Gianugo Rabellino é diretor sênior das comunidades de código aberto da Microsoft Open Technologies, uma subsidiária da Microsoft Corporation que está comprometida em antecipar o compromisso da Microsoft com a abertura de código em toda a empresa e em toda a indústria. Com mais de 20 anos de experiência com comunidade de código aberto, também é co-fundador da primeira associação oficial sobre Linux na Itália, elevando a relevância do Linux e do mundo open source naquela região. Atualmente ocupando o cargo de vice-presidente da Comissão de Gestão do Projeto Apache Attic, Gianugo fala nesta entrevista sobre a sua perspectiva acerca da abertura de códigos da Microsoft e sobre como é ser uma parte integrante do MS OpenTech.
Alguma experiência de vida afetou sua maneira de trabalhar?
Cresci e trabalhei na Europa, passei 20 anos atuando como empresário, executivo de empresa de pequeno porte e líder de associação da indústria mundial – e também passei esses 20 anos pagando minhas contas com software de código aberto.
Da minha experiência como empresário, o que mais importa é a capacidade de executar e interagir rapidamente em idéias e projetos que utilizam tecnologias que ajudam a apoiar negócios que estão em constante mudança. TI vai muito além do velho debate de preto ou branco. Na nuvem, onde os clientes não têm que se preocupar sobre como gerenciar seu hardware, sistema operacional ou banco de dados, e em um mundo onde o hardware está intimamente ligado com o software e a monetização real acontece em nível de aplicativos, falando de código aberto ou software proprietário como alternativas em vez de complementos em um complexo sistema simplesmente não é mais relevante. A abertura de código fez maravilhas nas últimas décadas, e o mínimo que podemos fazer em troca é tentar entender o que o código aberto significa hoje no novo mundo de dispositivos e serviços.
Como uma pessoa totalmente adepta do open source, neste meu longo tempo trabalhando na Microsoft uma das coisas que aprendi é que, como o mundo mudou, a Microsoft também mudou, com um foco renovado em tentar compreender a mistura por vezes indescritível de open source, padrões abertos, comunidades de desenvolvedores e a interoperabilidade que caracteriza o que realmente significa a abertura de código hoje em dia. E este é um esforço que envolve todos os níveis da empresa.
Em minha primeira semana na Microsoft, me lembro de Jean Paoli (Presidente da MS OpenTech) me dizendo que eu deveria gastar um tempo em reuniões com todas as pessoas da empresa que tivessem interesse em open source. Eu não tinha idéia de que dois anos mais tarde ainda estaria trabalhando nestas reuniões e com uma longa lista de pessoas para atender!
Qual é sua experiência mais recompensadora ou mais gratificante parceria?
Em abril de 2013, o MS OpenTech comemorou seu aniversário de um ano, e que ano!
Temos orgulho de ter enviado 51 projetos entre código open source e padrões abertos. Expandimos dramaticamente a forma como os desenvolvedores podem construir aplicativos em plataformas Microsoft e não-Microsoft. Ajudamos os desenvolvedores a criar aplicativos utilizando as mais recentes tecnologias em serviços e dispositivos.
O logo da MS OpenTech é um tipo de ponte, e representa a forma como estamos construindo pontes entre um conjunto diverso de tecnologias e descobrindo que as fronteiras estão diminuindo entre as empresas comerciais com código proprietário e de software de código aberto. 2013 foi realmente um grande ano.
Você vê o espírito de abertura dos códigos mudando a forma como a Microsoft faz negócios?
A Microsoft sempre teve enraizada a tentativa de abrir oportunidades para os outros. Há mais de 30 anos atrás, a Microsoft ajudou a colocar um computador em cada residência, pessoas conectadas em todo o mundo, espalhou a inovação e tornou possível para os indivíduos e as empresas a operarem da maneira que fazem hoje.
Esta revolução do PC cresceu e se tornou uma revolução onde os padrões de código aberto ajudaram a impulsionar a inovação ao longo do tempo. A revolução do PC pregava o empoderamento pessoal. Esse espírito é muito relevante hoje em dia, talvez até mais do que a tecnologia, que evoluiu a tal ponto onde está costurada no próprio tecido de nossas vidas cotidianas. Hoje, a revolução da abertura de código continua a transformar um mundo de dispositivos conectados a serviços on-line, e estamos honrados em ser uma parte dela.
