Conversamos com o fantástico Wendell Penedo, artista mundialmente conhecido como Blackseed, especialista em produzir capas de bandas internacionais de rock e heavy metal, e ganhador de diversos prêmios internacionais como o Adobe PhotoWorkShop.
Blackseed também já teve trabalho publicado no licro Exposé 4 com título de excelence, na categoria horror.
Conheça também a galeria de trabalhos de Wendell.
iMasters: Você pode nos falar um pouco sobre você? Sua formação, graduação, experiência no mercado, onde trabalhou, workshops, e experiência de um modo geral em sua trajetória até os dias atuais?
Wendell Penedo: Eu estudei jornalismo na UEPG. Foi quando tive meus primeiros contatos com fotografia. Fiquei bastante empolgado e desenvolvi bem minha técnica e perspectiva na faculdade. Infelizmente essa foi a época de transição entre o filme e o digital, então acabou virando um passatempo meio caro e nunca comprei uma câmera digital decente, então ao invés de fotografar passei a manipular imagens, que me levaram a criar imagens que acreditei que poderiam ilustrar CDs ou DVDs, e deu certo. Sempre fui free-lancer, então nunca trabalhei fichado no ramo.
iMasters: Você teve o apoio de sua família, amigos e colegas de trabalho?
Wendell Penedo: Bem, apoio não tinha muito a ver com minha vontade, mas acredito que todos sempre se mostraram abertos à minha opção. Na faculdade o clima era legal pra esse tipo de coisa, todos estavam sempre envolvidos com arte, fosse música, poesia ou mesmo artes plásticas, então nunca dependi de apoio ou aceitação de ninguém. As coisas foram acontecimento livremente.
iMasters: Você acha que arte é DOM ou um processo de treinamento árduo como nos esportes olímpicos, em que um atleta para vencer tem que treinar 8 horas diárias?
Wendell Penedo: Eu acho que não é nem um nem outro. Eu acredito que arte seja apenas uma forma de comunicação, que em sua essência tenta romper os padrões da linguagem. É interessante perceber como as coisas só existem porque conseguimos dar nomes a elas. Acho que a expressão artística consiste em tentar esse universo dos profundos sentimentos, daquilo que não conseguimos explicar ou expressar senão pela arte. É complicado. Não existe um conceito capaz de explicar a própria arte, o que torna tudo mais interessante ainda.
iMasters: Sabemos que é um grande apreciador da arte. O que uma arte precisa para te agradar?
Wendell Penedo: De fato sou um grande apreciador de arte e acredito que a arte como é vista hoje é muito vulgarizada, banalizada. Sob meu ponto de vista eu não sou um artista. O que faço não é arte, pelo menos na maioria das vezes. Infelizmente me tornei um comerciante de imagens, como tantos, então não sou nada mais que um mercenário, e esse não é o propósito da arte. Não é o que uma arte precisa ter pra me agradar, mas o que algo precisa ter para ser arte. Eu valorizo a honestidade duma peça, o conteúdo íntimo que o artista desejou expressar naquele momento, mesmo que ele nunca seja interpretado pelo observador. É algo quase metafísico, como se houvesse uma aura, uma alma que o autor cede àquela peça e faz dela uma parte dele.
Talvez haja uma confusão em relação ao design. Nem todo designer é um artista, a maioria são apenas pessoas que estudaram as cores, formas, tipografia, combinações, porém suas obras não contém qualquer essência, a menos que completamente submetidas à subjetividade do observador. Acredito que o que eu realmente valorize em uma obra é a entrega do artista. Quando uma pessoa mergulha no abismo da sua alma, o resultado só pode ser uma obra de arte. Ou talvez um deslumbre esquizofrênico, mas nesse caso não há qualquer tipo de proveito para o sujeito, portanto não pode ser arte. Fui claro? rs.
iMasters: A grande maioria de suas artes tem poucas cores. Isso significa algo ou apenas questão de gosto?
Wendell Penedo: Não sei. Realmente nunca tentei determinar um padrão. Eu mudo de tempo em tempo. A maioria das coisas que eu faço nem publico, e nunca comparei as imagens. Acredito que eu ainda vá mudar muito, não sou como Alessandro Bavari, que quando você bate o olho sabe que o trabalho é dele. Acho que não tenho algo que me identifique realmente.
iMasters: Você estuda suas obras antes de começá-las? Conte-nos seu processo de criação.
