Em tempos de transformação digital acelerada, as ferramentas low code se espalharam pelo mercado oferecendo modelos e técnicas mais simples para o usuário. A promessa é de menos códigos, mais rapidez e melhor custo-benefício para as organizações.
O resultado final, no entanto, pode não atender a essa expectativa.
Certamente há muitos benefícios no uso de ferramentas low code, mas também há mitos e dúvidas envolvendo esse conceito. E, muitas vezes, a utilização dessas ferramentas é ineficiente e improdutiva, acarretando em danos às empresas.
Ainda que não seja capaz de resolver todos os problemas de uma organização, o low code pode ter papel decisivo em uma arquitetura moderna e flexível, essencial para qualquer empresa que deseja implementar a inovação e se conectar a todas as plataformas e soluções que certamente surgirão nos próximos anos.
Simplicidade e eficiência sempre estiveram em pauta
A busca por menos codificação não é exatamente uma novidade. Um olhar pela história da tecnologia revela a nossa tentativa constante de acelerar os processos e torná-los menos burocráticos.
As ferramentas CASE (Computer-Aided Software Engineering), por exemplo, nasceram dessa necessidade. Elas serviam para atender demandas simples da área de negócios, sem precisar envolver os desenvolvedores na construção da solução.
Não deu muito certo, porque o trabalho era muito mais complexo do que aquelas ferramentas eram capazes de entregar. Mas a tecnologia não parou por aí.
Logo surgiram as ferramentas BPM (Business Process Management), fundamentais no apoio aos processos de negócio. Elas permitiram que o usuário desenhasse os fluxos, mas com toda a tecnologia implementada por trás. Isso, por si só, já representava um uso preliminar do low code.
Mas a revolução no mercado aconteceu, mesmo, com a crescente digitalização impulsionada por players que ofereciam uma experiência inovadora, como Netflix e Airbnb. De repente, todos queriam oferecer ao cliente a mesma experiência diferenciada que essas empresas disruptivas entregavam a seus usuários.
Como o TI das empresas simplesmente não tinha como acompanhar essa demanda do mercado – afinal, estava sobrecarregado com outras tarefas –, as ferramentas low code foram ganhando cada vez mais espaço.
Mais agilidade e flexibilidade
Apesar dessa consolidação, ainda há muitas dúvidas sobre os benefícios trazidos pelo low code.
Uma das principais vantagens é o time to market. Se a empresa precisa lançar urgentemente uma análise baseada num conjunto de dados, ela pode acelerar o processo utilizando um algoritmo que já está fabricado. Caso ela precise lançar um app, é só utilizar uma solução e soltar rapidamente no mercado.
Isso também vale para o complexo processo de integração. Quem quiser, rapidamente, conectar sistemas, com segurança no fluxo de dados, pode utilizar padrões já pré-fabricados em uma ferramenta específica, em vez de gastar horas de um desenvolvedor para isso.
No caso da Digibee, integradora de tecnologia da qual sou CTO, temos uma plataforma flexível que norteia o cliente e já dá os blocos de construção prontos para que ele implemente essa integração com muito mais rapidez e segurança. Assim, o cliente pode se dedicar ao que realmente importa no projeto e deixar a parte de integração com os especialistas nesse trabalho.
Independentemente da abordagem, o ponto mais importante é que a ferramenta seja flexível e não retire o poder de decisão da empresa. Ela precisa abstrair a complexidade que está por trás dos códigos, mas não pode engessar essa decisão a uma ou outra opção de formato. Uma solução de integração bem construída tem opções suficientes para proporcionar uma arquitetura da integração moderna, que dê flexibilidade e, assim, destrave a inovação.
O low code é suporte, não ameaça
A disseminação do low code também rendeu duas teorias que, na minha visão, são completamente equivocadas: que essas ferramentas estão tirando a complexidade da TI e ameaçando o trabalho do desenvolvedor.
Nem uma coisa, nem outra.
Em TI, a complexidade funciona de forma cíclica. A cada nova ideia implementada, resolvemos algumas questões – e criamos novas. Os microsserviços são um bom exemplo. Ao contrário dos antigos sistemas monolíticos, as peças agora são individuais, flexíveis, menos complexas de se atualizar. Por serem menores, cabem mais facilmente na cabeça do time de desenvolvedores que está trabalhando nela, diminuindo o risco de mudanças e permitindo que novas ideias possam ser entregues mais rapidamente.
A flexibilidade está lá, mas a complexidade também. Afinal, fazer a comunicação entre essas pequenas peças (os microsserviços), que muitas vezes são de empresas diferentes, não é uma tarefa trivial.
A tendência não é que a complexidade diminua. Pelo contrário: ela irá se transformar e, em alguns momentos, até aumentar, já que o número de conexões que as empresas terão, tanto internamente como externamente, tende a crescer exponencialmente.
Os desenvolvedores também têm seu espaço garantido nesse novo cenário. O low code chega para otimizar o trabalho deles, não para substituí-lo. As ferramentas servem como um acelerador que permite ao desenvolvedor focar atividades mais estratégicas.
O profissional se dedicará a tarefas mais importantes: desenvolver um novo app, atentar a um algoritmo relevante, construir uma nova ferramenta etc. O resto, que pode ser automatizado de forma inteligente, fica nas mãos de ferramentas que façam uso do low code.
O mundo, mais do que nunca, precisa dos desenvolvedores, e para realmente tê-los nos projetos, precisamos destravar o seu backlog para que possam fazer a inovação acontecer.