A Microsoft tem disponível aos assinantes do Azure uma máquina de aprendizado, chamada de Azure Machine Learning, que permite simular uma infinidade de cenários estatísticos a partir de uma base de dados. O objetivo deste artigo é guiá-los passo a passo na montagem de um experimento por meio da aplicação de um modelo de regressão linear.
Tudo começa em https://studio.azureml.net, conforme a figura 1, ao qual você deverá se logar com sua conta da Microsoft.
Toda a interface é online, não há nada offline ou local, então na lista de menu na barra superior, você tem a opção Studio (estúdio). Clique nela para acessar a ferramenta, sendo que quando o acesso é feito pela primeira vez ou navega na página principal, é exibida uma janela convidando para um vídeo passo a passo com 5 fases, o que dará uma visão geral. Cabe a você aceitar ou não, eu acho válido para um primeiro contato com o Studio.
A figura 2 mostra a ferramenta Studio com os módulos existentes, cujas funcionalidades descreverei a seguir. Essa ferramenta é colaborativa com recursos de arrastar e soltar, configurar propriedades nas quais você cria, testa e implanta soluções de análise preditiva de dados.
O que contém cada módulo? Vou listar e comentar os 6 módulos disponíveis atualmente.
EXPERIMENTS – é o local onde você cria os experimentos/testes, arrasta componentes para conectá-los a outros, prepara os dados, caso necessário, aplica modelos para treinar, pontuar, testar e avaliar o experimento, conforme a figura 3.
WEB SERVICES – lista de testes publicados que podem ser acessados via Web API ou ferramentas de BI, como Excel, por meio de um token gerado de acordo com a sua conta.
NOTEBOOKS – lista de códigos criados em Python para auxiliar customizações dos dados nos componentes, conforme a figura 4.
DATASETS – lista das fontes de dados que você importou ou fez uso das diversas fontes online disponíveis no próprio Studio. Neste artigo, usaremos uma fonte online.
TRAINED MODELS – lista de testes treinados por você a serem aplicados nos componentes.
SETTINGS – dados da sua conta, percentual usado, tokens a serem distribuídos e lista de usuários com acesso aos testes e resultados.
Criar um experimento/teste
Um termo comum usado no Azure Machine Learning é a ciência dos dados, na qual os cientistas afirmam que não existe um modelo de algoritmo melhor ou pior para cada experimento. É preciso testar diversos para analisar os dados e chegar a uma conclusão, pois tudo depende do objetivo a ser atingido.
Todo experimento tem as seguintes etapas: obter dados/pré-processar dados/definir recursos/treinar o modelo de acordo com o algoritmo de aprendizado/pontuar e testar o modelo. Vamos criar um experimento completo até obtermos os dados finais já analisados.
No rodapé da tela (vou chamar de barra de menu inferior), clique no botão New e selecione o menu EXPERIMENT. Conforme a figura 5, existem muitos exemplos prontos, cada um com uma finalidade, um modelo de algoritmo diferente – vale a pena uma pesquisa de exemplos para entender a complexidade dos mesmos. No nosso caso, selecione o primeiro, Blank Experiment (experimento em branco).
Note que a parte do meio da tela contém os blocos para você arrastar os componentes. E o primeiro passo é informar a fonte de dados. No lado esquerdo, são exibidos diversos nós, e o primeiro deles é Saved Datasets. Expanda esse nó, e em seguida o Samples, conforme a figura 6.
Veja que a lista de fontes de dados é grande, então usaremos o “Automobile price data (Raw)”, que contém dados sobre diversos automóveis, e ao final o teste definirá o preço final. Então, selecione essa fonte e arraste-a para o primeiro bloco. E, conforme a figura 7, caso queira visualizar os dados, clique com o botão direito sobre a fonte, selecione dataset/Visualize. Veja ainda na janela de propriedades que o arquivo está no formato CSV e, se quiser fazer download, clique no link Vew dataset.
Como saber se os dados estão corretos para o experimento? Uma regra básica para isso é não deixar valores em branco nas colunas, pois isso afetará diretamente o algoritmo. Visualize os dados conforme a figura 7, e veja todas as colunas com os dados. Selecione a coluna “normalized-losses”, observe as estatísticas e note que há 41 valores em branco, conforme a figura 8.
Uma vez constatado que a quantidade de valores em branco na coluna “normalized-losses” é grande, a melhor coisa a fazer é isolar essa coluna, ou seja, retirá-la da fonte dados para análise. Antes de mais nada, do lado esquerdo da tela, há uma caixa de pesquisa dos componentes, na qual você pode digitar parte do nome que a ferramenta filtra. Nesse caso, digite “Project col”, conforme a figura 9. Veja que o componente Project Columns é exibido na lista, então arraste-o abaixo da fonte de dados no gráfico.
Em seguida, é preciso conectar os dois blocos, então clique no círculo em branco do primeiro bloco e arraste o mouse até o círculo branco do segundo bloco. Isso indicará uma origem e um destino deles. Agora é preciso excluir a coluna “normalized-losses”, então selecione o Project Columns. Automaticamente do lado direito são exibidas as propriedades contendo o botão “Launch column selector”. Clique nele, na janela aberta, selecione em “Begin With: All Columns”. Em seguida, precisamos dizer que excluiremos tal coluna da lista, então selecione “Exclude/column names”. Aguarde alguns segundos para que a ferramenta carregue todas as colunas na lista. Por fim, selecione “normalized-losses” e clique no botão de confirmar, conforme a figura 10.
