2025 foi o ano em que percebi que não havia mais volta
Em março, quando revisei o backlog de um projeto, notei algo que me fez parar por alguns segundos. Um trabalho que normalmente consumia semanas, a refatoração completa de um módulo, estava praticamente resolvido com apoio da IA. Não foi automático e não foi perfeito, mas foi a primeira vez em que senti que o meu papel dentro do time tinha mudado de fato.
De uma hora para outra, eu já não era apenas quem escrevia o código. Eu me tornava a pessoa que garante coerência, conecta decisões e ajusta o caminho. Em vários times que acompanhei ao longo do ano, a sensação era a mesma. A gente deixou de ser mão de obra e virou pensamento crítico aplicado. 2025 consolidou essa virada.
O desenvolvimento virou uma atividade híbrida
Quase ninguém mais começa um arquivo do zero. A IA virou companhia constante, desde a primeira linha de um teste até a sugestão de estrutura para um novo serviço. Só que esse movimento não reduziu o valor do desenvolvedor. Pelo contrário. Ele destacou onde realmente fazemos diferença: leitura de contexto, decisões de arquitetura, interpretação de impacto no negócio, clareza técnica e responsabilidade sobre escolhas.
Em um dos times de plataforma com que trabalhei, fizemos um experimento simples. Migramos parte de um microserviço legado para um novo padrão interno. A IA produziu grande parte do rascunho inicial, mas a decisão final, o refinamento e a proteção contra riscos vieram das pessoas. Foi quando percebemos que produtividade deixou de ser medir linhas de código e passou a medir qualidade de pensamento.
A engenharia ganhou novos papéis
Se anos anteriores foram sobre aprender IA, 2025 foi sobre reorganizar a engenharia ao redor dela. Vi funções surgirem ou se fortalecerem de uma forma que não estava no radar no começo do ano.
Platform Engineers deixaram de ser suporte e passaram a conduzir o desenho de fluxos produtivos. Especialistas em experiência de desenvolvedor começaram a influenciar decisões arquiteturais. Curadores de padrões assumiram a missão de definir caminhos recomendados para o time inteiro. Arquitetos se aproximaram do negócio como nunca.
Percebi que não adianta acelerar um time se a esteira não está pronta. 2025 foi sobre arrumar essa casa.
A pergunta que guiou o ano foi simples: isso realmente gera valor
Com a facilidade de produzir código, houve também o risco de testar coisas demais sem direção. Algumas equipes se perderam em provas de conceito que não mudavam nada no dia a dia. Em contrapartida, os times que mais cresceram foram aqueles que tinham coragem de parar e perguntar se aquilo resolvia um problema real.
Em um dos times de governança, fizemos uma triagem de automações solicitadas. Havia mais de 40 pedidos. Ao analisar o fluxo ponta a ponta, descobrimos que só sete eram essenciais. As outras não resistiram à pergunta sobre impacto e necessidade. Foi um choque e ao mesmo tempo um alívio. 2025 ensinou que velocidade só faz sentido quando está apontada para o lugar certo.
O que espero para 2026
A sensação que levo para 2026 é que a engenharia não será mais medida apenas por entregas. Será medida pela maturidade dos processos, pela segurança das decisões, pela clareza dos fluxos e pela capacidade de aprender rápido.
Vejo ambientes cada vez mais automatizados e seguros. Testes e auditorias ganhando inteligência e reduzindo o tempo de ciclo. Times menores, mas muito mais eficientes, por trabalharem em plataformas já preparadas. E, acima de tudo, vejo desenvolvedores valorizados não pela quantidade de código, mas pela qualidade das escolhas que fazem.
Fecho 2025 com a impressão de que vivemos a maior mudança desde a popularização da internet. E abro 2026 com a certeza de que estamos apenas no começo.




