Desenvolvimento

12 nov, 2018

A centricidade do consumidor no processo de desenvolvimento de negócios e as diferentes abordagens para a criação de valor

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Abordagens centradas no usuário estão se espalhando em aplicabilidade e importância estratégica, mas quando e como utilizar os principais frameworks de trabalho nas equipes de desenvolvimento?

Das diversas técnicas que temos hoje para nos auxiliar na criação de valor para nossos negócios, aquelas que buscam a conexão com os usuários para, de forma ágil e assertiva, criar uma experiência positiva e gerar consumidores mais engajados e valiosos estão sendo usadas nos mais diversos tipos de empresas e setores. Mas, apesar disso, algumas dessas técnicas continuam sendo usadas sem o entendimento de onde elas podem ser mais adequadas.

A importância estratégica das empresas em se tornarem mais centradas em seus consumidores é uma unanimidade. Diversas das consultorias estratégicas mundiais estão trabalhando com a criação de estratégias de transformação de negócios para essa adequação, mas precisamos desmitificar a utilização das principais abordagens ferramentais quando queremos criar novos serviços, produtos, experiências ou até mesmo novos negócios.

Vamos explorar alguns desses métodos.

Design Thinking

O design centrado no usuário é o grande método por trás do Design Thinking. Usamos esta abordagem quando queremos entender mais profundamente o contexto do problema a ser solucionado e os padrões de comportamento de usuários – principalmente dos mais inovadores e primeiros adeptos (early-adopters).

Conduzindo pesquisas etnográficas para buscar a razão do comportamento dos usuários, conseguimos entender quais são os princípios direcionadores para a criação de uma solução que vai gerar valor para nossos futuros clientes.

As formas de aplicação hoje são amplamente conhecidas e existem diversos frameworks de aplicação da metodologia, como o duplo diamante (Double Diamond). A busca por insights e dados sobre necessidades não estruturadas dos usuários são essenciais para o entendimento de quais são os fatores geradores de valor e de como uma potencial solução deveria se conformar.

O exercício de divergência e criação de possibilidades através de uma ideação focada com base nesses princípios funciona para a criação de protótipos que, no Design Thinking, têm a função de testar os limites de percepção de valor do usuário.

No Design Thinking, as técnicas de pesquisa e etnografia utilizadas nos ajudam a perceber sutilezas essenciais para a criação de um caminho de resposta, mas também – e principalmente – a aprofundar nosso conhecimento sobre o ambiente onde nosso problema está inserido.

Lean Startup

Apesar de carregar no nome o termo Startup, esta abordagem já não é mais utilizada apenas por empresas nascentes. Muitas corporações têm utilizado as ferramentas descritas no método para criar valor de forma mais ágil.

A diferença básica entre o uso do Lean Startup e do Design Thinking é o conhecimento que a equipe tem sobre o contexto do problema e das diretrizes de criação de valor para os usuários potenciais. E mesmo com o time de Lean considerando inicialmente todos os dados e caminhos como hipóteses a serem validadas, o processo se inicia com a especificação e a priorização de premissas do negócio (produto ou serviço) a ser criado. O time então começa o trabalho de validação dessas premissas a partir daquelas consideradas mais importantes para a criação de valor do produto.

Criam-se experimentos (build), testam-se suas premissas (measure) e aprendem-se quais são os melhores caminhos para a solução de um problema (learn). No Lean Startup, usam-se métodos quantitativos para capturar dados e medir a efetividade das soluções propostas e que serão priorizadas para garantir a escalabilidade das soluções.

Lean Inception

Ao longo de um processo de desenvolvimento mais avançado do que será uma oferta – produto ou serviço –, faz sentido testar com os stakeholders o “o que” de fato precisa ser desenvolvido enquanto produto minimamente viável (Minimum Viable Product – MVP).

Nesse sentido, a Lean Inception é uma forma de criar e demonstrar para um time misto entre desenvolvedores e representantes dos usuários finais “o que” deverá ser o produto.

Na Lean Inception, são exploradas quais serão as principais funcionalidades e como elas deverão interagir com os usuários para garantir o engajamento e a criação de valor. Ela é utilizada, portanto, para planejar o escopo de um produto, levantar requisitos e definir uma estratégia de entrega.

