DevSecOps

20 set, 2010

Meu problema com templates

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Outro dia estava na labuta diária do
meu atual projeto, afogado nos hectolitros de café que consumo
normalmente quanto Thiago, o gerente de desenvolvimento da minha empresa, veio me
pedir a opinião sobre alguns templates que ele estava desenvolvendo.

Como ele estava acumulando a função de gerente de um de nossos
projetos, que estava em fase de setup, ele teve a idéia:
“Já que vou definir alguns artefatos para usar no meu projeto, mato
dois cajados com uma coelhada só e defino templates para empresa
inteira”.

Sentei, ouvi a história e daí começamos um animado debate (tipo
briga de saloon de faroeste só que, infelizmente por questões de custo,
sem as mesas e cadeiras quebradas) sobre a necessidade ou não de
existirem templates.

Não gosto de templates. Mas não porque eles são “inerentemente maus”, e sim por dois motivos:

  1. Templates tendem a se cristalizar e a ser utilizados automaticamente, isto é, sem reflexão;
  2. Templates dão a falsa sensação de que o processo que será utilizado
    já está definido, e terminam matando a fase de setup que é uma das mais
    importantes da vida de um projeto.

Explicação do motivo 01

Existe a história de um mosteiro que tinha
um gato que vivia no teto da área de oração. Os monges iam orar, e o
bichano miava, miava, miava. E por mais que os monges estivessem
concentrados, o miado atrapalhava.

Até que um dia o monge mais velho
falou: “Não tem jeito. Todo dia um de vocês vai subir no telhado e
amarrar a boca do gato com uma fita de seda. Mas com muito cuidado para
não machucar o pobre gatinho. Depois da oração, outro monge sobe e
desamarra, com igual cuidado.” E assim a oração passou a fluir no
perfeito silêncio.

A rotina se estabeleceu: antes da oração, um monge
amarrava o gatinho e depois outro desamarrava. O tempo seguiu seu
curso, o gato sendo amarrado e desamarrado, monges entrando na ordem,
monges envelhecendo e depois morrendo. Aquele gato morreu e o tempo
passou. E trezentos anos depois, o mosteiro era famoso pela disciplina,
pela piedade e pela fé dos seus monges. Ah, e também pelo estranho ritual de ter
que achar um gato para amarrar com uma fita de seda antes da oração.

Moral da história: Amarrar o gato servia para resolver um problema
daquele momento. O problema é que as pessoas passaram a fazer aquilo
mecanicamente, sem questionar o porquê. E daí se tornou uma pratica
vazia e inútil.

Assim são os templates.

Por mais que se tente criar algo genérico,
somos guiados por situações especificas, por cenários já vividos, por
realidades conhecidas. O problema é que sempre vai existir algo não
pensado, uma situação que nunca aconteceu. E sempre vai existir algo
que já foi útil, mas que agora caiu em desuso.

“Oras, é só adaptar o
template!!!”, dirão muitos.

Mas sabemos que, seja por questões de
auditoria (interna e externa), seja por questões de certificações de
órgãos externos (como ISSO, CMMi, entre outros), seja simplesmente por
tradição, mudar algo já estabelecido e cristalizado na cultura da
empresa geralmente é muito, muito difícil.

Isso quando as pessoas percebem a necessidade da mudança, quando questionam.

Porque muita gente encara um template como uma
realidade, algo que deve ser preenchido. Sempre, em todos os casos,
independentemente da situação. Afinal, se esses templates existem, eles devem
servir para algo.

E aí os projetos terminam com vários gatos com fitas de seda: cheios
de coisas que as pessoas fazem sem saber por que, mas sabem que servem
(ou pelo menos um dia serviram) para alguma coisa.

No próximo artigo explico o motivo 02. E também me explico, afinal,
mesmo não gostando de templates, admito que eles são necessários em
alguns casos.