Maior empresa de Internet da China, o gigante Baidu revela pela primeira vez seus planos para o Brasil, mercado que pode sustentar a expansão da companhia que já soma 400 milhões de usuários e deve fechar 2012 com faturamento acima dos quatro bilhões de dólares.
Ninguém levou mais a sério a máxima, proferida nos anos 70 pelo líder chinês Deng Xiaoping, de que “enriquecer é glorioso” que Robin Li, o fundador do Baidu, maior serviço de internet da China. Não à toa, Li tornou-se o homem mais rico de seu país ao desenvolver, no fim dos anos 90, um algoritmo de buscas capaz de indexar e organizar a caótica internet chinesa de uma forma tão eficaz que Bing, Google e Yahoo! jamais puderam fazer.
Doze anos após sua fundação, a companhia de Internet sustenta crescimento médio de incríveis 60% ao ano, possui suas ações listadas entre as cem mais líquidas da bolsa eletrônica Nasdaq e prepara sua expansão para fora da China.
Numa entrevista por Skype, o diretor internacional de comunicações do Baidu, Kaiser Kuo, disse como sua companhia pretende conquistar os usuários brasileiros, comentou as disputas com Google e Facebook pela publicidade na web e abordou o espinhoso tema da censura na Internet chinesa.
O Baidu já tem um escritório no Brasil? Nós já temos um representante no seu país, nosso diretor Wesley Barbosa, um alagoano que recrutamos aqui na China quando ele trabalhava em Beijing, para uma empresa de Internet inglesa. Não temos propriamente um escritório e ainda estamos na fase de entender melhor como o brasileiro navega na web e fazer contato com empresas locais de Internet. De qualquer forma, já temos um produto totalmente localizado em português, o Hao123, um diretório de sites que permite ao usuário identificar os melhores sites por áreas específicas, como ciências, tecnologia, celebridades, esportes, etc.
O Baidu possui dezenas de produtos, como buscas, mapas, dicionários e serviços de música e vídeo. Podemos esperar que eles cheguem ao Brasil? Nós escolhemos o Hao123 para estrear no Brasil por que ele nos permitirá compreender melhor como pensa e age o internauta brasileiro. A partir desta experiência, poderemos definir quais serão nossos próximos passos no país. O serviço de buscas do Baidu, por exemplo, líder na China, receberá engines em dez novos idiomas, além do mandarim, e uma destas línguas certamente será o português para brasileiros.
O algoritmo criado pelo Baidu será capaz de entregar resultados relevantes em outros idiomas, que não o mandarim? A principal inovação do Baidu foi criar um algoritmo capaz de compreender as nuances das línguas orientais, como o mandarim, o japonês e o coreano. Nosso engine consegue entender com mais precisão o que os usuários querem expressar ao digitar caracteres orientais nos campos de busca. Serviços ocidentais nunca conseguiram ser muito eficazes nesta missão, tanto é assim que nosso rival em buscas, hoje, é o Sogu.com, outro serviço chinês. O lado bom de nossa tecnologia é que ela funcionará tão bem em línguas sem as nuances ou os caracteres orientais. Nosso sucesso dependerá, mais do que a eficácia do algoritmo, de montarmos uma infraestrutura poderosa para indexar as páginas em inglês ou em português espalhadas pela web, como faz o Google.
O Baidu viu suas receitas cresceram quando o Google deixou a China. Se o Facebook, enfim, decidir entrar no mercado chinês vocês perderiam mercado? O Google não saiu totalmente da China, uma vez que mantém suas operações em Hong Kong e está entre os três buscadores mais usados pelos chineses, ao lado de Baidu e Sogu. Nosso crescimento está mais relacionado à expansão da internet na China, que ganha milhares de novos usuários todos os meses. Não acredito que a expansão das receitas do Baidu seria impactada pela chegada do Facebook. Primeiro, porque o Facebook teria muitas dificuldades de operar num mercado com tantas normas e regulações como a China e, depois, porque o público local já adota suas próprias redes sociais, como o Sina Weibo (uma espécie de Twitter chinês), um serviço incrivelmente popular.
Como resposta ao Facebook, o Google desenvolveu o Google Plus. Vocês planejam criar uma rede social? Nosso principal produto social é o Baidu Post Bar, uma espécie de fórum social em que os usuários discutem temas por tópicos e compartilham suas opiniões com amigos, muitas vezes de forma anônima. Na China, este produto é um enorme sucesso, embora ainda não tenhamos tentado lançá-lo em outros idiomas, como o inglês. Somos muito cautelosos ao planejar a internacionalização de nossos serviços simplesmente porque não acreditamos que algo que funciona na China, necessariamente, funcionará em outros mercados.
O fato de existir censura na web chinesa é um obstáculo para vocês ganharem a confiança dos usuários no resto do mundo? Como uma companhia de mercado, nós queremos oferecer a melhor experiência para nossos usuários e nos esforçamos ao máximo para ampliar os horizontes de nossos internautas. Ao mesmo tempo, como qualquer companhia de internet que opere na China – e nós somos essencialmente chineses – somos obrigados a cumprir as leis de nosso país. Nosso trabalho, então, é entregar aos usuários o melhor resultado para suas buscas na web dentro dos limites que a legislação chinesa nos oferece.