Carreira Dev

10 nov, 2014

Tendências tecnológicas para 2015 e o CIO

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Estamos chegando ao fim do ano de 2014 e em breve começaremos a ver as famosas reportagens com tendências para 2015. Aí teremos as inevitáveis listas das Top 10… Mas, analisando melhor, tendências tecnológicas não são como moda, na qual cada ano uma cor predomina… A adoção de uma tecnologia não é instantânea, pois depende de outras à sua volta para criar um contexto mais amplo em que ela pode se disseminar.

Um exemplo são os apps. Seu crescimento dependeu do lançamento do iPhone e da apps store, e sua evolução tem relação direta com a evolução tecnológica dos dispositivos. Em 2007, o iPhone tinha 3 sensores e o iPhone 5 do ano passado, 5 sensores. O Galaxy S de 2011, 3 sensores e o 5S, em 2014, 10 sensores. Uma maior funcionalidade e inovação dos apps depende desse maior número de sensores e, quanto mais útil o app, maior seu uso. Círculo virtuoso. A loja da Apple tem 1,2 milhão de aplicativos e já registrou mais de 75 bilhões de downloads. Seu principal concorrente, a Google Play, conta com mais de 1,3 milhão de apps. Seu uso é crescente, e nos EUA, enquanto em 2011 os americanos entre 18 e 55 anos usavam em média 18 horas e 18 minutos por mês, em 2013 já eram 30 horas e 15 minutos. Hoje os apps tornaram-se um fenômeno cultural, que afeta a vida de bilhões de pessoas. Eles mudaram a forma como as pessoas vivem suas vidas e com certeza continuarão a moldar nosso futuro.

Os apps podem ser considerados os ícones de uma transformação digital que está acontecendo na sociedade. Estamos entrando aceleradamente em uma economia digital, na qual cada companhia está se tornando uma empresa de tecnologia. Cada parte do seu negócio, produtos e processos poderá e deverá estar envolvida em uma camada de tecnologia, expondo-a para seus clientes e parceiros. A economia digital vai mudar todo e qualquer setor de negócios. Alguns exemplos começam a pipocar aqui e ali, como a AirBnb, que sem ter construído um único quarto de hotel está se tornando uma líder no setor de hospedagem. É uma empresa de software. Com mais e mais digitalização e a disseminação massiva de sensores (Internet das Coisas), os limites entre os setores de indústria tendem a desaparecer. Um veiculo automático, no qual cada deslocamento, e mesmo cada ação do motorista, como acelerar e frear bruscamente, pode ser monitorado, vai afetar a indústria de seguros. O plano de seguros pode ser individualizado e alterado de acordo com o uso. A própria indústria automotiva, com carros cada vez mais automáticos, chegando a operar sem motorista, provavelmente deixará de ser uma fábrica de automóveis, que após a venda do veículo perde contato com seu cliente, para ser uma indústria de mobilidade pessoal, engajada 100% do tempo com o cliente. Hoje a Tesla, fabricante de veículos elétricos, descreve-se como uma companhia de software que fabrica carros. Uma parcela significativa dos defeitos registrados pelos seus clientes é resolvido pelo download um update de software, via Internet.

Mesmo um pequeno grupo de pessoas, ou mesmo uma única pessoa, pode criar uma companhia digital. O Instagram é um exemplo. Ao ser vendido, tinha apenas 13 pessoas em seu staff. É uma empresa de software e não precisava das fábricas que as antigas indústrias que dominavam o setor de filmes químicos precisavam ter. Esse exemplo, como AirBnb, Uber, WhatsApp e outros, demonstra que o principal concorrente pode estar hoje fora do radar de suas análises de mercado.

O que vemos hoje é claramente a consolidação das ondas tecnológicas impulsionadoras dessa economia digital, que são cloud computing, Big Data e o que podemos chamar de “Engagement Technologies”, que envolvem mobilidade e o social business. Apontar quem está em primeiro lugar este ano é fútil. Todas elas estão interconectadas e se consolidando, em velocidades diferentes, mas todas evoluindo na mesma direção. O que nitidamente se pode observar é que o fenômeno da interligação entre os mundos físicos e virtuais, através da Internet das Coisas, está também tomando impulso. A tendência então é simples: nos próximos anos, todas essas ondas estarão amadurecendo, se disseminando e tornando indistinguíveis as fronteiras entre o mundo dos átomos e dos bits. A computação voltada para o usuário final e a corporativa estarão se mesclando e ficará cada vez mais difícil a separação entre elas. Estaremos então em plena economia digital.

