DevSecOps

26 nov, 2009

Quem assiste não aprende. Por que o ensino baseado na web é mais eficiente que o ensino tradicional?

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Será
que finalmente estamos prontos para admitir que os métodos tradicionais de
ensino são pouco eficientes e devem evoluir rapidamente? Pelo menos é o que
aponta um estudo publicado pelo governo americano, que compila os resultados de
10 anos de pesquisa e conclui que os recursos de aprendizagem on-line constituem
uma maneira mais eficiente de aprender do que o ensino tradicional.

A
pesquisa
(em inglês, arquivo PDF)
propôs uma meta-análise que chega a uma conclusão já amplamente difundida no
mundo corporativo: sentar em uma cadeira e ficar olhando alguém falar
não leva o aluno a grandes resultados. Neste contexto, devemos nos lembrar de
como nasceu o modelo de educação em vigor e questionar por que é
tão difícil fazê-lo evoluir. Quais são os mecanismos que realmente
despertam o aprendizado e como
desenvolvê-los?

Assistir
não é aprender!

O
pecado original da área educacional é tratar o conhecimento como se existisse a
possibilidade de transferi-lo, como se transfere vinho da garrafa para o
copo. Porém, conhecimento não se transfere, mas se constrói; o futuro do aluno
depende menos de quem sabe e mais de o que ele mesmo vai fazer para aprender. A
industrialização do processo educacional foi influenciada pela filosofia
Taylorista; em geral, os governos são considerados responsáveis por preparar, em
grande escala, cidadãos e profissionais capazes de sustentar a economia do
futuro. Por questões logísticas, desenhou-se um modelo para dividir o problema
em partes: por idade, por ano, por matéria, por sala, por região. Assim,
foi abafada a individualidade do desenvolvimento intelectual, procurando um
difícil equilíbrio entre ensinar a todos e respeitar o ritmo de cada
um.

Fatalmente, entre
seguir o programa e atender às peculiaridades de cada aluno, o professor não
tinha opção. A padronização da aprendizagem começou: “sente, escute, anote, até
a próxima”. Isso acomoda o aluno numa postura passiva e as escolas, em vez de
formar profissionais e cidadãos pró-ativos, formam espectadores. Paradoxalmente,
enquanto as corporações modernas evoluíram para modelos organizacionais mais
flexíveis e abertos a sugestões, como o sistema japonês de produção, boa parte
dos sistemas de ensino têm dificuldade em evoluir. Acontece
que os alunos-internautas são hoje os principais atores da mudança. Por não
aceitarem mais o status quo, eles
se tornaram instigadores de novas práticas.        

É
necessário adaptar o processo a cada aluno

Pensando bem, das
situações que ensinam algo na vida, você vai se lembrar de duas: grandes
alegrias e sofrimentos. O que realmente gravamos está intimamente vinculado ao
que sentimos; e o que sentimos está ligado ao nosso grau de envolvimento no que
está acontecendo. Portanto, colocar o aluno como principal ator do seu
aprendizado é geralmente mais eficiente do que colocar o professor numa posição
central.

Isso não quer dizer que aprender é um ato desestruturado e individual.
Pelo contrário, ele deve ser planejado, acompanhado e adaptado. É este o papel
fundamental de quem sabe: escutar e orientar e, não, palestrar. As tecnologias
educacionais, neste sentido, representam uma verdadeira mudança de paradigma, já
que oferecem escalabilidade, canalizando a experiência do aluno, sem engessá-la.
Por exemplo, atividades on-line com previsão de 30 minutos de duração são
realizadas por alguns alunos em 20 minutos, enquanto outros levam até 50
minutos. Juntando essas pessoas em uma mesma sala de aula, o ritmo imposto não
agrada a nenhum dos dois. E tal sensação conflita diretamente com o estado
emocional necessário para que se aprenda.
  

Comprometer
o aluno é a única maneira de ele construir o seu
conhecimento

Ao dar autonomia e recursos ao aluno, o mesmo assume uma postura
completamente diferente em relação aos objetivos de aprendizagem. A variedade de
serviços web disponíveis atende de maneira cada vez melhor às afinidades e
restrições de cada um. Podcasts, wikis, webtvs, fóruns, conteúdos multimídia,
games, chats, micro-bloggings, realidade aumentada, cada uma dessas tecnologias
tem o seu valor e pode compor uma trilha de aprendizagem para fazer
dessa experiência um sucesso. O uso desses recursos não pretende necessariamente
substituir os encontros presenciais, porém, uma abordagem híbrida permite
desenvolver uma experiência mais rica para todos. A responsabilidade do
aluno no bom uso desses recursos melhora naturalmente os resultados dos momentos
de troca. De ouvinte, ele se torna participante, animador e moderador.    

Os principais
desafios já podem ser superados

Se
todos os estudos recentes mostram que inserir uma boa dose de tecnologia no
processo de aprendizagem é irreversível e vantajoso, ainda existem restrições
para que isso se torne uma realidade no Brasil.

Primeiro, a escalabilidade,
pois os grandes projetos de e-learning contemplam hoje
dezenas de milhares de pessoas. Os desafios educacionais do país, desde a
alfabetização até a formação de técnicos para a indústria, passando pela
preparação da Copa de 2014, abrangem milhões ou até dezenas de milhões de
pessoas. Portanto, os investimentos necessários em infra-estrutura física e
lógica para superar esses desafios são significativos, apesar de sensivelmente
inferiores aos investimentos necessários para melhorar a qualidade do ensino
presencial. 

Segundo, o acesso na ponta, que embora venha sendo
aprimorado de maneira rápida e contínua (13,4 milhões de conexões banda larga e
50 milhões de internautas no país passam em média 1h20 por dia na web), ainda é
problemático. Ele depende basicamente das redes, dos dispositivos de acesso e da
qualidade dos serviços, três pontos que ainda devem evoluir para se
tornarem mais acessíveis ao público em geral. As LAN houses aparecem neste momento como
uma alternativa transitória valiosa para compartilhar esses recursos e reduzir
custos.

Por fim, a garantia da qualidade é uma questão central. Implementar
métricas para ter um controle estatístico do processo ainda não é praticado
sistematicamente em educação, sendo o campo mais promissor para as tecnologias
educacionais. De fato, tradicionalmente o aluno é avaliado por meio de provas,
mas pouco ou nada é levantado sobre como ele aprendeu para chegar a um
determinado resultado. Isso muda radicalmente quando se trata de educação
on-line, já que todas as ações do usuário logado podem ser acompanhadas (tempo
de estudo, tipo de atividades, relação com os demais alunos, temas de
preferência, etc.) para extrair correlações e melhorar o processo.

Como dizia Galileu “Não se pode ensinar nada a um homem; só
é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si”. E talvez esse tenha se
tornado o principal papel de quem pretende hoje atuar em educação: ser o
arquiteto de sistemas de aprendizagem híbridos cada vez mais
eficientes.