Desenvolvimento

12 fev, 2019

The Velopers #25 – Ahirton Lopes

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Em um bate-papo descontraído, nosso community manager, Rodrigo Pokemao, conversou com Ahirton Lopes, na edição de número 25 do The Velopers.

Ahirton Lopes é Data Scientist da Magna Sistemas e atua na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo via PRODESP. Ele é palestrante, Community Manager, Machine Learning Engineer, um dos organizadores da comunidade A.I. Brasil e da School of A.I. São Paulo.

Na conversa, Ahirton revelou que tem planejado ações para este ano, para fazer com que a Inteligência Artificial seja mais difundida e para que as pessoas passem a entendê-la como algo que vai beneficiar a vida delas.

O iMasters traz parte do bate-papo transcrito para você ler a seguir. Mas, se preferir assistir à conversa completa, basta acessar o vídeo do canal do iMaster no Youtube, no final da página.

O bate-papo

Pokemao – Eu sempre faço a primeira pergunta para todo mundo que é como você começou com isso, como começou a programar, como começou a mexer com TI?

Ahirton – Ganhei um computador quando era muito guri, na época dos processadores k6-2, o computador Compaq. Me lembro do primeiro dia, que foram lá montar o computador para mim. Eu fui afortunado, porque o cara que foi montar esse computador para mim, gostava muito de jogos, principalmente jogos RTS, de estratégia, que é algo que eu gosto bastante até hoje. E fuçando um pouquinho nesses jogos a gente vai aprendendo a fazer uma coisa ou outra, algumas modificações… Cheguei a trabalhar um tempo com modificações de Tibia, etc. Então, ainda bastante novo. Comecei a programar entre os 12 e 13 anos e não parei mais.

Pokemao – Você fez modificações de jogos, tudo mais, e de onde surgiu o interesse, depois, em inteligência Artificial? Você começou a programar, aprendeu sozinho, mas quais eram as primeiras linguagens de programação, que você trabalhou?

Ahirton – Então, é interessante, porque, você vem do mundo do PHP, e o que eu mais programava nessa época era PHP, e, claro, estava aprendendo outras coisas, né? Passei no vestibular com 16 anos, então, eu comecei a graduação bastante cedo.

E na graduação eu tive minha primeira experiência com o que era mineração de dados, aquela coisa básica de fazer agrupamento de dados, trabalhar com os primeiros classificadores, que agora têm esse guarda-chuva da inteligência artificial.. Então, meu primeiro contato realmente foi através da academia. Você pode ver que nesses anos (2008, 2010), ainda era um assunto que tava muito na academia.

Pokemao – E é uma “parada” que a gente sabe que não é de hoje. As pessoas falam que Inteligência Artificial é a “parada” do momento. Mas não é. É mais um ciclo que a gente tem na TI, como todos os outros, como o Chat. O de Chat, eu digo assim: um chat, como a telnet era escrito, depois foi para fala, telefone (a gente queria implementar o telefone do computador, e a gente conseguiu fazer), depois foi para vídeo, depois voltou para escrita, a gente voltou para rede social (que é a escrita de novo), depois foi para áudio de novo, depois foi para vídeo de novo (com o Skype) e agora você volta pro escrito de novo que é o Whatsapp. E do Whatsapp você pode mandar áudio, que aí, já evoluiu de novo para áudio… E agora…

Ahirton – …Vai ter alguma coisa nova para vídeo…

Pokemao – É isso! Chamada de vídeo agora… É sempre um ciclo. A questão da Inteligência Artificial é a mesma coisa. Programação funcional é outra coisa. Como você vê isso? Hoje em dia se fala “hoje a gente pode trabalhar com inteligência artificial de verdade, porque a gente tem dados e a gente não tinha quando falava muito nisso”.

