O linguista francês, Émile Benveniste (1902 – 1976) dizia que a linguagem é um sistema de signos socializado, ou seja, seus elementos só adquirem significado quando inseridos em contextos de inter-relação, pois cada signo por si só não possui significado relevante.
Por este motivo é que os conceitos de linguagem e cultura não existem isoladamente, cada cultura, cada época e cada tecnologia constrói e articula sua linguagem de maneira a atender seus mais variados interesses e necessidades. Nada mais atual em tempos de big data e da avalanche de informações provida pelos conteúdos das redes sociais!
O signo é átomo da linguagem, ele é a unidade fundamental de entendimento de um código e pode ser decomposto em dois níveis de compreensão:
- Significante: É o elemento tangível, perceptível, material do signo.
- Significado: É o conceito, o ente abstrato do signo.
Vamos tentar exemplificar: Podemos ouvir o som ou ver a grafia da palavra “lápis” se ela for dita ou escrita. Esse som ou essa imagem são significantes de um só significado, o conceito de um “lápis – instrumento para escrever ou desenhar geralmente construído a partir de pedaço de grafite revestido de madeira”. Este significado pode ser explicitado em um objeto real, atribuindo-se a ele uma instância, um referente:
- O meu lápis 6B.
- O lápis que está dento do seu estojo.
- O lápis vermelho que está em cima da mesa.
O conjunto de signos dentro de uma linguagem e mais especificamente dentro de uma língua é conhecido como léxico, por exemplo, o iDicionário Aulete (Projeto Caldas Aulete, desenvolvido pela Lexikon) aponta mais de 818 mil verbetes para a língua portuguesa, incluindo definições e locuções em constante atualização. O léxico pode ser agrupado em subgrupos específicos como, por exemplo, o léxico da engenharia, o léxico da arquitetura, o léxico de Machado de Assis. Teoricamente o léxico de uma língua é infinito!
O léxico é organizado e articulado através de um conjunto de regras conhecido com sintaxe, é ela que permite transformar conjuntos de elementos em elementos estruturados. Segundo a Gramática de Faraco & Moura, na língua portuguesa a sintaxe define:
- A concordância, que estabelece regras para a flexão das palavras em gênero, número, grau e pessoa.
A regência, que define a relação entre palavras e expressões. - A colocação, que organiza a ordem das palavras dentro de uma frase e das frases dentro do texto.
- A análise sintática, que classifica a função das palavras e orações.
Para o profissional de comunicação digital, que pensa, cria e compartilha conteúdo é fundamental o conhecimento dos aspectos que envolvem a estruturação da linguagem, pois a combinação das múltiplas linguagens, verbais e não verbais, cria sistemas auto representativos onde a fusão interativa de elementos propicia uma maior consistência e eficiência no processo comunicacional, o que costumamos chamar de Multimídia, Convergência Multimidiática, Transmídia & Cia.
Também na web, o conhecimento da estruturação linguística é fundamental, não esquecendo que a linguagem utilizada pelos navegadores, o HTML, não é uma linguagem de programação, mas sim de marcação.
As linguagens de marcação remontam da época em que os profissionais revisores de textos marcavam indicações nos documentos de maneira que estes elementos fossem facilmente reconhecidos dentro texto final que seria entregue para o leitor. Na moderna indústria editorial, hoje totalmente digitalizada, as linguagens de marcação permitem a comunicação entre autores, editores e impressoras.
Além do segmento editorial, as linguagens de marcação são amplamente utilizadas na web em outros setores que demandem a interoperabilidade entre dispositivos, sistemas e plataformas distintas.
As atuais linguagens de marcação têm como ancestral comum o SGML (Standard Generalized Markup Language) que por sua vez evoluiu da GML (Generalized Markup Language) desenvolvida pela IBM no começo da década na década de 60 por Charles Goldfarg, Edward Mosher e Raymond Lorie. O SGML surgiu aproximadamente na mesma época da Internet e do sistema Unix.
Algumas linguagens de marcação, como o HTML, aceitam formatação semântica de apresentação, ou seja, permitem que se defina de que maneira a informação será mostrada para o usuário, especificando cor, tamanho, tipografia, diagramação e demais elementos visuais, outras, como o XML não possuem uma semântica de apresentação predefinida.
É possível estabelecer uma abordagem linguística para o estudo, interpretação e uso das linguagens de marcação na WEB, principalmente em se tratando de HTML5 aonde a semântica (ainda vamos falar muito dela) tem um papel fundamental.
Português | HTML | |
Signo | Lápis | table |
Significante | A palavra lápis grafada corretamente: lápis | O elemento table grafado corretamente: <table> |
Significado | Instrumento para escrever ou desenhar geralmente construído a partir de pedaço de grafite revestido de madeira | Elemento que representa dados em pelo menos duas dimensões no formato de tabela |
Léxico | É o vocabulário, o conjunto das palavras: casa, pedra, sapato… | São todos os elementos do HTML, o conjunto das tags: title, article, video… |
Sintaxe | São as regras de concordância, regência, construção e disposição dos elementos. | São as regras de construção e disposição dos elementos, regras para fechamento e/ou aninhamento elementos, regras para uso de aspas e barras. |
Referente | O lápis vermelho em cima da mesa. | <table id=”precos” class=”colorida”> |
Mesmo que ainda não “mergulhamos” totalmente nas implicações semânticas do HTML5, é possível constatar importância da estruturação e aplicação correta do código e da sintaxe do HTML em qualquer de suas versões para garantir que a parceria significado / referente estabeleça uma relação de verossimilhança com os objetos e conteúdos aos quais desejamos exibir e distribuir.
Este cuidado no uso da linguagem potencializa a eficácia da indexação do conteúdo e da compreensão da mensagem e permite a reutilização de dados por diferentes sistemas e dispositivos.
Não menospreze o poder de uma única linha de código, de um elemento textual / imagético, de uma melhor prática de uso da sintaxe e dos significados, estes itens podem ser a diferença no universo do big data, garantindo que seu conteúdo, produto ou serviço tenha a relevância pretendida.