Ao longo dos últimos anos, a Microsoft vêm fazendo um grande conjunto de alterações em suas práticas de tecnologia e de negócios, que aumentaram a possibilidade da abertura do código de seus produtos e levaram uma maior interoperabilidade e oportunidade em toda a comunidade de desenvolvedores de TI, parceiros, clientes e concorrentes. No MS OpenTech, nos concentramos em fornecer aos nossos clientes ainda mais opções e oportunidades para utilizar tecnologias Microsoft e não-Microsoft juntas em ambientes heterogêneos.
Você chegou a encontrar alguém que fosse cético em relação ao trabalho realizado pela Microsoft em conjunto com as comunidades de código aberto?
Uma das melhores coisas sobre o modelo de código aberto é a transparência: basta dar uma breve olhada no Github, no Codeplex, nas listas de discussão do W3C e outros locais e todos poderão ver por si mesmos o que a Microsoft está fazendo em relação ao código aberto. Nós permitimos software open source em nossas plataformas e encorajamos desenvolvedores de código aberto a continuarem a pensar em Windows e Windows Phone como plataforma para que eles desenvolvam seus códigos dali em diante. Hoje, o Linux é bem-vindo na nuvem Windows Azure; desenvolvedores estão usando ferramentas de código aberto populares para construir aplicativos para dispositivos Windows; Apple, Google, Microsoft e outros estão trabalhando em conjunto com a comunidade para definir de forma transparente o futuro da web aberta.
Já se foram os tempos das pessoas e organizações que utilizavam uma tecnologia única, seja um sistema operacional, uma linguagem ou uma plataforma. A abundância de soluções prontamente disponíveis e a pressão constante de time-to-market, tem esculpido por si mesmo a mudança do datacenter para a sala dos usuários e mudou a conversa da filosofia ao pragmatismo; aquele em que as tecnologias de código aberto e de propriedade estão frequentemente trabalhando juntas. Reconhecemos a mudança da Microsoft em relação à tecnologias abertas e estamos dispostos a trabalhar com ainda mais afinco para que tecnologias Microsoft e não-Microsoft possam continuar a trabalhar juntas.
Existe algum fato sobre você, que as pessoas poderiam se surpreender em saber?
Sempre me divirto quando vou fundo em uma conversa técnica e, em seguida, as pessoas descobrem que sou, na verdade, um advogado. Uma vez tive que escrever a história completa no meu blog. E, no entanto, 20 anos depois, estou mais positivavamente certo de que fiz a escolha certa. Também abandonei uma carreira reconhecidamente não muito esperançosa como um tenor de ópera, quando achei que seria mais bem sucedido se casasse minhas paixões como Opera e Internet: então lancei o Operaweb, um dos mais antigos (desde 1996!) websites de ópera.
Qual é a sua inovação tecnológica favorita?
Posso responder duas? No momento estou absolutamente maravilhado com a grande transição que faz a leitura óptica de conteúdo para o computador, convertendo o material em conteúdo compreensível: as interfaces de aprendizado das máquina, o processamento de linguagem natural e o foco no novo usuário estão em seus primeiros dias e com um grande potencial ainda inexplorado. Mas, falando dos meus 20 e tantos anos de experiência, acho que a Internet vai entrar para a história junto com a descoberta do fogo, da roda e da imprensa: ainda me lembro da emoção quando meu primeiro ping a partir de uma pequena cidade na costa da Ligúria, na Itália teve uma uma resposta pong a partir de um laboratório de informática na costa leste de os EUA. Era apenas um punhado de bytes, mas eles me fizeram pular por todo o meu quarto pensando sobre as enormes possibilidades.
Onde você acha que se concentrou o seu melhor trabalho?
Sou absolutamente nômade e eu não tenho um “onde” em especial. Ao contrário de muitos outros, eu particularmente não me importo com interrupções e faço muitas coisas por vez. Aprendi a lidar com elas como uma parte necessária de um ambiente de trabalho eficaz e como pai de dois filhos pequenos. Quando eu realmente preciso fazer alguma coisa complexa, confio em grande parte na técnica Pomodoro: a idéia de bloquear toda a conectividade e isolar-me por 25 para concretizar uma tarefa é a dica mais simples e eficaz de produtividade com a qual me deparei ao longo do tempo.
* Entrevista a Tara Grumm, Senior Manager – Worldwide Marketing and Operations