Ahirton – Quando a gente fala de inteligência artificial, a gente tá falando de processamento estatístico, matemática computacional, basicamente. E esta matemática computacional, claro, tem a ver bastante com BigData. Então, nós estamos produzindo cada vez mais dados, nós temos dispositivos que estão deixando as pessoas cada vez mais conectadas. Então, eu consigo fazer muito mais facilmente um sistema robusto, de detecção de falha. Eu consigo fazer um sistema como da Uber, de acompanhamento de vários carros e percursos diferentes.

Coisas que anteriormente já se fazia, em algum ponto. Eu já conseguia verificar a localização de um caminhão de entrega, por exemplo, mas eu conseguia fazer isso em caso a caso. Hoje em dia, a gente tem uma questão de paralelismo, processamento computacional muito mais barato, inclusive, que facilita tudo isso. Mas inteligência artificial nada mais é do que um ciclo. A gente tem chatbots, muito em voga, mas que vêm da década de 1980. As redes neurais, artificiais, as primeiras proposições, são da década 1940. Então, não é novo. O que a gente vê de novo em Inteligência Artificial se baseia no trabalho desses gigantes.

Pokemao – De onde veio seu interesse por isso? Na faculdade, você falou que mexia, já fazia seus pequenos modelinhos. Hoje em dia, você só trabalha com isso…O que mudou? [o que determinou aquele] “agora vai”?

Ahirton – Ali nos idos de 2008, quando eu entrei na universidade, eu entrei num curso que não existia. A estrutura é totalmente faltante, matérias aleatórias, está se encaixando ainda a grade. Eu tive um professor muito bom de Matemática Discreta… Esse professor tinha interesse em trabalhar com lógica… Mas isso inferindo fatores humanos. A gente começou a trabalhar com os fatores “personalidade e liderança” por meio de algoritmos.

Eu fiz um trabalho, onde a gente classificava as pessoas, seja em uma sala de aula, num grupo de trabalho… E a gente conseguia dividir os melhores grupos para determinadas tarefas. A gente conseguia “botar” um líder em cada grupo, conseguia tirar pessoas muito parecidas entre si, porque descobriu-se que elas não colaboravam muito.

E a partir daí, o mundo se abriu, porque eu comecei a viajar, comecei a ver que tinham outras pessoas que faziam esse tipo de trabalho, que eu não tava sozinho no mundo. O sentido de pertencimento, de comunidade, é muito importante para quem trabalha com isso. E aí, à posteriori, comecei a fazer outros projetos.

 

Ahirton Lopes disse que em 2010 foi um dos 5 alunos escolhidos, de institutos de educação públicos do Maranhão, para fazer um curso no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), em São Paulo, sobre Inteligência Artificial. Depois, em um curso de iniciação científica, realizou um trabalho sobre a localização de ônibus na cidade de São Luis, no Maranhão, onde morava.

Em 2013, ele participou de um evento sobre BigData, onde conheceu e conversou com um professor que lhe deu uma oportunidade para trabalhar em sua empresa. E assim ele começou a transição para trabalhar com aprendizagem de máquina e ciência de dados. Em seguida mudou-se para São Paulo.

“Cientista de Dados não é alguém que vai resolver os problemas da sua empresa” – Ahirton Lopes

De acordo com Ahirton Lopes, o Cientista de Dados é um profissional que “não vai resolver os problemas da sua empresa”. Ele “vai entender os problemas, mas precisa de alguém que possa fornecer os dados, as KPIs do que é bom, do que é ruim, do que de fato vai fazer com que seu negócio cresça e vá dar oportunidades”.

Pokemao perguntou sobre educação. Ele comentou que a área de inteligência artificial e outras tecnologias têm avançado muito rapidamente. E a educação não avança na mesma proporção. Poke argumentou que, diante deste cenário, é difícil para um professor acompanhar e conseguir abordar isso para os alunos.

Pokemao – Qual a solução? Como pensar em uma solução para isso?

Ahirton – É realmente algo que eu venho me atentando bastante nesse último ano, que eu tenho dado mais aulas. De fato, a gente não consegue formar para o mercado. As faculdades não formam mais para o mercado, não formam o profissional que seja capaz de se adequar a um mercado com essas mudanças cada vez mais constantes. Muitas vezes, o professor também não é incentivado a isso.

