Há poucos dias em uma reunião com o CEO e o CIO de uma grande empresa industrial, surgiu uma discussão interessante: até que ponto a empresa deles, uma indústria, deve se inserir no mundo digital? Claro que não existem respostas únicas, mas lembrei uma frase do Walter Wriston, falecido CEO do Citicorp/Citibank e famoso por introduzir inovações como as ATMs. Certa vez ele disse que “information about money has become almost as importante as money itself”. Substitua “money” pelo produto que vocês fabricam e talvez tenhamos a resposta…
Na verdade, todos os negócios modernos estão se tornando negócios digitais, governados por software. As empresas tornam-se cada vez mais “software enabled enterprises”. Recomendo uma profunda reflexão sobre o assunto, após uma atenta leitura da entrevista de Marc Andreesen, criador do Mosaic e Netscape, ao WSJ: “Why software is eating the world”. É de 2011, mas de lá para cá o processo se acelerou. O que é a Airbnb, que está afetando a indústria hoteleira? Uma empresa de software. O que é são EasyTaxi e Uber, que recolucionam a velha indústria de táxis? Empresas de software.
O que isto significa? Que questões tecnológicas, antes restritas ao hermético mundo dos profissionais de tecnologia e do setor de TI, devem ser debatidas sem tecnicismos com os CEOs e demais C-levels das empresas. E o CIO tem, caso queira assumir, papel preponderante neste movimento.
Vamos citar um exemplo. Outro dia comentei sobre APIs (Application Program Interfaces) com um CIO e ele me disse que isso era uma questão dos seus arquitetos e que ele nem queria saber sobre o assunto. Aliás, não sabia. Errado! APIs não são meras questões de tecnologia. São questões de negócio. APIs são o centro do que podemos chamar “API Economy” ou APInomics, que pode ser definida como “API Economy is the comercial exchange of information resources facilited by exposing your entity´s core information resources to an ecosystem of developers through an Internet based application interface (API) and combining the information resources exposed by other entities´s APIs to build new informations resources”.
Outra definição que coletei “All commerce generated by the business of providing, consuming, integrating, and adding value to data (and thus often to products and services) via application program interfaces (APIs) that create economic value”. Chamo a atenção para as palavras comercial e valor econômico. Negócios por definição. A “API Economy” não está restrita às empresas do mundo da Internet, mas a todos os negócios. Para reafirmar que é uma questão de negócios e estratégica para o reposicionamento da TI dentro da organização, leiam também este artigo de uma revista de negócios, a Forbes, “Welcome to the API Economy”.
Estamos vivenciando uma verdadeira mudança de paradigmas no pensar do papel da tradicional TI nas empresas. Estamos vendo a junção de uma “data-driven” society”, onde dados ocultos são revelados e nos mostram correlações surpreendentes, que modificam nossa maneira de ver o mundo (e nossos clientes, nossos processos, etc) com a onipresente mobilidade, nos obrigando a rever profundamente o papel de como a TI atua nas nossas empresas. Precisamos criar aplicações modernas que reflitam este novo olhar sobre a TI. Os sistemas que desenvolvemos e mantemos nas últimas duas décadas foram desenhados e construídos para um mundo diferente do que existe hoje. Há dez anos não existiam iPhone, iPad, Facebook… Nosso mundo era cliente-servidor com incipiente comércio eletrônico onde navegávamos pela web. As aplicações de hoje devem ser omnichannel (adaptativas a qualquer dispositivo que o usuário use no momento), elásticas (aproveitando o potencial de elasticidade da computação em nuvem), contextuais, intuitivas na sua interface com o usuário e API-oriented.
Mas aqui neste artigo quero concentrar a atenções nas APIs e na “API Economy”. E vamos sair do mundo dos arquitetos de software e entrar no dos CIOs e CEOs. Sair da tecnologia e entrar no mundo dos negócios. Aí está a importância das APIs. Embora o termo esteja entre nós há muitos anos, ele ficou até agora restrito ao profissionais de tecnologia. Com uma maior compreensão que uma estratégia de APIs movimenta novos negócios (graças à visão inovadora do Jeff Bezos, da Amazon, que mostrou o caminho, com sua proposta de Amazon Store API – este comentário mostra como ele levava a sério esta questão) o conceito começou a despertar interesse de executivos de empresas de diversos setores, sejam empresas do mundo da Internet, ou de outros setores tão diversos.
O Gartner, já captando este interesse, estimou que até 2017, cerca de 75% das empresas da lista Fortune 1000 estarão oferecendo APIs públicas pela web para comunidades de desenvolvedores. Portanto, os CIOs não podem ignorar este assunto. Em poucos anos os seus CEOs o chamarão um dia para debater esta tal de API e o que sua TI está planejando fazer (e por que ainda não o fez).
Entrar na “API economy” implica em uma clara estratégia de usar TI para gerar novas receitas. Demanda desenhar uma estratégia de APIs e um modelo de receitas (como ganhar dinheiro com as APIs) e existem diversos modelos de negócios. Vale a pena passar os olhos pela apresentação no SlideShare de John Musser sobre modelos de negócio de APIs. E prestar atenção ao que ele frisa: estratégia de API não é um modelo de negócios de APIs.
Existem diversos modelos de negócios, mas antes de tudo é necessário definir a sua estratégia para o mundo das APIs. Onde a empresa quer chegar? Como alavancar um ecossistema de desenvolvedores que tenham interesse em usar APIs e criar novas soluções a partir delas? E porque e como sua empresa vai ganhar com isso?
Uma recomendação final: leiam mais e desenvolvam uma estratégia de APIs. Uma frase de Kin Lane, da APIEvangelist, sintetiza bem: “APIs are quickly becoming mainstream, and by 2015 they will be default for businesses in just about any business sector”. Talvez 2015 seja cedo, mas adicione alguns poucos anos a mais e a frase fará todo sentido. Vamos deixar o trem passar pela estação, sem embarcar nele?