Wendell Penedo: Não há um processo propriamente dito, a menos que seja algum trabalho encomendado que exija determinados elementos. Na maioria das vezes é a combinação de café amargo, cigarro e alguma música, que acaba me deixando num estado de espírito que me carrega pra dentro da imagem, aí não tenho grande controle.
Não é nada muito racional. Sempre que tento pensar demais, não saio do lugar.
iMasters: O que o inspira para fazer artes de tamanha qualidade como as que vemos em sua galeria no deviantART? Você busca referências em algum lugar, como livros, revistas de arte internacionais ou vem de seu interior naturalmente?
Wendell Penedo: Eu acredito que qualquer coisa que você faz depende da sua bagagem cultural, seja você um vendedor de picolé ou um manipulador de imagens, você usa suas experiências e valores para fazer seu trabalho. Acho que nisso todos são iguais.
Há sempre aquela coisa de assistir um determinado filme e ter vontade de reproduzir aquela fotografia ou atmosfera, mas geralmente me sinto mal com isso, pois sinto que não é uma criação e sim uma simples reprodução, ainda que tudo aquilo que produzimos tem raízes em algo que conhecemos, portanto é uma espécie de reprodução, tento evitar referências diretas de outras obras, sejam artes plásticas, filmes ou mesmo música. Não sou muito fã de peças temáticas.
iMasters: Alguma arte sua é especial para você? Qual seria e por quê?
Wendell Penedo: Minha peça preferida é a próxima. Não tenho uma relação afetiva com meus trabalhos, depois de terminados eles perdem um pouco do valor. Acho que o processo que leva à imagem final é mais interessante do que a imagem em si.
iMasters: A humanidade, em toda história, sempre sofreu influências da arte e sofre até hoje. Quais seriam as influências dela nos dias atuais, para sociedade? Você as considera positiva ou negativa?
Wendell Penedo: Bem, eu geralmente tento perceber o que uma obra causa em mim. O poder de um livro ou de uma fotografia está na forma como pode mudar nossa maneira de encarar a realidade. Acredito que isso seja algo positivo, pois a mudança de comportamento é o que faz das pessoas algo realmente interessante. Eu, particularmente tenho uma sensibilidade enorme para a música. Isso me ajudou a rever valores, mudar comportamentos em diversas ocasiões da minha vida, e isso é ótimo.
iMasters: Hoje, com o avanço da tecnologia, aumentou a facilidade de acesso a programas de edição gráfica, por conseguinte, muito mais gente passou a utilizar softwares como Photoshop, Ilustrador, Corel, entre outros. Como você vê essa “evolução”?
Wendell Penedo: Acho natural. Esse tipo de ferramenta tende a se popularizar, e as facilidades da internet ajudam muitos artistas que talvez estivessem apenas procurando uma plataforma para liberar suas paixões e acho que é o que realmente acontece. Hoje o caipira que mora lá em São José do Quinto dos Infernos, no Acre, tem oportunidade de se expressar com as mesmas ferramentas que o moderninho de Nova Iorque usa. Mas são apenas ferramentas. Não criam os artistas. Os pincéis estão aí ao alcance de todos, nem por isso aparece um novo Van Gogh a cada semana.
iMasters: Blackseed, muitos garotos, rapazes, moços e moças, homens e mulheres que estão lendo esse nosso bate-papo estão querendo saber como e o que devem fazer para criar artes como as suas. Você pode dar algumas dicas para todos os seus fãs? Pode ser em forma de livros, revistas ou em qualquer outro meio.
Wendell Penedo: Eu não acredito que haja algum segredo. Como eu disse, as ferramentas são apenas ferramentas, mais cedo ou mais tarde você domina a técnica, é só praticar à exaustão e não se contentar logo de cara. Não to falando de arte, estou falando de técnica. A maioria das pessoas se acomoda logo depois que aprende a usar o primeiro filtro que encontra no Photoshop, considerando-se o maioral. Se você tem um nível estipulado, ótimo, alcance e pare. Porém, se você procura uma forma pra dar vazão aos teus sentimentos, é uma caminhada pessoal e solitária, você vai encontrar o que te serve. Não tem receita, mas não custa nada ter um bom background técnico do(s) programa(s) que você pretende usar. A partir daí, é só você que pode determinar seus limites.
iMasters: No mercado de Design, criação, ilustração etc. temos ainda espaço para os jovens artistas que estão saindo de universidades e iniciando suas carreiras? Qual a importância de uma graduação para este Mercado?
