Sabe o que são softskills? São alguns talentos que todo profissional precisa aprimorar para fazer diferença no mercado. Para um desenvolvedor, que costuma ser mais introspectivo, uma importante softskill é fazer networking, deixar a timidez de lado e aumentar a rede de amigos e de possibilidades. Foi exatamente isso que Lucas Santos fez. Se você se identificou, acompanhe o Dev Além do Código de hoje.
Lucas é desenvolvedor e trabalha com infraestrutura e arquitetura de aplicações de alta disponibilidade. Ele é participante ativo de comunidades, é Community Manager, organizador do ABCDev, membro do Core Team do Training Center e moderador no fórum iMasters. É Microsoft MVP, FullStack Developer e Speaker.
O início
A carreira de Lucas Santos surgiu muito naturalmente. Desde pequeno, ele sempre se interessou por computadores e outros eletrônicos. O motivo dessa aproximação se deu, principalmente, por ser mais “fechado” na escola. “Eu não era necessariamente a criança mais popular da escola.
“Não tinha tantos amigos quando eu era pequeno e acabava me voltando para outros tipos de entretenimento, como computadores e vídeo games. Ou seja, eu sempre estive muito próximo de tecnologia desde sempre”, explica Lucas.
A introspecção ajudou a aguçar a curiosidade, principalmente em relação à Internet. Logo cedo, Lucas construiu um site que seria o “jornal da escola” na época. Mas nunca foi para frente porque a maioria das hospedagens era paga e, com 10 anos de idade, ele não tinha como pagar.
“Meu pai também sempre me incentivou muito a seguir o que eu mais gosto. Eu lembro de ficar sentado com ele e meu pai me ensinava a usar o Excel. Eu via ele montando e desmontando computadores lá em casa, esse foi o início do meu gosto por computação”, explicou Lucas.
A certeza
Lucas diz que a certeza em querer seguir como desenvolvedor surgiu ao participar de fóruns de jogos online. Em um deles, acabou se tornando moderador e começou a cuidar, inclusive, do que era permitido ou proibido. Ele conta que, já naquela época, alguns gamers usavam bots, que faziam tudo sozinhos, sem que os players precisassem se esforçar no jogo.
“Isto era proibido no fórum. Então, eu tive que aprender bastante sobre bots para poder punir os membros, o que incluiu conhecer uma série de programadores que me ensinaram como fazer scripts e outros macros em Perl”, contou Lucas. A experiência o ajudou a se aprofundar em todo o ecossistema de programação.
Animado com as descobertas que fazia todos os dias com a área de programação, Lucas lembrava sempre da sua origem. Teve aulas de robótica no ensino fundamental. No ensino médio, fez escola técnica e emendou um curso de informática para se aprofundar ainda mais.
Depois da Etec, começou a buscar uma vaga no mercado. Trabalhou como professor assistente em uma escola de computação no bairro dele, no ABC Paulista. O primeiro emprego, como desenvolvedor .NET, surgiu aos 17 anos de idade, em uma empresa que o fez passar por vários testes de programação e várias provas de conceito.
Ele fazia pequenos sistemas de gestão de escritório em VB.NET Windows Forms. Como o setor já estava em ebulição, não foi difícil ser reconhecido por seu talento e conseguir uma vaga na área de tecnologia em uma startup de logística. “Fiquei lá por 5 anos, onde eu realmente me tornei o profissional que sou agora”, disse Lucas.
Desafio
iMasters – Quais desafios você enfrentou?
Lucas Santos – “É difícil dizer quais desafios já enfrentei, porém acho que os maiores desafios em qualquer área de tecnologia (e até mesmo fora dela) é lidar com pessoas. Um dos meus maiores desafios foi construir uma mentalidade de equipe e entender que todos trabalhamos juntos.”
“Isto, por si só, é um grande desafio porque é uma mudança de mindset muito grande. Tudo ficou muito mais complicado quando eu resolvi entrar de cabeça nas comunidades de desenvolvimento e conhecer ainda mais pessoas.”
iMasters – Qual foi o projeto mais difícil na sua carreira até agora?
Lucas Santos – “Enquanto estava trabalhando nesta empresa de logística que mencionei, tivemos um contrato internacional, o primeiro da empresa. Na época, éramos apenas 7 funcionários, apenas 3 programadores.”
“O contratante exigiu um time local para a instalação do sistema, tínhamos apenas um desenvolvedor Jr. que estava alocado em outro projeto, então ele estava fora de cogitação.”
“O outro era um estagiário que não podia perder as aulas da faculdade. E o terceiro era eu, com 3 meses de empresa e sem fazer faculdade. Fomos selecionados, eu e o “coordenador” de TI na época, para passar 28 dias em Lima, no Peru.”
“Eu não falava (e ainda não falo muito) uma palavra de espanhol, nem ninguém que estava comigo. A gente iria implementar um projeto novo em um sistema, que não tínhamos a menor ideia de como funcionava.”
“Os primeiros dias foram complicados por conta do local, da cultura, da comida, mas ao longo do tempo aprendemos a viver lá e conhecemos pessoas incríveis. A grande dificuldade mesmo foi em termos técnicos, estávamos integrando sistemas que não tínhamos nenhuma noção, com pessoas que não falavam a nossa língua.”
“Todo o processo foi um grande aprendizado sobre trabalho de equipe, organização e gestão de projetos. “Nesta viagem, aprendi a gerenciar não só o meu trabalho, mas o trabalho do time que estava comigo, além de gerenciar nosso tempo, porque trabalhávamos desde manhã até, muitas vezes, altas horas da madrugada. No final, foi uma experiência incrível que acrescentou muito à minha vida.”
Inteligência emocional
Lucas sempre teve a facilidade de analisar uma situação e resolvê-la. Ao longo da sua experiência profissional, aprendeu a analisar, também, pessoas. Uma característica que chama sua atenção em um profissional é a paixão pelo que faz.
“Eu acho que o que mais me chama a atenção é a paixão e a vontade de aprender. Hoje em dia, todos são tão dispersos que muitos não querem saber como as coisas funcionam, querem apenas usar ou copiar o código alheio para ‘fazer funcionar’. Quando eu encontro um profissional que tem aquele brilho nos olhos como eu tinha quando era mais novo, na mesma hora eu sei que ele ou ela compartilham da mesma paixão que eu”, disse Lucas.
O Dev acredita que algo realmente imprescindível para qualquer profissional é ter uma boa inteligência emocional. “Pessoas são mais difíceis do que o sistema mais complexo que você já fez. É difícil lidar com elas, então ter um bom relacionamento com as outras pessoas, ponderação, paciência e calma são as principais características que eu, hoje, busco para o meu time e para a empresa”, explicou.
“Ter um bom relacionamento com as outras pessoas, ponderação, paciência e calma são as principais características que eu, hoje, busco para o meu time e para a empresa”
– Lucas Santos.
Lucas afirma que “quando você tem estas qualidades é possível discutir e trocar ideias diferentes, sem que um dos lados perca a calma. Dessa forma a evolução do time é muito mais produtiva e todo o time trabalha melhor e com mais qualidade”.
Trabalho criativo
Como quase todos os desenvolvedores, Lucas tem mais facilidade para criar e desempenhar seus trabalhos nos períodos vespertino e noturno. Acordar cedo, não é com ele. O desenvolvedor sempre trabalhou em empresas descentralizadas, como startups.
“Não sou um grande fã do modelo corporativo, porque o trabalho de um desenvolvedor é muito criativo, então corporações grandes tendem a restringir um pouco isso”. O ambiente em uma startup é mais divertido, mais familiar, o que ajuda a fluir a criatividade, segundo Lucas.
“Todos são amigos, todos se conhecem, as coisas fluem muito mais, você tem acesso direto a quem toma as decisões, consequentemente você tem uma possibilidade muito maior de crescimento, em contrapartida, se tudo der errado, a sua queda também é colossal, mas estou disposto a correr o risco”, comentou Lucas.
Ele diz estar sempre motivado a fazer coisas que ainda não sabe. Ou seja, entregar nas mãos dele um projeto em que tenha que aprender e pesquisar algo novo é como um prêmio:
“Eu adoro fazer projetos usando tecnologias que eu não conheço. Eu adoro estudar e pesquisar coisas novas, eu odeio rotina, então se você quiser me motivar, venha com uma ideia de qualquer projeto muito louco ou de algo empolgante que eu vou pular dentro com certeza!”
“Eu adoro fazer projetos usando tecnologias que eu não conheço.”
– Lucas Santos
iMasters – Você já se decepcionou alguma vez com desenvolvimento web?
Lucas Santos – “Mais do que eu gostaria. Mas não com o desenvolvimento web em si, as tecnologias são incríveis e tudo está evoluindo muito rápido! Mas as vezes eu me decepciono com algumas pessoas e algumas coisas que eu vejo por ai, principalmente em questões de racismo, homofobia e etc. Como eu disse, pessoas…
“No geral a área é bem aquecida e está sempre tendo novidades, não acho que a gente vá se decepcionar muito com ela.”
iMasters – Muita gente vê o desenvolvedor como alguém que só trabalha. O que mais você faz, além de trabalhar?
Lucas Santos – “Eu acho que eu não sou uma boa pessoa para se perguntar isso. rs. Eu meio que transformei meu hobbie na minha profissão, então eu me divirto fazendo todas essas coisas. Mas além disso, tirando a parte de desenvolvimento, eu organizo algumas comunidades como o NodeBR, Vue.js SP, Training Center e alguns eventos como o ABCDev.”
“Além dessa parte de tecnologia no geral, eu sou uma pessoa bastante caseira, gosto muito de sair com amigos e gosto muito de ler também. Eu acho que todo o desenvolvedor acaba tendo esse amor pelo código e pela tecnologia.”
“Então, acabamos trazendo isso para a nossa vida pessoal e transformamos isso também em uma parte dela, vivemos isso e mergulhamos cada vez mais no que gostamos.”
Não pensar em código
iMasters – Qual o momento do dia, que você tira pra não pensar em código?
Lucas Santos – “Geralmente eu tento não pensar em código quando saio do escritório, durante a locomoção até minha casa. É um momento que eu tenho para que eu leia meus livros, veja minhas séries e tudo mais, é um tempo que eu tirei para mim, para poder fazer essas coisas.”
“Finais de semana também são mais sagrados para mim, pelo menos o Domingo, no sábado eu ainda toco coisas que não consegui durante a semana.”
iMasters – O que gosta de fazer, nas horas vagas, para se divertir ou descontrair?
Lucas Santos – “Nas horas vagas eu tenho alguns hobbies, assistir séries, ler, compartilhar memes no Facebook e jogar vídeo games estão entre os meus preferidos.”
“Outro hobbie que eu gosto é fazer cerveja. Sempre fui um grande apreciador de cerveja e decidi que gostaria de fazer a minha, então desde 2017 eu venho testando novas receitas e criando minhas próprias.”
“Além disso, eu gosto muito de cultura. Sempre que consigo, vou em cinemas, musicais e teatros. Sou um grande fã de música e vou em muitos shows, principalmente de rock e metal nacional.”
“Já cheguei a ter uma banda alguns anos atrás e foi uma época muito divertida. Ainda arranho um pouco na guitarra e baixo.”
O futuro do desenvolvedor
iMasters – Qual você acha que será o futuro dos profissionais do setor de desenvolvimento web?
Lucas Santos – “Eu acho que o futuro do programador web está, cada vez menos, em ter que ficar codando coisas. Teremos ferramentas que vão nos auxiliar melhor nisso e o futuro será, cada vez mais, planejando e arquitetando sistemas.”
“As áreas de IA e ML estão se aquecendo muito. Vejo um grande crescimento também em programação para sistemas embarcados e IoT. Então, há grandes chances de programadores web se tornarem programadores de sistemas embarcados no futuro. Mas o mais importante é: Não podemos nunca parar de estudar!”
“O mais importante é: Não podemos nunca parar de estudar!”
– Lucas Santos.
iMasters – O que você falaria para quem quer entrar na área ou já está começando?
Lucas Santos – “Há espaço para todos e todos podem crescer juntos. Minhas maiores dicas são:
Sempre estude mais, você nunca sabe o suficiente. Busque sempre ser uma referência para outros. Nunca negue ajuda a ninguém, afinal você também já esteve lá. Sempre tente encontrar a solução que seja boa para todos os lados, nunca tenha uma visão unilateral das coisas.”
“Linguagens são só ferramentas, como um martelo, não vale a pena discutir por elas. A melhor forma de aprender é ensinar, então estude, escreva algo sobre, faça uma palestra, conte sua experiência. Não tenha medo de falar em público, não tenha medo de expor suas ideias. “
“Da mesma forma, não reprima e nem desconsidere ideias de outros. Sistemas são construídos por pessoas e para pessoas, você não vai manter um projeto sozinho. Aprenda a trabalhar em equipe, seu time é sua base e são essas pessoas que vão poder te ajudar quando você mais precisar.”