Design Sprint

Uma abordagem criada inicialmente pela equipe do Google Ventures, os sprints de design se inspiram nos métodos de Lean UX descritos e utilizados na criação de startups enxutas (Lean Startups). A base da metodologia é conseguir compartilhar insights, ter ideias de solução, prototipar e testar conceitos em um período imersivo de cinco dias.

Em geral, a equipe que vai passar por um Design Sprint escolhe uma parte de uma solução a ser implementada e utiliza o método para testar rapidamente se o caminho escolhido para a resposta está correto ou não.

Nesse caso, o começo do processo pressupõe que os participantes já estão mais cientes do contexto do problema e já possuem um ponto de vista definido a ser explorado. E, principalmente nos Sprints, o time tenta se aprofundar no “como” uma oferta precisa ser desenvolvida.

Apesar de o nome às vezes ser relacionado ao Design Thinking, os Design Sprints em geral são utilizados em uma fase mais madura do desenvolvimento de negócios que é coincidente com as abordagens do Lean Startup.

Agile

Criado para lidar com as incertezas inerentes aos processos de desenvolvimento, no Agile encontramos um framework para trabalhar em equipe, como uma célula de projetos com um mesmo objetivo, e com tarefas e metas compartilhadas. Promovem-se ciclos de feedback rápido não apenas sobre o produto a ser desenvolvido, mas também sobre o próprio processo de trabalho.

Em seus ciclos, deve-se definir e priorizar um backlog de trabalho a ser desenvolvido, e criam-se pequenos sprints buscando testar rapidamente as partes que formam o produto a ser desenvolvido.

Growth Hacking

As ferramentas e técnicas de Growth Hacking são utilizadas para orientar a fase de ganho de escala, ou seja, é também uma forma de trabalhar na fase de crescimento inicial (adoção) de um produto ou serviço novo.

É claro que, apesar de inicialmente ser associado com essas fases emergentes dos negócios, o Growth Hacking também é utilizado por empresas já estabelecidas e que buscam repensar seus esforços orientando-se por métricas e iteração com seus usuários.

Baseado na criação de hipóteses e experimentos rápidos, os consumidores-alvo (targets) e os canais de aquisição e crescimento são testados com propostas que vão direcionar as melhores práticas para atingir seus consumidores e garantir que uma ideia se torne de fato inovação: gerando resultados.

Todas essas abordagens, frameworks ou ferramentas possuem algumas características comuns e coincidentes. Por exemplo, todas elas se baseiam na interação com usuários e no teste e aprendizado rápido entre a proposta que está sendo desenvolvida e a percepção de valor. O trabalho em times interdisciplinares, com propósitos bem definidos e com alta capacidade de ajustes de escopo, também está presente em todas elas.

Há pelo menos dois caminhos para direcionar a escolha de qual das abordagens descritas neste artigo pode ser utilizada. Em primeiro lugar, é preciso entender qual é o nível de entendimento que o time possui sobre o problema e o usuário – tenho chamado essa característica de “entendimento do fenômeno” – ou, simplesmente, entendimento sobre o contexto do problema/solução. Em segundo lugar, podemos usar a incerteza sobre o modelo de negócios, ou seja, quão validado está um modelo de negócios.

A ordem apresentada neste artigo é, em minha visão, uma forma concatenada para o uso híbrido das abordagens descritas. O Design Thinking é ideal para criarmos o nível de entendimento do problema e do usuário.

A Lean Inception é uma forma de definir “o que” deveria ser um MVP, e os Design Sprints podem ser utilizados para testar e desenvolver o “como” entregar o MVP.

Estas duas últimas são utilizadas em um contexto de desenvolvimento enxuto (Lean Startup), e que se conectam com os frameworks ágeis para o desenvolvimento de produtos que serão escalados através de Growth Hacking.

Essa grande quantidade de formatos e a publicidade desses métodos têm criado uma confusão na cabeça dos gestores, que é justificada a partir dessa grande quantidade de termos novos.

Uma “sopa de letrinhas” que tem se tornado cada vez mais importante para a criação de valor em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (VICA) e também em um ambiente altamente competitivo e globalizado – cenário especialmente preocupante para não só empresas de tecnologia, mas para aquelas que desejam ser e se manter como empresas inovadoras.

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Artigo publicado na revista iMasters, edição #28: https://issuu.com/imasters/docs/imasters_28_v5_issuu