Carreira Dev

30 dez, 2011

Especialização é a inimiga da criatividade

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Para quem gosta de ouvir novos pontos de vista, uma grande pedida é o Ted. Para quem não conhece, vamos a mais uma definição roub…ops, pinçada na wikipedia:

TED é uma fundação privada sem fins lucrativos dos Estados Unidos mais conhecida por suas conferências na Europa, Ásia e Estados Unidos destinadas à disseminação de ideias. Segundo as palavras da própria organização, “ideias que valem serem disseminadas”. Suas apresentações são limitadas a dezoito minutos, e os vídeos são amplamente divulgados na Internet.

Como a definição fala, são palestras curtas nas quais os palestrantes vão direto ao ponto. O nível dos convidados é altíssimo, e os assuntos abordados são de uma variedade tão grande que não dá nem para resumir. O melhor é ir ao site, escolher uma palestra e conferir.

Tendo explicado o que é o TED, gostaria de falar de uma palestra a que assisti recentemente, proferida por Steve Shapiro, consultor de inovação da Accenture. Nunca tinha ouvido falar dele, daí segue o seu perfil:

Articulate, knowledgeable, and provocative, Steve Shapiro quickly captures the attention of his audience in a style that is as innovative as his subject matter. During his 15-year tenure with the international consulting firm Accenture, he established and led their Global Process Excellence Practice, delivering innovation training to 20,000 consultants. Shapiro helps individuals and businesses realize their full potential with less effort and more personal satisfaction.

O mote da palestra era “Especialização é a inimiga da criatividade”.

Nessa palestra, proferida no TedxNasa (e assistida por vários funcionários da agência espacial americana, como cientistas, engenheiros etc.), Shapiro abordou a seguinte questão:

Se você tem um problema pra resolver e 100 cientistas trabalhando sobre o problema, adicionar mais um cientista não fará a menor diferença. No entanto, experimente incluir um biólogo, um músico, um artista…

e a partir dai ele deu vários exemplos de inovação que surgiram de profissionais de áreas totalmente diferentes da área fim do problema.

Interessante, não é? Mas o que isso tem a ver conosco, desenvolvedores?

Vivemos num meio (TI) que prega a especialização, o convívio com os iguais. Lendo sobre as mais diferentes linhas de pensamento atuais no que se refere a desenvolvimento de software, ouvimos muitas vezes que (mas muitas vezes mesmo):

  • equipes devem ser formadas por desenvolvedores, e SOMENTE POR desenvolvedores;
  • o cliente é um mal necessário (vide a frase do Steve Jobs: “Os clientes não sabem o que querem até dizermos a eles”);
  • qualquer outro papel (além de clientes e desenvolvedores) é um “peso morto”, isto é, algo a ser evitado como o próprio mal encarnado. Exemplo: Analistas de negócio devem ser evitados por serem proxies, Analistas de teste devem ser evitados porque o TDD os torna supérfluos, [coloque o papel que você quiser aqui] deve ser evitado porque [coloque um motivo qualquer aqui];
  • só os desenvolvedores são indispensáveis.

Uau. Isso faz um bem danado para o ego, não é? Mas também cheira a adulação, a papo de demagogo que quer fazer a média com um grupo específico, ou de imaturo deslumbrado com o próprio umbigo.

Mas esse não é o maior problema. O maior problema é que como disse Steve Shapiro, “Especialização é a inimiga da criatividade”. E criatividade, meus amigos, é o que faz a diferença, é um dos fatores que evitam a ”commodityzação” da TI.

Obviamente, não a criatividade pela criatividade, e sim aquela que agrega valor, aquela que faz a diferença para a SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO CLIENTE.

Acredito que o caminho é o contrário. Precisamos sempre de outros pontos de vista. Outras visões. Outras experiências. Grupos heterogêneos e multidisciplinares são excelente fonte de ideias que podem fazer a diferença, e que podem nos separar daqueles que simplesmente constroem o que o usuário pede.

Projetos existem por diversos motivos, mas principalmente para resolver problemas dos nossos clientes. Desenvolver uma solução que simplesmente automatiza o negócio (isto é, uma versão digital do processo atual, que é feito manualmente ou em uma plataforma mais antiga) é um dos maiores exemplos de TI como commodity. Agora, desenvolver uma solução que melhora o negócio, agregando ao mesmo valor, é um exemplo da TI não commodity, isto é, da TI de alto valor agregado.

Muitas vezes aquela idéia matadora, que faria toda a diferença no negócio, vai estar justamente na cabeça daquela pessoa para quem você não pediu opinião porque ela não era do seu time. Porque ela não era um desenvolvedor.

Os agilistas sempre enfatizam a importância da colaboração. Então vamos estender essa colaboração de forma que ela abarque um mundo que vá além do que conhecemos, do que estamos acostumados.

Acredito que ninguém ganha nada se isolando em um grupinho de iguais. Por sinal, parece mais medo do que qualquer outra coisa. Coragem é um dos valores do XP, certo? Então vamos valorizar a coragem de lidar com os que são (e fazem coisas) diferentes de nós.

Sociedades multiculturais são mais evoluídas, certo? Então por que os desenvolvedores ganhariam algo se isolando?

Pensem nisso.