clientes?

Existem clientes para todos os gostos. Clientes que compreendem a demora, cliente que é estressado e precisa de tudo para ontem e até clientes que pedem para o mês que vem. Cada um com um jeito, uma cabeça e uma forma de pedir o “para ontem” à você. Como tratá-los?

Quem voa é ave e avião, você não

Esqueça. Se você mora em um grande centro, trânsito é algo inevitável e você vai ficar engarrafado. Para não deixar o estressado mais estressado ainda, não marque duas reuniões de negócios em um curto espaço de tempo. Além do trânsito, reuniões demoram mais do que deviam, a sua não será exceção e seu próximo cliente não quer nem saber disso. Desta afirmação vem outra…

Não se está em dois lugares ao mesmo tempo

Se um cliente liga pedindo uma assessoria e você na mesma hora está com outro, aprenda a dizer não. Seja honesto e diga que está ocupado atendendo outro cliente e se ele puder esperar, irá atendê-lo também. Se não, ofereça o contato de um parceiro que poderá fazê-lo naquele momento. Com esta atitude você mostra não somente profissionalismo mas também que está interessando também no problema que ele tem.

Só Deus para milagres (e olhe lá)

Softwares não são feitos da noite para o dia. Eles englobam muito mais que linhas de programação. Horas de testes, manuais, documentação e treinamento fazem parte do que chamamos de “software”. Se o cliente exige um prazo absurdamente curto, corra disso. Você terá tanto problema no futuro que o que pedir para fazê-lo não valerá a pena.

Não deixe para amanhã

Sobrou um tempinho? Conseguiu terminar antes? Que bom, aproveite e comece o próximo da fila ou incremente o que terminou. Não deixe para amanhã o que precisa ser feito. Conexões caem, micros param, arquivos somem misteriosamente e você nunca sabe quando pode sofrer uma dor de barriga de incapacitá-lo.

Finalizando – parte 1

Organização, método e receitinha da vovó. Este é o segredo para não entrar na ciranda da loucura do fast-food. Mantenha seu tempo sob controle, elimine aquilo que rouba seu bolso e principalmente mantenha uma postura profissional diante do assédio da comida rápida. Seguindo isso seu almoço pode ser melhor do que imagina e seu software, soberbo.

Na próxima parte, as dicas e toques para os tomadores de softwares e serviços.