Carreira Dev

20 mai, 2008

O Google e as suas estratégias para organizar toda a informação do mundo – Parte 02

Publicidade

Este artigo foi baseado na entrevista que Nelson Mattos concedeu a Alexander Thoele para a swissinfo.

A primeira parte da série pode ser lida aqui.

A fim de seguir a premissa de ser o organizador de todas as informações disponíveis no mundo, o Google realiza atividades diversas no ambiente digital, que incluem as tão badaladas redes sociais, além de projetos atuais e futuros.

Redes sociais

Mattos mostra-se cauteloso em relação ao que a web 2.0 representará futuramente na internet, pois há alguns anos ninguém imaginaria que a rede tomaria essa tendência popular. Ele explica que, nos últimos dez anos, ocorreu uma redução significativa no custo dos processadores, do arquivamento e das ferramentas para a criação de conteúdo na área tecnológica. Isso possibilitou que os usuários começassem a colocar seu conteúdo na rede, o que era feito somente por empresas.

Isso também foi possível porque praticamente todas as empresas começaram a se lançar na web e a disponibilizar seus dados, permitindo aos usuários realizar transações como comprar produtos. Para o executivo, isso representa uma revolução do ponto de vista empresarial. Atualmente, a mesma revolução está ocorrendo, mas no nível dos indivíduos. “As pessoas se sentem hoje em dia livres para se expressar, colocar suas imagens, torná-las acessíveis aos amigos e parentes que moram em outro país e permitir que eles se comuniquem entre si. Antigamente, a comunicação existia em nível empresarial. Hoje em dia, é extremamente barato utilizar e-mail, acessar blogs etc”, argumenta.

Para Mattos, a única certeza que as redes sociais trazem é que elas permitirão a democratização do acesso à internet e também o aumento das possibilidades de as pessoas se expressarem. Ao Google cabe, nesse sentido, também organizar essas informações e torná-las disponíveis a quaisquer pessoas, afinal se o objetivo da empresa é organizar toda a informação do mundo, as que estão sendo produzidas nas redes sociais e pelo usuário também são informações. A estratégia da empresa não é necessariamente competir com todos os sistemas de redes sociais, mas existe a necessidade de permitir a compatibilidade e o transporte de dados entre elas, que são baseadas em plataformas técnicas totalmente diferentes.

OpenSocial

O OpenSocial tem justamente o objetivo de ser uma linguagem comum nessa área. Ele é uma plataforma que permite a troca de dados entre todos esses sistemas. Para Mattos, essa é uma tentativa de se criar uma norma que permitiria a qualquer usuário interagir nessas redes sociais e, também, às empresas criarem aplicativos com condições de rodar em todos eles.

O objetivo do Google com o OpenSocial é continuar incentivando a inovação na web e possibilitar que uma empresa de rede social crie um novo aplicativo que possa ser desenvolvido apenas uma vez, para, em seguida, ser aproveitado por todas as outras. Para Mattos, os grandes beneficiados seriam os usuários, pois muitos deles utilizam mais do que uma rede social e com interesses distintos: às vezes, um ambiente é utilizado para a área profissional e outros para a pessoal; às vezes os contatos podem ser profissionais e privados ao mesmo tempo. A lógica seria, então, uma ferramenta que permitisse que esses dados fossem extraídos de um e colocados no outro sob o controle pessoal, e um sistema aberto tornaria bastante fácil essa ação.

Google Mobile – seria a aposentadoria do computador?

O Google Mobile, cuja grande parte do seu desenvolvimento acontece no centro de pesquisas de Londres – principal foco de telefonia celular do Google -, segundo Mattos, é um projeto extremamente importante para a empresa. O motivo? Atualmente, para cada PC vendido no mercado, são vendidos três celulares. O executivo alega que em países do Terceiro Mundo já há uma grande quantidade de usuários com acesso à web pelo celular e que, provavelmente, nunca terá condições financeiras de comprar um computador. Ele acredita que as grandes questões em relação a isso são: mesmo que o preço dos PCs continue a cair e se torne acessível a todos, será que os usuários vão querer realmente utilizá-lo? Ou será que eles irão gostar tanto da interface do telefone celular, que mesmo o barateamento dos computadores não será um grande incentivo ao seu uso? Para o Google, o mobile é uma grande possibilidade de fazer com que a web e as informações disponíveis nela sejam acessíveis a qualquer usuário. Seria, então, o fim do computador? Para Mattos, ainda não. Ele afirma não conseguir se ver, nos próximos três anos, abandonando seu laptop por um celular num ambiente empresarial. Entretanto, existem pessoas que não terão acesso a um PC nos próximos anos, mas já elas têm acesso ao celular.

Em relação aos aparelhos móveis, a estratégia do Google é permitir que seus programas possam rodar em qualquer celular, repetindo o sucesso dos serviços Google em PCs. Isso já começou, visto que os aplicativos da empresa viraram febre no iPhone. A outra estratégia é criar um padrão único de sistemas para mobiles. Isso ainda não existe no mercado, tornando extremamente difícil o processo de inovação nessa área, já que praticamente cada celular possui um sistema operacional ou uma plataforma de desenvolvimento de software diferente.

Tentando ser uma alternativa nesse sentido, o Android, sistema operacional recentemente anunciado pelo Google, visa a criar uma plataforma padrão de software que tenha condições de rodar em qualquer celular. Mattos afirma que o objetivo é ser como os sistemas operacionais padrão, como o Linux e o Unix, que funcionam em qualquer hardware.

Google Applications

A função do Google com o Google Applications é contribuir para o objetivo maior da empresa: organizar as informações do mundo e fazer com que elas se tornem acessíveis a qualquer pessoa. O executivo explica que como as informações são sistemas de processamentos de textos, imagens, tabelas de cálculo e assim por diante, os aplicativos foram criados para ler e manipular esses dados. Daí surgiu a idéia de rodar esses aplicativos numa arquitetura chamada de “cloud computing” (aplicações em que os dados não ficam no computador local, mas sim na forma de uma nuvem – cloud – em um sistema distante), que possibilita ao usuário acessar seus documentos de qualquer lugar.

Ele afirma que utiliza o sistema na sua vida pessoal. Se você viaja ao Brasil para visitar parentes, por exemplo, tem condições de acessar exatamente os mesmos documentos que acessaria do país onde reside. Esse serviço permite, por exemplo, a criação de um calendário com todas as atividades. E é o que Mattos faz em suas viagens: em sua conta particular do Gmail, disponibiliza um calendário para sua família, que se encontra espalhada por diferentes lugares do Brasil e do mundo. Mais uma vez, o executivo enfatiza que o objetivo é fazer com que os dados estejam disponíveis para qualquer pessoa do mundo.

E agora?

O Google será bem sucedido na sua jornada de organizar todas as informações do mundo? Só o tempo dirá. Entretanto, as informações fornecidas por Nelson Mattos dão a dimensão da importância que a empresa dá a esse objetivo, já que ataca ferozmente todas as frentes de atuação em seu seguimento. Não é à toa que a empresa é líder no mercado de buscas há um bom tempo.