Esse cenário vai afetar de forma significativa a indústria de TI e o papel da TI e dos CIOs nas empresas. Os tradicionais fornecedores de TI estão em transição. Algumas empresas consideradas líderes hoje continuarão existindo, mas deixarão de ter relevância e influência no mercado de TI. Muitos dos gigantes atuais, da geração pré-economia digital, estão tentando sobreviver, deslocando sua estratégia para absorver e abraçar as novas ondas tecnológicas. Mas vemos que enfrentam muitas dificuldades. As empresas que dependiam de hardware e que mantinham software e serviços gravitando em torno dessas vendas, estão mostrando resultados bastante frustrantes de crescimento. Líderes de bancos de dados relacionais estão sendo desafiados por novas tecnologias e hoje não são considerados líderes em tecnologias como in-memory, stream computing e NoSQL, por exemplo. A maioria dos gigantes pré-economia digital estão lutando para sair de nichos e tentar chegar a patamares de liderança em cloud computing, Big Data e Engagement Technologies. Um sinal interessante é que as empresas gigantes da Internet, que estão se tornando benchmarks das novas TI, como Google, Amazon e Facebook, não usam praticamente nenhuma tecnologia dos fabricantes tradicionais de TI.

O que isso significa? Que o tradicional lema que durou dezenas de anos, “quem compra tecnologia de A não será despedido”, está obsoleto. Provavelmente os principais e mais influentes fornecedores de tecnologias em dez anos não serão os de hoje. As empresas de TI mais influentes serão as que mais estão alinhadas com o mercado final, pois a consumerização torna-se um fenômeno cada vez mais influenciador de entrada e disseminação de tecnologias nas empresas. E é bem provável que em dez anos algumas das mais influentes empresas de TI nem existam hoje ou são ainda pequenas start-ups!

Para a TI nas corporações, isso significa um risco e uma oportunidade. Risco de perder relevância se se mantiver apegada aos paradigmas atuais. Oportunidade, se conseguir se engajar e liderar o processo de colocar sua empresa na economia digital. A transformação digital. Interessante o que eu observei recentemente, no CEO 2013 Gartner Survey, para a pergunta “Does IT Delivery Need to Improve?”. Sim foi a resposta de 52% dos CEOs e de apenas 12% dos CIOs. Claramente vemos aí um descompasso de expectativas e consequentes frustrações. E quem manda é o CEO… Estes estão frustrados pelo pouco de inovação que TI têm trazido e poucos CEOs consideram que seu CIO poderá se tornar um futuro CEO. Ou seja, tem um sinal amarelo piscando e é necessário prestar atenção a ele.

O que acontece quando os sinais de alerta são ignorados? Tentativas de muitas empresas criarem cargos como Chief Digital Officer para conduzirem suas estratégias de transformação digital. Quem é essa figura? Recomendo acessar este link para entender como esta comunidade está crescendo, pelo menos lá fora.

Diante desse cenário, que os CIOs a as áreas de TI devem fazer? Pensar digital e redefinir seu papel. O CIO cada vez mais deve se inserir na identificação de oportunidades de novos negócios, explorando a tecnologia digital como força motriz. Ter sua própria visão de futuro para o negócio, e não apenas depender das visões dos fornecedores de tecnologia, que têm óticas muito dependentes do seu portfólio atual e de sua limitada capacidade de se transformar. Entender que tem que operar em duas frentes ao mesmo tempo e ambas são prioritárias: manter os sistemas de missão crítica atuais operando e criar novas e inovadoras soluções. São ritmos e processos diferentes. Serão duas TI em uma. O CIO tem que sair da zona de conforto do back-office e ir para a linha de frente, tornando sua área um centro de criação de novas oportunidades. Passar a ser um centro gerador de resultados para a empresa. Para isso, ele tem que assumir a posição de liderar a transformação digital. Não ser liderado por ela…Uma das frases mais significativas que li sobre esse assunto é de Bob Johansen, do Institute for the Future, “It is now too late to have a digital strategy. What you need is a business strategy that includes digital”. Vale a pena pensar sobre isso.