Wendell Penedo: Eu acredito que a graduação, qualquer que seja a área, é importante, pois te direciona. A maioria das pessoas precisa de direção. Algumas coisas você aprende sozinho, mas a maioria depende da ajuda dos outros, então o ambiente acadêmico é legal, pois além de te dar um direcionamento teórico te coloca interagindo com outros que podem ter idéias iguais ou opostas às tuas. Seja qual for o caso, a experiência disso é sempre de grande valor.
Evidentemente o mercado tenta filtrar um pouco a oferta estipulando obrigatoriedade de graduação pra determinados cargos, o que não te impede de ser um free-lance. Nem todo ilustrador quer ser diretor de arte ou designer sênior. Há espaço para todos, de acordo com nossas habilidades e expectativas.
iMasters: Como você vê a arte daqui uns 30 anos? Será que não existirá mais arte tradicional? A arte irá acabar como um todo ou, ao contrário, estará em abundância no mercado? Isso será bom ou ruim para os artistas?
Wendell Penedo: Eu vejo a arte como era vista no Séc. XI ou em 2.000 a.C.
Nada mudou, só novas mídias apareceram. Não há menos pintores tradicionais por que a Corel lançou o Painter. Existe todo um deslumbre em relação à tecnologia, vivemos numa época muito acelerada, e acredito que a tendência é só aumentar. É tudo muito vantajoso, pois hoje você pode optar entre a tinta a óleo e o rgb. Todos saem ganhando.
iMasters: Bate-bola. Wendell resuma em uma palavra ou um único pensamento, os itens abaixo.
Wendell Penedo:
- Arte – Alma
- Vida – Morte
- Mulher bonita – Carla Sganzerla
- Esporte – Abominável
- Morte – Alívio
- Presente – Caos
- Cor – Preta
- Lugar – Minha cama
- Comida – Macarrão
- País – Suécia
iMasters: Saindo um pouco da arte e pensando mais no lado comercial, como você age para cativar seus clientes, alguma técnica em especial?
Wendell Penedo: Eu mando e-mails até eles não agüentarem mais e resolverem dar uma olhada no meu portfólio (risos)
iMasters: O que os iniciantes podem esperar do mercado de Artes? É um mercado onde se consegue viver bem? Quantas horas por dia é preciso trabalhar? Qual o ganho médio de um iniciante e de um Máster?
Wendell Penedo: Bem, acho que o mais importante é decidir o que você vai fazer. Eu gosto de música, alguns estilos em especial, portanto eu conheço as características estéticas, comportamentais, enfim, eu tento me manter em um terreno seguro. Eu não sei até onde eu conseguiria produzir num ambiente estranho à minha cultura pessoal. Acho importante você se dedicar a algo que goste e conheça, pois dessa forma você sempre terá mais segurança para se expressar.
Em relação à horas, bem, isso depende da forma como você produz. Tem gente que gasta dias em uma imagem, outros minutos. É algo bem pessoal isso. Agora, voltando àquela história de praticar, desenvolver suas habilidades com a mídia que você escolheu, é bom dedicar o máximo de tempo disponível. Talvez a pratica não leve a perfeição, mas ajuda um bocado.
Finalmente os ganhos. Isso é relativo. Tudo depende do nicho que você escolheu. Confesso que fazer capas de bandas underground não vai te deixar rico, mas o prazer de colaborar com algo que você aprecia e acredita às vezes vale mais do que dinheiro, mas não paga suas contas… rs
iMasters: Espaço iMasters reservado a Blackseed. Sinta-se a vontade para comentar sobre o que desejar. Talvez sobre algum ponto que nossa entrevista não abordou, mas que você gostaria de comentar, ou qualquer outra coisa. Wendell, o espaço aqui é seu.
Wendell Penedo: Se você chegou até aqui lendo a entrevista, parabéns. Você tem força de vontade! Agora é só desenvolver a criatividade e sair por aí criando “arte”!
Obrigado.