Com o grande crescimento recente da Concrete Solutions, estamos trabalhando em uma série de posts para explicitar a nossa forma de trabalhar com as tecnologias que mais usamos. A ideia é orientar tanto os novos “concreteiros” quanto leitores que por ventura se interessem pelo nosso formato. Recentemente, o Thiago Lioy fez esse post com nossas práticas de iOS. Hoje, é a vez de falarmos sobre AngularJS.
Motivação
Existem diversos frameworks de JavaScript atualmente. Então por que você deveria usar AngularJS em vez dos outros?
Modularização
A modularização facilita o desenvolvimento, a configuração e principalmente os testes da sua aplicação. O AngularJS vem com um mecanismo de Injeção de Dependências built-in, por exemplo, que transforma a tarefa de dividir a sua aplicação em pequenos módulos em algo trivial.
Two-way Data Binding
Uma das features mais polêmicas do AngularJS é o Two-way Data Binding. Apesar de ser muito útil e um dos grandes fatores para o sucesso do framework no início, ela pode apresentar problemas de performance caso não seja usada corretamente.
Extensibilidade
Poder estender o HTML com o AngularJS, usando diretivas, é a feature mais incrível do framework. Diretivas são poderosas ferramentas para modificar e manipular o DOM, além de ter a facilidade de reuso em toda a aplicação.
Ferramentas
Sublime Text
O editor mais usado para desenvolver aplicações com AngularJS continua sendo o Sublime Text. Além de ser bem leve e fácil de usar, ele possui um package (plugin) específico para o AngularJS.
Jasmine
O Jasmine foi desenvolvido para ser usado em BDD (behavior-driven development), porém geralmente é usado em AngularJS para testes unitários e TDD (test-driven development).
Karma
Karma é um test runner feito para o AngularJS (apesar de atualmente você poder usá-lo com outros frameworks JavaScript). O principal objetivo do Karma é automatizar os testes em diversos browsers com um simples comando. Uma das vantagens é que ele suporta diversos tipos de testes, como unitários, de integração e E2E.
Bower
O Bower, criado como um projeto open source do Twitter, foi desenvolvido para facilitar o uso de bibliotecas e pacotes em um projeto web. É possível inclusive, desenvolver pacotes próprios e distribuí-los em diferentes projetos de forma fácil.
Grunt
Em diversas ocasiões, nós desenvolvedores enfrentamos tarefas repetitivas que podem ser facilmente automatizadas. É aí que entra o Grunt. Ele é usado para: minificação, linting de JavaScript e geração de builds.
Exemplo de aplicação
Setup
Para começarmos o nosso setup, precisamos instalar o Bower. Assumindo que você já tem o NPM instalado, precisamos apenas de:
$ npm install -g bower
Agora, crie uma pasta chamada app-exemplo, entre nela e crie um arquivo de configuração do Bower:
$ mkdir app-exemplo $ cd app-exemplo $ bower init
Aceite todos os defaults e o seu bower.json deverá estar próximo disto:
/// bower.json
{ "name": "app-exemplo", "version": "0.0.0", "authors": [ "Matheus Lima <matheusml90@gmail.com>" ], "license": "MIT", "ignore": [ "**/.*", "node_modules", "bower_components", "test", "tests" ] }
Agora, para instalar o AngularJS, devemos adicionar a dependência no Bower. E para isso basta digitar:
$ bower install --save angular
Observe que foi criada uma pasta chamada bower_components. Nessa pasta estarão todas as dependências do Bower. Além disso, o arquivo bower.json foi automaticamente modificado, ficando desta forma:
/// bower.json
{ "name": "app-exemplo", "version": "0.0.0", "authors": [ "Matheus Lima <matheusml90@gmail.com>" ], "license": "MIT", "ignore": [ "**/.*", "node_modules", "bower_components", "test", "tests" ], "dependencies": { "angular": "~1.4.3" } }
É altamente recomendável adicionar a pasta bower_components no .gitignore. Para fazermos isso, basta primeiramente criar o arquivo:
$ touch .gitignore
E dentro do .gitignore, precisamos deixá-lo desta forma:
/// .gitignore bower_components
Agora, falta criar o index.html da nossa aplicação:
$ mkdir app $ cd app $ touch index.html
E, nele, importar o arquivo minificado do AngularJS que veio do Bower, para que a aplicação possa funcionar.
/// index.html <html> <head> <title>AngularJS</title> </head> <body> <h1>AngularJS</h1> <script type="application/javascript" src="../bower_components/angular/angular.min.js"></script> </body> </html>
Precisamos também de um servidor para rodar nossa aplicação e ver que nosso index.html funciona. Vamos usar o http-server, que pode ser baixado pelo NPM:
$ npm install -g http-server $ cd .. $ http-server
Agora, basta entrar em http://localhost:8080/ e devemos visualizar algo próximo disto:
Para padronizar e facilitar o start e os testes da aplicação, precisamos configurar um package.json (que é utilizado pelo NPM):
$ npm init
Aceite todos os defaults e ele deverá ficar semelhante a isto:
//package.json { “name”: “app-exemplo”, “version”: “1.0.0”, “description”: “”, “main”: “index.js”, “scripts”: { “test”: “echo \”Error: no test specified\” && exit 1" }, “author”: “”, “license”: “ISC” }
Para que possamos iniciar a aplicação com apenas um comando, vamos editar o arquivo adicionando apenas uma linha:
///package.json { “name”: “app-exemplo”, “version”: “1.0.0”, “description”: “”, “main”: “index.js”, “scripts”: { "start": "http-server ./app -a localhost -p 8080", “test”: “echo \”Error: no test specified\” && exit 1" }, “author”: “”, “license”: “ISC” }
Com essa modificação, podemos rodar a aplicação da seguinte forma:
$ npm start
E acessando http://localhost:8080/ você deverá ver isto:
Arquitetura
Agora que fizemos o setup básico, podemos partir para o modelo de arquitetura de aplicações em AngularJS que usamos aqui na Concrete Solutions.
