Carreira Dev

20 jan, 2020

Design para veteranos digitais: acessibilidade para nós mesmos

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Talvez você, que está lendo esse artigo, ainda não esteja sentindo as consequências do tempo. Mas quero chamar sua atenção para um aspecto que nós, desenvolvedores de software, na maioria das vezes, fazemos questão de deixar de lado: a acessibilidade para adultos, incluindo o design.

Quando falamos sobre acessibilidade logo vem à cabeça que é “algo para pessoas com deficiência”. Entretanto, se você olhar ao seu redor, vai reparar que em alguns jovens adultos já começam a aparecer os primeiros fios de cabelos brancos.

Para ser bem objetivo, a acessibilidade para pessoas com algum grau de deficiência, embora eu não goste deste termo, se divide em cinco grupos principais:

  • Visual: dificuldade ou inabilidade de enxergar;
  • Auditiva: dificuldade ou inabilidade de escutar;
  • Fala: dificuldade ou inabilidade de falar;
  • Motora: dificuldade ou inabilidade de se mover ou mover algum membro;
  • Cognitiva: dificuldade ou inabilidade de compreensão.

Porém, é necessário ressaltar que algumas imparidades se desenvolvem, ou não, ao longo de nossa vida, inevitavelmente. São elas:

  • Redução da visão;
  • Redução da audição;
  • Dificuldade de locomoção e/ou coordenação motora;
  • Vocabulário limitado ou mesmo mal desenvolvido.

E você com isso?

Bem, é muito provável que você, assim como eu e muitos outros colegas de profissão, entre para uma faixa etária onde algumas habilidades talvez passem a não ser tão boas como são hoje.

Você também deve ter visto esse gráfico esquisito das aulas de geopolítica na escola.

Resumidamente, ele demonstra que pouco menos da metade das pessoas no Brasil, isto é, pouco mais de 100 milhões de pessoas, estarão na parte de cima da pirâmide em alguns anos.

Isso significa que uma parcela cada vez maior da sociedade estará sujeita às imparidades mencionadas anteriormente. De novo, pessoas com visão um pouco menos acurada, redução da capacidade auditiva, diminuição da coordenação motora, ou ainda que desconheçam neologismos e estrangeirismos com que a internet nos presenteia diariamente.

Outra informação importante, mais especificamente sobre deficiência, vem do IBGE, em sua pesquisa de 2010:

Fonte: IBGE Educa

Se pegarmos só esses 7% com alguma deficiência que, na escala, possuem “muita dificuldade” e “não consegue de modo algum”, já são quase 14 milhões de pessoas.

Retomando o assunto original, vamos passar rapidamente pelas mudanças que a população terá de se preocupar à medida que envelhece.

Mudanças na visão

Presbiopiaamarelamento da visãosensibilidade à luz e cegueira noturna são apenas alguns exemplos do que pode ocorrer com nossa visão ao longo dos anos. E é papel do designer considerar isso.

Mudanças na coordenação motora

É comum também que a destreza nos movimentos diminua com o tempo.

O teste da Espiral de Arquimedes acima demonstra um indivíduo com a doença que comprometeu seus movimentos. Tente imaginar como uma pessoa de mais idade se vira com aqueles menus flutuantes que escondem dezenas de opções, que se revelam apenas ao passar o mouse por cima da letrinha miúda. O cenário é, certamente, de um filme de terror.

Mudanças na fala e na audição

Com o passar dos anos, a fala fica mais lenta, pois é necessário um esforço maior para formar frases e proferi-las. Da mesma forma, a audição se torna cada vez mais difícil.

O próximo teste vai chocar você. Um beep em várias frequências é emitido e você pode determinar em qual faixa etária você provavelmente está.

Mudanças na cognição

A velocidade de pensamento também se reduz com o tempo, o que torna as tomadas de decisão cada vez mais lentas.

Tente imaginar como a pessoa se sente ao se deparar com um mega portal cheio de imagens e textos com letras pequenas, formulários extensos e uma árvore de menu supercategorizado.

Mudanças no conhecimento

Termos técnicos e palavras estrangeiras, com os quais já somos acostumados hoje, passam batidos: update, Captcha, deletar, meme, emoticon, Zap/ZipZop (WhatsApp). São palavras que já incorporamos em nosso vocabulário.  E a internet ainda nos surpreenderá com inúmeras outras.

O futuro das interfaces

Há certo consenso na comunidade de design e desenvolvimento de software. De que as telas, teclados e demais periféricos tendem a desaparecer.

Estamos amadurecendo as interfaces por voz — ou VUI (Voice User Interface) — como no aplicativo do banco que, convenhamos, é bem legal. Interfaces com realidade virtual também já geram uma grande expectativa, assim como a inteligência artificial. Já se fala também em Neuralink, onde a tecnologia acessa nosso cérebro e nos permite comandar qualquer coisa do mundo real apenas com o pensamento.

Embora esse seja o caminho natural na evolução das interações entre humanos e computadores, cada uma das tecnologias citadas ainda terá que enfrentar as mesmas barreiras de acessibilidade das interfaces atuais.

Por fim, para a construção de interfaces acessíveis para todos, podemos começar pelo básico: legibilidade, simplicidade, consistência, redundância e suporte. E o que temos feito para desenvolver interfaces acessíveis em nossos MVPs?