Cuidados com a segurança de seu computador pessoal são tão antigos quanto a invenção destas máquinas. Mesmo na época em que os PCs não se conectavam à web, no início dos anos 90, já havia riscos de, por exemplo, um vírus infectar sua máquina via disquete.
As ameaças se tornaram progressivamente mais perigosas à medida em que se tornou imprescindível manter-se conectado o tempo todo. Uma legião de crackers, em todo o mundo, especializou-se em descobrir brechas e atacar desde computadores pessoais até redes ultraprotegidas, como as da NASA ou de centros militares.
Para os fabricantes de software, como a Microsoft, dona do Windows e do Office, e milhares de desenvolvedores autônomos evitar brechas de segurança tornou-se uma alta prioridade, uma meta tão importante quanto difícil de atingir.
Já para os desenvolvedores de soluções de segurança, o crescimento vertiginoso das ameaças representou uma grande oportunidade de negócio. No fim dos anos 90, por exemplo, marcas como Norton, Kaspersky e McAfee lutavam arduamente para conquistar o PC dos usuários, vendendo licenças de seguranças tão caras quando imprescindíveis para os consumidores. Afinal, quem poderia trabalhar e navegar em paz sem um antivírus?
Nos últimos sete anos, no entanto, desenvolvedores como AVG e Avast transformaram esse mercado e, não à toa, tornaram-se os serviços mais populares do Brasil no segmento de segurança no PC. O motivo desta rápida ascensão foi, sem dúvidas, o fato de oferecerem alternativas gratuitas para os usuários.
Este modelo, chamado de freemium, apesar de transformador, embute um método de negócios que não é, de fato, totalmente gratuito. Uma boa parte das funções de segurança é oferecida gratuitamente e alguns recursos sofisticados, como o internet security, que identifica sites maliciosos, é um recurso premium, pelo qual se paga uma licença anual. O acordo parece, até o momento, vantajoso para o usuário que obtém um certo nível de segurança sem precisar pagar.
Uma próxima etapa do desenvolvimento deste mercado poderá ser o surgimento de soluções totalmente gratuitas, em que o único pagamento que o usuário oferece é sua preferência e o aprendizado que gera para o fabricante da solução, que encontrará outras formas de monetizar sua base de usuários, que não oferecer assinatura ou publicidade invasiva.
Entre as práticas que mais causam desconforto ao usuário, no entanto, estão a instalação forçada de antivírus, que muitas vezes vêm disfarçada em sites de downloads ou atualizações de outros softwares. O recurso de oferta “em par” de software, em si, não é um desrespeito ao usuário se este tiver a fundamental opção de selecionar se quer ou não o novo programa. Quando a instalação é feita sem a autorização do usuário, de forma impositiva, sem dúvidas, configura-se um comportamento reprovável.
Outra prática controversa é a oferta “gratuita” de antivírus seguida pela exibição, não autorizada, de publicidade no desktop do usuário, um modelo de negócios ruim para o usuário.
Um exemplo disso, documentado em fórums e blogs, é praticado pela empresa PSafe. Controlada pelo Quihoo, uma companhia de internet que já enfrentou uma dezena de processos judiciais pelo mundo, a PSafe explora, no Brasil, um modelo que visa conquistar usuários que instalam seu software sem perceber.
A substituição de diferentes modelos de negócio e de plataformas ao longo dos últimos anos deve ser uma constante também ao longo dos próximos anos, com o acirramento da competição entre alternativas gratuitas, freemium, pagas ou monetizadas por publicidade.
Ao mesmo tempo em que o mercado de PCs declina frente ao avanço do comércio de dispositivos móveis, a indústria de segurança para PCs ainda terá que lidar com a preferência do usuário por soluções verdadeiramente gratuitas, eficazes e que não desrespeitem seu uso natural do computador. Um desafio para antigos e novos players deste mercado.