1. Estrutura
Todos os nossos Controllers, Services, Factories e Diretivas seguem a mesma estrutura:
(function() { 'use strict'; angular .module('app') .controller('AuthController', AuthController); function AuthController() { /* código */ } })();
Se você não entendeu a primeira e a última linhas, esse padrão bem comum em projetos com JavaScript é chamado de IIFE. Recomendo este texto para você entender todos os detalhes dele.
Outro padrão bem comum que nós usamos é o ‘use strict’, que serve resumidamente para melhorar o processo de verificação de erros no código.
E, por último, vale notar que nós usamos uma abordagem Top-Down, em que as declarações ficam na parte de cima do arquivo, e a implementação fica em baixo.
2. Injeção de Dependências
Nós usamos o método $inject para fazer DI:
(function() { 'use strict'; angular .module('app') .controller('AuthController', AuthController); AuthController.$inject = ['$location', 'AuthService']; function AuthController($location, AuthService) { /* código */ } })();
A grande vantagem é a facilidade na minificação de arquivos (visto que as dependências são trazidas como Strings).
3. Controllers
function AuthController($location, AuthService) { var vm = this; vm.login = login; function login(email, password) { AuthService.login(email, password).then(function() { $location.path('/'); }); } }
Tentamos manter os Controllers o mais lean possível, com pouca lógica, e seguindo o Single Responsability Principle. Dessa forma, eles ficam mais fáceis de manter, ler e testar.
Usamos também o padrão do ControllerAs com a variável vm, proposta pelo John Papa. Uma das vantagens é a não necessidade de se importar o $scope nos Controllers.
4. Comunicação com o Back-End
Preferimos encapsular chamadas $http em Services:
function AuthService($http) { this.login = function(email, password) { var request = { username: email, password: password }; return $http.post(url, request); }; }
Um dos focos dessa abordagem é o Separation of Concerns. Ou seja, não é responsabilidade dos Controllers lidar com a lógica da comunicação com o Back-End, mas sim de um serviço feito apenas para lidar com isso.
5. Factory
Uma das formas de se compartilhar dados em uma aplicação com AngularJS é o uso das Factories. Como elas são singletons, os dados não se perdem na mudança de contexto. Um bom caso de uso é a criação de uma Session:
function Session($cookieStore) { return { create: create, destroy: destroy, isAuthenticated: isAuthenticated }; function create(id) { $cookieStore.put('session', id); } function destroy() { $cookieStore.remove('session'); } function isAuthenticated() { !!$cookieStore.get('session'); } }
Nesse exemplo, podemos acessar de qualquer Controller a sessão do usuário e verificar se ele está autenticado ou não.
Uma dúvida recorrente é a diferença entre Factories e Services, que eu expliquei anteriormente neste artigo.
6. Diretivas
Assim como Controllers, as Diretivas devem ser desenvolvidas com o Single Responsability Principle em mente. Se uma Diretiva resolve múltiplos problemas ao mesmo tempo, ela dificilmente será reaproveitada e perderá todo o sentido de existir (que é justamente o reuso).
O exemplo abaixo mostra uma Diretiva que dá foco a um input:
function NgFocus($timeout) { return { restrict: 'A', link: function(scope, element, attrs) { $timeout(function() { element[0].focus(); }, 0); } }; }
Note que a Diretiva em questão tem apenas um objetivo. Se ela, além de dar foco ao input, tivesse que adicionar a cor verde no background, certamente perderia o reuso na maioria dos casos.
Um bom texto sobre Diretivas é este aqui, do Todd Motto.
Continuous Delivery
É comum investirmos alguns sprints no início dos projetos para arquitetar a infraestrutura que dará suporte para os desenvolvedores da primeira linha de código até a última. Isso significa montar e estruturar a integração contínua, o deployment contínuo e automatizar os processos de desenvolvimento e suporte. As principais vantagens do Continuous Delivery são:
- Aumento da transparência;
- Aumento do feedback;
- Releases frequentes;
- Maior confiança em cada entrega;
- Desenvolvedores podem focar mais na qualidade do código e menos em builds e deploys.
Para automatizar nosso processo de CI, escolhemos o Jenkins como ferramenta. Primeiro devemos decidir o que o Jenkins deve fazer no processo de deployment, que pode ser resumido em 6 comandos:
$ npm install grunt -g $ npm install bower -g $ npm install $ bower install $ npm test $ grunt dev
- Instalar o Grunt
- Instalar o Bower
- Instalar todos os packages do NPM
- Instalar todos os packages do Bower
- Rodar os testes usando o Karma
- Gerar o Build usando o Grunt
Após esse procedimento, o Jenkins gera um relatório de cobertura de testes (que pode ser configurado pelo Karma desta forma):
Esse relatório tem grande utilidade para verificar a qualidade do código durante todo o andamento do projeto.
Conclusão
Para quem ainda tiver dúvidas, uma boa dica é a minha série sobre AngularJS no YouTube, que vai dos primeiros passos até a construção de diretivas avançadas:
Se você tem alguma crítica ou sugestão me contate no Twitter ou deixe um comentário aqui embaixo. E se gostou do texto, compartilhe com quem possa ter interesse!