E o que fazer com todas as linhas que contêm valores em branco? Nada mais justo e seguro do que excluí-las, assim garantimos ainda mais os dados a serem analisados. Pesquise o componente Missing e, quando aparecer o “Missing Values Scrubber”, arraste-o para o gráfico. Conecte com o bloco anterior (Project Columns) e, nas propriedades, configure a opção “For missing values” para “Remove entire row”, ou seja, caso tenham valores ausentes, exclua toda a linha. E, para efeito de documentação, você pode dar um duplo clique no componente e colocar um texto explicativo. Veja na figura 11 como deverá estar a sua tela.
Perceba que aos poucos vamos preparando os dados para que o algoritmo seja treinado de acordo com a necessidade e o objetivo a ser atingido. Imagine que você tivesse uma lista enorme de colunas desnecessárias para a análise dos dados, de nada valeria isso se o foco é apenas definir o preço dos carros. Com isso, no Azure Machine Learning, devemos focar nos recursos, nos quais, na nossa base de dados dos carros, cada coluna é entendida como um recurso.
Adicione mais um componente“Project Columns”, conecte-o ao último inserido e, nas propriedades, clique no botão “Launch column selector”. Em “Begin With”, selecione “All columns” e, em seguida, inclua todas as colunas listadas na figura 12. Sendo assim, o modelo a ser treinado conterá somente essas colunas.
Aplicar um algoritmo
Uma vez com os dados no ponto certo, você deverá escolher um algoritmo e testar. Faça isso quantas vezes forem necessárias até atingir o objetivo. Nesse caso, o foco é descobrir qual será o preço do carro, então usaremos um algoritmo de regressão linear. E, para isso, precisamos treinar parte dos nossos dados. Isso mesmo, você pode definir um percentual de dados para que o modelo seja treinado e depois aplicado. Para isso, pesquise o componente “Split” (dividir) e arraste-o no gráfico. Conecte-o com o anterior – como é uma sequência, não há o que errar. Nas propriedades do “Split”, conforme a figura 13, defina 0.8 em “Fraction of rows in the first output dataset”, ou seja, estamos configurando em 80% dos dados para treinamento e 20% para o teste.
No rodapé, clique no botão Save e nomeie como “Artigo MSDN preços carros”. Em seguida, vamos executar o experimento – basta clicar no botão Run. Aguarde alguns minutos até a execução de cada componente. Você pode acompanhar isso visualmente, pois a cada término é colocado um ícone verde no componente.
Na lista de módulos, expanda o Machine Learning/Initialize Model/Regression e, conforme a figura 14, veja todos os modelos de regressões disponíveis.
Para esse experimento, arraste o “Linear Regression” (regressão linear) para o gráfico. Logo a seguir, localize o modelo de treinamento a ser usado – nesse caso, usaremos o “Train Model”, que está em Machine Learning/Train, conforme a figura 15. Arraste-o no gráfico do experimento.
Veja na figura 16 como as ligações devem ser estabelecidas. Tanto a regressão linear como o Split são ligados ao modelo de treinamento. Não se preocupe em errar, pois qualquer outra tentativa de ligação entre os módulos não seria aceita.
Mas note que o “Train Model” contém uma exclamação vermelha, indicando que falta configurar algo. E, como queremos focar no preço, nas propriedades do “Train Model”, clique no botão “Launch column selector” e inclua a coluna “price”, conforme a figura 17. Isso é muito importante, pois as colunas incluídas na lista são as que serão testadas.
Pronto, está tudo pronto e configurado. Clique no botão Run para rodar o experimento completo, resultando num modelo de regressão a ser usado para fazer previsões.
Lembre-se de que treinamos o modelo com 80% dos dados, e aos outros 20% podemos aplicar esse treinamento e comparar se o modelo funcionará conforme o esperado no modelo de avaliação (Score Model). Para isso, pesquise o componente “Score Model” (Machine Learning/Score), arraste-o no gráfico do experimento e faça as ligações conforme a figura 18, sendo o “Train Model” e o “Split” diretamente no “Score Model”.
Para finalizar, clique no botão Run para rodar o experimento novamente. Para visualizar o resultado final, clique com o botão direito no “Score Model”e selecione “Scored dataset/visualize”. Teremos uma tela conforme a figura 19, mostrando uma nova coluna chamada “Scored Labels”, com os preços previstos e conhecidos dos dados de teste.
O que já temos é o suficiente, no entanto, para avaliar a qualidade dos resultados realizados no teste? Será que o resultado do experimento é satisfatório? Como saber números estatísticos do modelo aplicado? Para isso, localize e arraste o componente “Evaluate Model”, conectando-o ao “Score Model”, conforme a figura 20. Isso servirá para testarmos a qualidade dos resultados.
Execute novamente o experimento e, ao finalizar, mostre os resultados do “Evaluate Model”. Veja as estatísticas, conforme a figura 21, trazendo a média de erros absolutos (Mean Absolute Error), que é a diferença entre o preço previsto e o real. Raiz quadrada dos erros ao quadrado (Root Mean Squared Error) é a raiz quadrada da média de erros quadrados de previsões feitas no teste. Erro absoluto relativo (Relative Absolute Error) é a diferença absoluta entre os valores reais e a média de valores reais. Erro ao quadrado relativo (Relative Squared Error) é a média de erros quadrados relativos à diferença quadrada entre os valores reais e a média de todos os valores reais. Coeficiente de Determinação (Coefficient of Determination) é uma métrica que indica se o modelo se encaixa bem nos dados. Quanto menor o valor, significa que as previsões se aproximam dos valores reais, e quanto mais próximo 1, melhores as previsões.
Conclusão
Diante de terabytes de informações existentes no mundo, analisar dados de forma eficaz por meio de modelos estatísticos é, sem dúvida, o melhor caminho que uma empresa e pesquisas podem focar em resultados. A Microsoft nos trouxe a esse novo mundo com uma ferramenta fantástica de aprendizado para nos auxiliar na tomada de decisões.