Cloud Computing

23 ago, 2010

Cloud em 2025: um exercício de futurologia

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No início de agosto, participei de um
evento muito interessante, o Cloud Summit, e após minha palestra
fui questionado a opinar como o mercado de Cloud Computing deverá
evoluir nos proximos anos. Como será Cloud Computing em 10 ou 15 anos?
Bem, aqui vai minha opinião estritamente pessoal. Não falo em nome de
meu empregador.

Na minha visão, o modelo Cloud Computing é um novo
paradigma computacional, sustentável (ou seja, não é apenas um hype),
que será o modelo dominante nos próximos anos, sucedendo os modelos
anteriores, centralizado (mainframe), client-server e networking
computing. Esse modelo vai provocar mudanças significativas na maneira
como os fornecedores de tecnologia se engajarão com os seus clientes e
vice-versa.

Mas, na minha opinião, a “ficha ainda não caiu”. O próprio
conceito ainda está meio difuso e muitas das palestras que venho
ouvindo por aí ainda causam mais confusão que exploram o potencial e,
claro, as limitações do modelo. 

O mercado de TI já passou por mudanças significativas nas últimos
40 ou 50 anos. O fim da era dos sistemas centralizados e o advento do
modelo cliente-servidor provocou o desaparecimento de diversas empresas
sólidas e o surgimento de novas empresas que dominaram grandes
setores do mercado, como a Microsoft no segmento de computação pessoal.
Essas transformações provocaram mudanças significativas nos aspectos
econômicos da TI, e trouxeram novas economias de escala. O custo de
armazenamento caiu a quase zero, possibilitando que empresas como
Google disponibilizassem espaço em disco gratuitamente em troca de
receitas de advertising. O custo de processar uma transação
eletronicamente caiu, assim como preço por GB de
memória ou capacidade de processamento.

O que imagino para os próximos anos? Cloud Computing vai
canibalizar parte dos investimentos atuais das empresas em hardware e
data centers, que passarão a concentrar seus investimentos nas nuvens
ofertadas pelo mercado. Parte dos atuais 2,4 trilhões de dólares que se
estima ser o mercado anual de produtos e serviços de TI se deslocará do
modelo tradicional (venda de hardware e licenças de software) para o
modelo em nuvem.

Pelo menos nos próximos anos não será dinheiro novo,
mas canibalização da venda de hardware e de licenças de software para o
modelo em nuvem. Mas, na minha opinião, no longo prazo veremos uma
transformação do atual modelo de ownership de investimentos em TI
(capex), por serviços (opex), o que vai provocar profundas mudanças no
mercado como um todo.

Cloud Computing vai levar os patamares da economia de escala a
novos valores e provocar uma onda de inovações no uso da TI. Empresas e
negócios hoje limitados pela necessidade de investir previamente em
recursos de hardware e software estarão livres dessa restrição
orçamentária e poderão inovar e ousar. O capital que hoje tem que ser
reservado para adquirir computadores e softwares será liberado para a
própria operação do negócio. Os riscos serão bem menores.

Com a disseminação de Cloud Computing, ou computação como utility,
a TI vai se tornar muito mais embutido nos próprios negócios, como hoje a
energia elétrica está embutida em qualquer operação comercial ou
industrial. Energia elétrica faz parte da “paisagem”, você nem se lembra
dela quando abre um negócio. Com o modelo de Cloud Computing o processo
poderá ser similar: escolhe-se provedores e soluções tecnológicas e
pronto, a operação do negócio estará no ar. E, quem sabe, essa escolha
será intermediada por Cloud Brokers, que escolherão as melhores
alternativas de ofertas de nuvens para determinados casos.

Claro que é
um cenário futurista, que poderá não ser 100% verdadeiro nos próximos
dez anos, mas quem sabe em 2025? Nesse momento, não terá mais
sentido falar em IT (Information Technology), mas em BT (Business
 Technology). Uma implicação? Maior flexibilidade operacional. Hoje,
para abrir uma filial é necessário instalar novos servidores e
softwares, e montar um infraestrutura para operação destes
equipamentos. Com o modelo em nuvem é só requisitar mais instâncias de
recursos computacionais e mais assinaturas de softwares. Simples assim?

Mas como eu vejo o mercado hoje? Alguns provedores de tecnologia
olham esse cenário com receio, pelo medo de canibalização de seus
atuais modelos de negócios. Outros já reconheceram que os sinais de
mudança são claros e, já que a mudança será inevitável, mudemos em
primeiro lugar. Aqui na IBM Cloud Computing é visto como o futuro
inevitável e a empresa já começou a se mobilizar, e não é é fácil,
para uma companhia de 400 mil funcionários, avançar nessa direção.

É um momento de muitas indefinições. Muitas empresas, às vezes
simples provedores de ofertas de location, se rebatizam como “Cloud
Computing providers”. De maneira geral, nas fases iniciais de uma
mudança de modelo surgem inúmeros ofertantes, sem sustentação
econômica, que com o tempo vão sendo expurgados pelo próprio mercado.

Provavelmente também veremos diversos novo modelos de negócio de
ofertas de Cloud. O nome Cloud esconde uma ampla gama de serviços
diferentes, como IaaS, PaaS ou SaaS. Cada um deles demanda recursos e
estruturas de tecnologias diferentes.

