Carreira Dev

3 set, 2025

Sistemas legados: o bicho‑papão que pode acelerar sua carreira (e seu salário)

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“John, tem um sistema aqui que ninguém quer tocar. Se mexer, cai.”. Já ouvi isso mais vezes do que troquei pastilha de freio na minha moto. E adivinha? Era sempre o sistema por onde o dinheiro da empresa passava: pedido que fecha, boleto que compensa, carga que sai.

Todo time tem o “não mexe que quebra”. Feioso, meio remendado, escrito por arqueólogos apressados. E é justamente ali que quem sabe o que está fazendo vira peça rara. Peça rara escolhe onde trabalha e quanto quer ganhar.

O que é, de verdade, “legado”

Nada místico. É software crítico pro negócio que ficou caro de evoluir:

  • Antigo ou sem testes.
  • Dependências defasadas e documentação rala.
  • Conhecimento na cabeça de duas pessoas.
  • Às vezes com tech moderna… mal acoplada.

Resumo: se parar, dói no caixa; se mexer, dá medo. E medo sem processo vira bloqueio.

Por que legado acelera sua senioridade (na prática)

Quer ganhar “anos de experiência” em meses é só mexer em código que não é seu, pode ser desconfortável no começo, mas um acelerador absurdo depois:

  • Leitura de código de terceiros: Você decifra intenções e padrões, enxerga com os olhos de quem fez.
  • Escavação de software: Bug fantasma? Você investiga os logs, reconstrói o fluxo e acha a dependência escondida.
  • Frieza em produção: Incidente vira laboratório: logs, tracing, métricas, feature flags, rollback e hotfix sem pânico.
  • Refatoração pé‑no‑chão: Em vez de “reescrever tudo”, você melhora aos poucos e entrega valor rápido.
  • Cabeça de negócio: Legado te força a entender domínio (fiscal, pagamento, logística). Você sai de dev de código para dev que resolve o problema certo.
  • Comunicação de adulto: Negociar escopo, explicar risco e escrever o documento que salva plantão.

Opinião forte: ler código de outras pessoas é o maior multiplicador de carreira que existe.

Empregabilidade: pouca gente quer… todo mundo precisa

Toda empresa vive o dilema: manter o presente (que fatura) e construir o futuro (modernizar). Falta gente que faça a ponte. Quem se posiciona como especialista em estabilização + modernização gradual vira premium:

  • Resolve dor crônica (incidentes repetidos, deploy com medo, integrações frágeis).
  • Reduz risco (menos queda em fechamento, menos chargeback, menos multa).
  • Acelera time‑to‑value (pequenas correções que destravam resultado).
  • Espalha conhecimento (runbooks, docs, ADRs) e reduz dependência de heróis.

Tradução pro gestor: você protege receita. Quem protege a receita é contratado primeiro.

Dinheiro na mesa: por que essa habilidade puxa seu salário

Salário sobe com impacto visível + escassez. Em legado dá para mostrar, com números:

  • Queda de P0/P1 e MTTR derrubado (ex.: 2h para 25 min).
  • Menos timeout/rollback.
  • +X% na taxa de aprovação de pagamento ao corrigir idempotência/timeouts.
  • Tela crítica X% mais rápida.

Poucos topam. Quem topa e entrega vira referência, e referência negocia melhor.

Frase pra negociação: “Eu reduzo risco e protejo faturamento. Aqui estão as métricas.”

Muda a conversa de “código por hora” para valor de negócio.

Plano tático: transforme legado em vantagem (6 passos)

  1. Mapeie o terreno: Diagrama simples do sistema, quais os fluxos críticos, integrações e os pontos frágeis.
  2. Ataque alto ROI: Query lenta, endpoint instável, job sem idempotência. Meça o antes e o depois.
  3. Crie anticorpos: Testes onde dói, logs bem estruturados, métricas, tracing, alertas com SLOs.
  4. Refatore usando Strangler Fig: Encapsule, estabilize as APIs, extraia fatias com compatibilidade.
  5. Prenda conhecimento: Runbooks, ADRs e guias de troubleshooting.
  6. Conte a evolução: Changelog de melhorias. Munição para performance review e entrevista.

Mini‑exemplo (realista e genérico)

  • Antes:
    checkout com 3% de erro intermitente;
    MTTR de 2h;
    Deploy 1x por semana com rollback frequente.
  • Ação:
    Idempotência nos webhooks;
    Retries com backoff;
    Logs estruturados;
    Testes de contrato com adquirente.
  • Depois:
    Erro <0,5%;
    MTTR de 25min;
    Deploy 3x por semana sem rollback;
    Aprovação de +2,8%.

Como contar essa história no currículo/entrevista

Resumo de perfil: “Especialista em estabilização e modernização de sistemas críticos de alto volume.”

Bullets de impacto:

  • Reduzi MTTR de 2h para 25min com observabilidade e runbooks.
  • +3,1% na taxa de autorização ao corrigir idempotência/timeouts com adquirentes.
  • Deploys semanais sem rollback ao implementar testes de contrato.
  • Strangler no módulo X, removendo 40k linhas de código morto sem downtime.

Palavras-chave: observabilidade, SLO/SLI, idempotência, rollback seguro, testes de contrato, feature flags, circuit breaker, auditoria, domínio.

Mitos (e a realidade)

  • “Legado atrasa carreira.”
    Acelera. Você aprende o que quebra, e como não quebrar.
  • “Só reescrevendo resolve.”
    Quase nunca. Modernização incremental entrega cedo e com menos risco.
  • “Ninguém valoriza.”
    Quem carrega pager sabe.

Trilha de estudo para virar referência

Leitura de código (tours de arquitetura), observabilidade (logs estruturados, OpenTelemetry, métricas de negócio), banco (índices, plano de execução, migração segura), confiabilidade (retry com backoff, circuit breaker, filas, idempotência, carga), modernização (anti‑corruption layer, Strangler, testes de contrato, evolução de schema).

Mantra: Eu não só escrevo código, eu mantenho o negócio de pé enquanto o futuro chega.

FAQ rápido

  • “Vou virar síndico do legado?”
    Não se você documentar, treinar time e automatizar o que quebra.
  • “Qual stack importa?”
    A que sua empresa usa agora? Conceitos de confiabilidade e domínio valem em qualquer stack.

“Quanto tempo ficar?”
O suficiente para medir impacto e espalhar conhecimento. Depois, escale ou gire pro próximo gargalo.