O professor de universidade, no Brasil, pelo menos das maiores universidades, tem que ser pesquisador, tem que ser o cara que vai escrever, tem que ser um cara que vai coordenar um curso, que vai estar dando aulas de substituto etc… Então, quer dizer, ele tem que ser o meio-campo, ele tem que ser  o atacante, ele tem que cruzar a bola, ele tem que cabecear…

Então, como esse cara vai acompanhar também as diferentes tecnologias? Por isso que eu me sinto afortunado por estar no mercado e conseguir fazer isso. Porque eu sei que muitos não vão conseguir. Infelizmente, isso é um problema que afeta muito as pessoas que querem entrar em inteligência artificial, as pessoas que querem acompanhar de fato o que está sendo feito como estado da arte.

O chatbot

Pokemao pediu a opinião de Ahirton Lopes sobre a ideia de que o ChatBot “resolve todos os problemas do mundo”.

Ahirton – O ChatBot é uma coisa muito de design de conteúdo, design de conversação. É como se eu tivesse conversando aqui com você, só que eu tenho opções mais finitas de onde aquela conversa vai nos levar. E as pessoas não entendem muto bem isso… Basicamente, o que tu tens alí são várias APIs onde tú tá consumindo “n” serviços. Então, primeira coisa, como eu mapeio isso? Que serviço eu vou estar de fato utilizando? Qual público que eu vou estar desenhando essa conversa? Quem quiser acompanhar mais um pouco sobre isso, tem uma comunidade chamada ChatBot Brasil. O pessoal discute bastante sobre isso.

Automação da inteligência artificial

Pokemao – Há vários players fazendo coisas para automatizar a inteligência artificial, como Google, Microsoft, IBM, Amazon… E você tem pessoas que só navegam nisso. Pessoas que estudam algoritmo de verdade, que sabem o que estão fazendo…
Até quando isso é bom, até quando isso é ruim?

Ahirton – É bom porque você tá fazendo com que a minha tarefa, do engenheiro, do machine learning, do cientista de dados, seja um pouco mais tranquila. Hoje em dia, eu não preciso mais ficar fazendo processamento de linguagem natural… Porque, entenda, fazer um serviço de chatbot do zero é uma coisa inviável para determinadas empresas e não tem porque… Então, para algumas coisas, é louvável, é ótimo.. vocês vieram para ajudar no meu trabalho. Mas para outras, é aquela coisa, será que a pessoa está realmente entendendo o que tá ali por trás? 

Ahirton deu uma orientação para quem tem interesse pelo setor:

“Você que quer trabalhar com inteligência artificial, quer entender melhor isso, poxa, tem um domínio, você tem um certo domínio de matemática. Eu sei que as aulas de cálculo podem ser difíceis. Para mim, foram, também. Eu fui entender muito depois que eu tava ali no mestrado, entrando no doutorado. Por que? Porque eu tive a necessidade. E a verdade é essa, gente. A gente só aprende com a necessidade. Então, você tem que ir lá e criar seus próprios problemas…”

Sarcasmo e ironia na A.I.

Pokemao e Ahirton Lopes conversaram, ainda, sobre sarcasmo e ironia, que são itens complicados para os sistemas de processamento de linguagem natural. Ambos têm a ver com a empatia humana.

Ahirton – “Eles têm muito a ver com como você se identifica como humano e como você identifica a linguagem dos outros. Então, a partir do momento em que a gente não tem ainda um DataSet volumoso sobre isso, a gente não entende direito o que é empatia, esses problemas também ficarão um pouco sem solução. Claro que algumas coisas, dá para saber. Você tem alguns dicionários de palavras que são mais utilizadas quando a pessoa está sendo irônica, mas ainda não são técnicas que te dão uma acurácia tão grande assim, para esse tipo de problema”.

Para assistir a entrevista completa, veja a gravação a seguir: