Carreira Dev

4 nov, 2009

Chegou a hora dos “iPods de livros”?

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Demorou, mas finalmente estamos assistindo a uma competição de
verdade no terreno dos eReaders! O lançamento do Nook, leitor digital
de livros da rede norte-americana Barnes & Noble, já surtiu efeito
para os lados da Amazon, e o Kindle internacional está U$ 20 mais
barato.

O Nook
é parecidíssimo com o Kindle em diversos aspectos, mas a telinha
colorida touchscreen que fica embaixo é a cereja do sundae. Isso deixa
mais espaço para o livro em si, já que sempre achei um desperdício
aqueles botões todos do Kindle. Outra grande sacada foi a possibilidade
de poder emprestar o e-book para amigos por 2 semanas, algo que todo
mundo fez a vida inteira com os livros de papel, mas com a vantagem de
não ter que ficar pedindo de volta depois

A B&N permite a leitura gratuita de qualquer e-book quando se
estiver dentro de uma loja física. Além do mais, o Nook roda o Android
OS, o que abre uma imensa possibilidade de melhorias a partir do
desenvolvimento de aplicativos e plug-ins. Pena que não há um “Nook
internacional”, por enquanto seu uso é restrito ao território dos EUA.

Em um curtíssimo espaço de tempo, além de derrubar o preço do Kindle, a Amazon anunciou uma versão do leitor para PCs no dia do lançamento do Windows 7. E, poucos dias depois, disse que uma versão para Mac também está a caminho. Graças à tecnologia WhisperSync, será possível retomar a leitura de um livro no PC exatamente onde se parou no Kindle, e vice-versa.

O que é que um pouquinho de concorrência não faz, heim? 

De quem é o livro?

Toda essa guerra de eReaders entre as grandes livrarias é muito
bem-vinda, mas acredito que ainda estamos longe da era do “iPod dos
livros”. É muito prático, realmente, comprar e baixar um livro com um
toque de botão, podendo iniciar sua leitura imediatamente. Mas o
universo que cerca os leitores digitais é repleto de restrições e
bloqueios, de forma que quem decide o que é feito com os livros é a
loja, e não o usuário.

Prova disso foi o fiasco do apagamento deliberado de 2 livros de George Orwell dos Kindles dos usuários.
Por questões de licenciamento, a Amazon de um dia para o outro removeu
os livros dos usuários e deu um ressarcimento no valor correspondente
para outras compras na loja. É como se, na calada da noite, o dono da
livraria entrasse na sua casa, pegasse um livro de volta e deixasse em
cima da mesa o dinheiro.

O CEO Jeff Bezos se desculpou em seguida e disse que isso não
aconteceria mais. Mas quem garante? Esse sentimento de insegurança é
uma barreira imensa para o sucesso desse modelo de negócios. Assim
como gostamos de possuir as músicas que compramos, também gostamos de
ser donos dos nossos livros, e queremos ter a certeza de que eles estarão à mão quando precisarmos.
Se você gosta de fazer anotações no
livro (algo possível nesses leitores digitais), não dá um calafrio na
espinha só de pensar em perder tudo? Ou melhor, em ter tudo tirado de você?

Embora tenha ares de “mais independente”, o leitor de livros da Sony
passa pelas mesmas restrições. A não ser que surja no mercado um leitor
totalmente aberto e independente, quem quiser comprar e ler livros num
eReader terá que estar de acordo com todas as regras impostas pelo
fabricante.

Será que as pessoas se acostumariam à idéia de que, no mundo dos eReaders, elas possuem uma licença de um livro, e não o próprio livro?

Jornais iludidos

Quem enxerga os leitores digitais como a salvação que caiu do céu
são os jornais. No Kindle, é possível receber diariamente as edições de
diversos jornais de todo o mundo (incluindo o brasileiro O Globo) por preços que variam de U$ 10 a 28 por mês.

Não sei se é ingenuidade ou ignorância, mas será que eles ainda não
entenderam que a internet os está derrotando por motivos muito mais
profundos do que a mera transição de papel para bits? Na web, pode-se
pular de um veículo noticioso para outro com imensa facilidade, não
adianta nada a mesquinharia de links que eles adotam. Pode-se ler o que
quiser em qualquer computador ou dispositivo móvel, a hora que se
desejar. Na web, pode-se interagir e até criar seu próprio conteúdo.

Os grandes publishers estão empolgadíssimos e certos de que
recuperarão as assinaturas perdidas e são os que mais torcem pela
popularização dos eReaders. Coitados.