Olá, pessoal! Neste artigo vou falar um pouco, sob o ponto de vista do desenvolvimento, como é trabalhar com protótipos de hardware. Quem trabalha com pesquisa ou desenvolvimento de novas tecnologias pode se deparar com protótipos e provas de conceitos de produtos e saber trabalhar com este recurso pode ser muito útil nestas situações.
Geralmente, protótipos de hardware são criados por departamentos de pesquisa e desenvolvimento identificados pela sigla R&D, que significa Research and Development. Também é muito comum que empresas de startups ou mesmo o pessoal que gosta de colocar a mão na massa (a comunidade DYT – Do it Yourself) crie protótipos ou versões muito simplificadas e cruas de dispositivos para a avaliação e testes.
É importante destacar que este tipo de protótipo não é disponibilizado para o público em geral, pois se trata de algo que ainda está no estágio inicial de desenvolvimento. E não estamos falando de imagens ou cenários conceituais aqui: me refiro a protótipos que efetivamente existem e que estão sendo utilizados em laboratórios com um fim específico.
Em alguns casos, as empresas acabam mostrando estes protótipos para divulgação na mídia, o que acaba gerando alvoroço em usuários early adopters ou mesmo pessoas que se empolgam com o protótipo. Nos tempos atuais onde as novidades da vez como o Google Glass, o Oculus VR, o Leap Motion ou mesmo a braçadeira MIO cada vez fica mais evidente que os protótipos despertam curiosidade e contribuem para a geração de expectativas muitas vezes irreais. Destaco que estes protótipos, ou pelo menos as ideias e inovações por trás deles, geralmente são apresentadas à comunidade científica e acadêmica anos antes dos protótipos serem concebidos e certamente muito à frente do que a imprensa especializada publica.
Como disse no começo, alguns profissionais de desenvolvimento acabam colocando a mão em protótipos de hardware antes destes protótipos chegarem ao grande público ou mesmo antes da imprensa receber alguma versão para publicação de conteúdo. Alguns leitores podem pensar que para se obter certos protótipos é preciso de uma boa dose de sorte ou mesmo excelentes contatos. Apesar destes dois fatores serem importantes, muitas empresas estão a procura de novas aplicações ou mesmo diferente usos para seus protótipos e neste ponto é que os desenvolvedores podem enxergar uma excelente oportunidade.
Em outras palavras: você quer ter a oportunidade de trabalhar com um protótipo de tecnologia, em especial um hardware, antes dele ser lançando para o público? Então tenha uma boa ideia do que você faria com ele se ele estivesse em suas mãos. Mas não só isso: mostre que você sabe como fazer, possui os recursos para tanto e que tal abordagem vai agregar valor ao protótipo. E não se esqueça de que a empresa que disponibilizou o protótipo sempre vai querer algum tipo de contra partida: um relatório técnico, uma apresentação ou algum tipo de demonstração do que foi desenvolvido.
Vou comentar algumas experiências que tive com alguns protótipos de hardware relacionado a pesquisas que desenvolvi. Espero que este relato possa ajudar a guiar ou mesmo incentivar outras pessoas a querer trabalhar com pesquisa e desenvolvimento, em participar com software, envolvendo protótipos de hardware.
O primeiro protótipo de hardware que tive a oportunidade de trabalhar foi em 2010, graças a um concurso para estudantes ligado à conferência acadêmica UIST 2010. O protótipo em questão era um teclado da área de pesquisa da Microsoft que possuía duas características interessantes: todas as teclas possuíam um pequeno visor OLED e a parte de cima do teclado continha uma região sensível a toque, como pode ser visto no vídeo de divulgação do concurso abaixo:
Neste caso, enviei uma proposta para desenvolver uma ferramenta que auxiliava a edição de vídeo, depois de conversar com o colega Maestro Billy. A minha proposta foi aprovada, eu recebi o teclado (o único enviado para a América do Sul) e criei o protótipo que pode ser visto no vídeo abaixo. Fui até Nova York participar da conferência e também do concurso que distribuiu alguns prêmios em diversas categorias (infelizmente não consegue ganhar em nenhuma delas).
Apesar de ficar muito empolgado quando recebi o protótipo, tive diversos problemas para o desenvolvimento. Não havia escolha de plataforma ou linguagem de programação (apenas C# com uma aplicação WPF), sem documentação, sem suporte, em garantia, códigos de erro e situações inesperadas e com um receio de quebrar o equipamento. Sem contar a necessidade de assinar um NDA, aquele documento que me impedia de abrir, divulgar ou mesmo tornar público o protótipo. Mas, levando tudo em consideração foi uma ótima experiência.
Em 2012 voltei a participar do concurso UIST, porém desta vez o hardware foi um pequeno touchpad que reconhece com grande precisão cinco dedos. Este protótipo foi disponibilizado pela empresa Synaptics, que recebeu o nome de Jedey e também fornece dados de pressão para os cinco dedos reconhecidos, como o vídeo abaixo mostra. De acordo com o fabricante, este é um dispositivo que possivelmente vai ser colocado nas próximas gerações de notebooks.
Segui o mesmo procedimento: enviei a proposta e assim que ela foi aceita recebi o protótipo para desenvolver uma aplicação que deforma objetos 3D (apenas o mesh, sem textura) de acordo com a pressão aplicada sobre cada um dos pontos de contato, como o vídeo abaixo mostra.
Além dessas experiências, também já cheguei a trabalhar com outros protótipos e já escrevi sobre eles aqui no iMasters: CUDA, o capacete neural EPOC, um kit Phidgets e o Raspberry PI.
Mais recentemente conseguir obter um tablet protótipo da Intel (codinome Penwell) para avaliações e desenvolvimento de aplicações colaborativas em tempo real, um dos tópicos que estou pesquisando. Sem entrar muito em detalhes, este dispositivo possui algumas características muito interessantes e é importante destacar a iniciativa da Intel em disponibilizar para a comunidade científica protótipos para auxiliar o desenvolvimento de novas tecnologias ou mesmo para empregá-los em pesquisa de produtos que podem chegar ao público, que nunca vão sair dos laboratórios ou que vão apenas ser utilizados como estudo de caso em alguma publicação acadêmica.