A integração da segurança ao ciclo de vida de desenvolvimento de software (SDLC) não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica. Em um cenário onde vulnerabilidades geram riscos crescentes, o OWASP SAMM (Software Assurance Maturity Model) surge como um guia essencial para estruturar, executar e medir a evolução da segurança de forma contínua.
Este artigo demonstra como aplicar o modelo de maturidade do OWASP SAMM de forma prática e incremental, permitindo que as equipes adotem o DevSecOps de maneira sustentável e eficaz.
Por que adotar um modelo de maturidade?
Iniciativas de segurança em DevSecOps, quando isoladas — uma análise de código aqui, um teste de penetração ali — carecem de consistência e não garantem uma evolução real do processo. Reconhecendo esse desafio aqui na Facti, entendemos que adotar o DevSecOps é, antes de tudo, uma mudança de cultura que exige um norte claro. É exatamente por isso que um modelo de maturidade como o SAMM resolve o problema, ao fornecer:
- Direcionamento Estratégico: Define metas claras de curto e longo prazo.
- Evolução Gradual: Estrutura a jornada em etapas progressivas, do manual ao automatizado.
- Métricas Objetivas: Permite acompanhar o progresso e demonstrar o valor das ações de segurança dentro da adoção de metodologias ágeis para orquestração das atividades.
O OWASP SAMM organiza as práticas de segurança em cinco funções de negócio, com cada uma sendo avaliada em três níveis de maturidade.
Aplicação Prática: Integrando o SAMM ao seu dia a dia
A implementação bem-sucedida do OWASP SAMM depende do seu mapeamento direto no ciclo de vida dos projetos.
- Mapeamento com o Processo de Desenvolvimento Integração de cada função do SAMM às fases do seu SDLC:
- Governança: Alinhe as políticas de segurança a normas como a LGPD e a ISO/IEC 27001.
- Design: Realize a modelagem de ameaças e defina requisitos de segurança desde a fase de concepção.
- Implementação: Adote padrões de arquitetura segura e automatize builds com verificações de segurança.
- Verificação: Integre ferramentas SAST, DAST e SCA (como SonarQube, OWASP ZAP e Trivy) aos pipelines de CI/CD.
- Operações: Automatize a gestão de infraestrutura (Infrastructure as Code – IaC) e mantenha um plano proativo de resposta a incidentes.
- As Fases da Maturidade: Uma Jornada Incremental O avanço pode ser estruturado em quatro fases:
- Fase 1: Fundacional
- Implementação inicial de SAST e linting no CI/CD.
- Definição de requisitos mínimos de segurança.
- Fase 2: Expansão
- Introdução de DAST (análise dinâmica) e SCA (análise de componentes).
- Criação de políticas de qualidade (Quality Gates).
- Fase 3: Fortalecimento
- Execução periódica de testes de penetração (pentests).
- Coleta e análise de métricas de segurança.
- Formalização do processo de gestão de incidentes.
- Fase 4: Otimização
- Integração da segurança na arquitetura como padrão.
- Automação da conformidade com frameworks (NIST SSDF, ISO 27034).
- Provisionamento de ambientes totalmente via IaC.
- Ferramentas Essenciais Para apoiar essa jornada, considere ferramentas como:
- Análise de Código e Qualidade: SonarQube (SAST).
- Análise de Aplicação em Execução: OWASP ZAP (DAST).
- Análise de Dependências: Trivy (SCA).
- Gestão de Segredos: HashiCorp Vault.
- Infraestrutura como Código: Terraform, Ansible (com validação de segurança via tfsec).
- Monitoramento: Grafana.
Medindo o progresso
A grande vantagem de um modelo de maturidade é a capacidade de medir o avanço com indicadores-chave de desempenho (KPIs), como:
- Percentual de builds com verificação SCA > 95% (nível ideal: 100% para builds de produção).
- Tempo médio para correção de vulnerabilidades (MTTR)
Críticas: < 7 dias
Altas: < 14 dias
Médias: < 30 dias
Baixas: < 60 dias
- Nível de aderência aos padrões de arquitetura segura.
Novos projetos: > 90%
Legados (críticos/modernizados): > 70%
Global (em maturidade avançada): 80-100%
- Taxa de sucesso na resposta a incidentes > 80%
Isso permite não apenas justificar investimentos, mas também ajustar prioridades de forma inteligente através do que chamamos de Shift Left, ou seja, antecipar as atividades de segurança e testes para as fases iniciais do ciclo de vida de desenvolvimento de software (SDLC).
Conclusão
Construir um SDLC seguro é uma jornada contínua, não um projeto com data de término. Ao adotar um modelo como o OWASP SAMM, as equipes transformam o DevSecOps em um processo estruturado e mensurável. A segurança deixa de ser um “freio” e se torna um pilar de confiança e uma vantagem competitiva.
O segredo é começar: escolha as práticas mais críticas para o seu contexto, integre-as ao seu pipeline e evolua com consistência e visibilidade.