Por exemplo, uma oferta de nuvem
pública IaaS, como a Amazon, é voltada para mercado de massa. As nuvens
públicas são altamente padronizadas e massivamente compartilháveis e
não são as mais adequadas para serviços especializados, que exigem alto
grau de customização às demandas de deteminados clientes. Essas nuvens
tratam seus clientes de forma quase anônima, como hoje fazem as telcos,
sem necessidade de conhecer mais a fundo as necessidades e as demandas de
cada um deles. A margem obtida de cada cliente é pequena e, portanto,
precisam de altíssimo volume de clientes para serem rentáveis.
Demandam, por sua vez, imensos recursos computacionais para conseguirem
ganhos de escala suficientes para se manterem no negócio. É um mercado
para poucos e grandes provedores.

Um outro modelo inteiramente diferente é a empresa que se propõe a
ofertar uma nuvem privada para um determinado cliente. Uma nuvem
privada cria um novo modelo de engajamento entre a área de TI da
empresa e seus usuários. A área de TI deixa de ser um centro de custos
e passa a ser um provedor de serviços financiado pela utilização dos
recursos computacionais ofertados às unidades de negócio da companhia.

Um provedor de TI que se proponha a ajudar seus clientes a construírem
nuvens privadas deve ter profundo conhecimento não só do conceito de
nuvens, mas adotar tecnologias adequadas e modelos e práticas
de consultoria que ajudem o cliente a migrar para esse modelo. É hoje o
campo principal do foco de atuação em Cloud Computing da IBM.

Portanto, quando alguém me pergunta qual melhor opção de Cloud,
comparando Amazon, Google, Microsoft ou IBM, não existe uma resposta
única, pois são bichos inteiramente diferentes.

Mas, o que podemos arriscar e prever? Engraçado que sempre ouço
perguntas do tipo “qual o futuro da tecnologia x”, como hoje me
perguntam sobre Cloud Computing. Na economia, na política e na
tecnologia existe a tendência de se alimentar o sonho de que é possível
ver o futuro antes que ele aconteça. O risco de errar é grande.

Uma vez
li, a tradução, é claro, do “Nostradamus Vaticinia Code”, o livro de
profecias de Michel de Nostradame, datado de 1629, que fala de um
inevitável fim do mundo. Até agora nada deu certo, embora possamos
interpretar suas profecias da maneira que quisermos. Ninguém previu a
queda do muro de Berlim e suas consequências para o mundo. Bill Gates
achava, em 2004, que o spam desapareceria em dois anos. Portanto, falar de
futuro é puro achismo, mas vou me arriscar a receber muitos apupos e
tomates:

  1. Com o modelo de Cloud Computing, a indústria de TI vai passar
    do modelo de ownership para services-centric. Os investimentos em
    produtos e serviços de TI continuarão, mas as empresas os usarão no
    contexto de serviços. A idéia é “será que eu quero uma máquina de lavar
    ou quero minha roupa lavada?”
    . Assim, cada vez mais, as empresas
    dependerão de provedores externos para suprir suas soluções de
    tecnologia, como hoje dependem de provedores externos para suprirem sua
    demanda de energia elétrica.
  2. Os modelos de negócios da indústria atual de TI vão se
    transformar da venda de produtos de hardware e licença de softwares
    para oferta de serviços, onde o hardware e o software estarão embutidos
    no próprio serviço.
  3. Os ciclos de venda da indústria de TI estarão muito mais
    alinhados com as demandas dos negócios dos seus clientes do que de seus
    próprios ciclos de marketing e venda. Hoje as empresas de tecnologia
    anunciam novos modelos de hardware e novas versões de software sem
    maiores vínculos com as demandas do mercado. No contexto
    services-centric, a força motriz para os ciclos de novos produtos e
    serviços virá basicamente do mercado.
  4. BPO (Business Process Outsouring) também serão serviços
    ofertados em nuvem. Ou sejam, serão dinâmicos em suas ofertas, de forma
    similar aos recursos solicitados em nuvens públicas. Em vez de
    contratos de cinco a dez anos, veremos contratos pay-as-you-go.
  5. Empresas com nuvens privadas podem agregar-se em torno de
    nuvens colaborativas, atuando em sinergia para determinados setores de
    indústria.
  6. Cloud Broker. Negócios que interagirão com os provedores de
    ofertas de nuvens e identificarão, para cada cliente, a melhor oferta de
    serviços de nuvem. Provavelmente construirão uma camada de interface
    padrão que lhes permitirá acessar e interoperar com qualquer nuvem.
  7. PaaS será o novo campo de batalha das tecnologias de
    middleware. Quem dominar o contexto das PaaS terá a primazia de
    definir o padrão de fato dos novos middlewares para Cloud.
  8. Em dez anos, o modelo Cloud Computing será dominante
    e o próprio termo deixará de ser usado. Será o modelo computacional de
    uso corrente e, portanto, não precisará mais ser diferenciado. Hoje
    ninguém fala mais em computação pessoal ou cliente-servidor. Será o
    mesmo com Cloud Computing.
  9. E não chegaremos lá via “Big Bang”, mas será uma evolução
    lenta e gradual, acelerando-se à medida que o conceito se solidifique e
    mais e mais casos de sucesso venham a público.

Conclusão? Cloud Computing terá um profundo efeito em como TI será
adquirido, entregue e consumido. Novos modelos de negócios substituirão
os tradicionais modelos de venda de hardware e licenças de software. Em
vez de compradores de ativos, os usuários serão “computing subscribers”,
trocando investimentos em capital por budgets voltados à operação. Um
novo mundo, com certeza.