Desenvolvimento

28 mar, 2016

Minimizando o acoplamento entre Views e ViewControllers

Publicidade

O excesso de responsabilidades do ViewController é algo que vem me incomodando há algum tempo. Já escrevi um pouco sobre a relação entre ViewControllers, hoje quero falar sobre a relação entre as Views e o ViewController.

Views, de maneira geral, são genéricas. Não contêm lógica e podem ser reutilizadas em diferentes contextos. Por exemplo, UILabel possui uma série de customizações como text, font e textColor, que permitem que ela seja usada em diversos contextos. Até aqui tudo certo. Na maioria dos casos, nem todas as configurações são alteradas, o mais comum é alterar as 3 citadas. Em alguns casos, é necessário definir uma configuração para o mesmo valor, por exemplo textColor, cujo valor padrão é blackColor, mas no app todos os textos são grayColor; para evitar a replicação de código, algumas vezes eu já fiz uma subclasse de UILabel com configurações padrão diferentes, mas isso sempre me pareceu estranho. Essa questão de onde deve ficar o código que define as configurações é um ponto desconfortável. Por exemplo o text, normalmente quem atribui uma string é o ViewController, que é um estranho, pois normalmente ele tira essa string de um Model. Quem deve ter o propósito de definir essas configurações?

Primeiramente, o que são essas configurações? São um conjunto de customizações de um componente que correspondem a um resultado final específico – vamos chamar esse conjunto de configurações de estado. Note que a definição de estado aqui é a mesma usada em física, uma descrição que define de maneira única e não ambígua a configuração de um sistema. Por exemplo, se o sistema for a localização de algo em uma rua, um estado é definido pelo número da casa. Se o sistema for a localização de algo em alguma cidade na terra, temos várias descrições (ou modelos) de estados possíveis, por exemplo [País, cidade, rua, número da casa] ou [latitude, longitude, altitude].

Então, cada componente possui um número quase infinito de estados diferentes, pois, no caso do UILabel, para cada text diferente temos um estado diferente. Se cada estado é único e corresponde a um conjunto de configurações, por que não criar uma classe responsável por definir o estado de uma View? Precisamos de um nome para essa descrição de estado. Como devemos fazer uma modelagem de quais as configurações são relevantes, acho que ViewModel pode ser um nome adequado 😉

Um LabelViewModel simplificado seria:

struct LabelViewModel {
    let text: String
    let textColor: UIColor
    let font: UIFont
}

A ViewModel deve ser imutável, então um struct parece mais adequado. Para definir uma configuração padrão, é só definir um init:

init(text: String = "", 
     textColor: UIColor = UIColor.blackColor(),
     font: UIFont = UIFont.systemFontOfSize(17))
{
    self.text = text
    self.textColor = textColor
    self.font = font
}

E uma extension do UILabel faz a conexão:

extension UILabel {
    var viewModel: LabelViewModel {
        set(viewModel) {
            self.text = viewModel.text
            self.textColor = viewModel.textColor
            self.font = viewModel.font
        }
        get {
            return LabelViewModel(
                text: self.text ?? "",
                textColor: self.textColor,
                font: self.font)
        }
    }
}

A ideia parece interessante, mas esse exemplo dá uma impressão de excesso de complexidade. Concordo, realmente estamos trocando 6 por meia dúzia. Vamos tomar um exemplo mais real. Temos uma View que contém uma UILabel e um UIButton. Sua interface pública seria:

public class View : UIView {

    public var viewModel: ViewModel

    internal let label: UILabel
    internal let button: UIButton
}

Note que as subviews não são expostas, e a única maneira de alterar o estado dessa View é alterando o ViewModel, que seria assim:

public struct ViewModel {

    public let attributedLabel: NSAttributedString
    public let attributedButtonText: NSAttributedString
    public let backgroundColor: UIColor
    public let onTap: ((viewModel: ViewModel) -> Void)?

    public init(
        attributedLabel: NSAttributedString = NSAttributedString(string: "Label"),
        attributedButtonText: NSAttributedString = NSAttributedString(string: "Button"),
        backgroundColor: UIColor = .grayColor(),
        onTap: ((viewModel: ViewModel) -> Void)? = nil)
    {
        self.attributedLabel = attributedLabel
        self.attributedButtonText = attributedButtonText
        self.backgroundColor = backgroundColor
        self.onTap = onTap
    }
}

Os atributos que podem ser alterados são o NSAttributedString da label, NSAttributedString do UIButton em UIControlState. Normal, a backgroundColor e um closure que é executado quando o botão tem um tap.

O estado dessa View depende de um Model:

public struct Model {

    public enum Emoji: String {
        case ?, ?, ?
    }

    public let name: String
    public let emoji: Emoji

}

Dado que a configuração da View é necessariamente feita de maneira a representar visualmente o Model, o ViewModel funciona como um adapter, uma interface com apenas com as configurações relevantes. Isso é representado por uma extension do ViewModel:

public extension ViewModel {

    public init(fromModel model: Model, onTap: (viewModel: ViewModel)->Void) {

        let name: NSAttributedString =
        NSAttributedString(
           string: model.name,
           attributes: [NSForegroundColorAttributeName: UIColor.redColor()])

        let text: String = model.emoji.rawValue

        self.init(
            attributedLabel: NSAttributedString(string: text),
            attributedButtonText: name,
            onTap: onTap)
    }

}

Aqui vemos mais uma grande vantagem dessa maneira de separar o código. Testar como será a representação da tela dado um modelo fica muito simples, não é necessário instanciar View nem ViewController – um simples teste unitário nessa extension é suficiente. Isso porque toda a lógica está isolada em apenas um lugar!

Já que falamos de ViewController, qual seria seu papel aqui? Muito simples:

let viewModel = ViewModel(fromModel: model) { viewModel in
    print("tap")
}
aView.viewModel = viewModel

Cria o ViewModel a partir do Model e define qual ação será tomada quando o botão for acionado. Menos código na ViewController, menos complexidade para testar por que tudo está isolado, mais uma vitória do bem!

Dessa forma, todo o fluxo de informação entre a View e o ViewController necessariamente passa pelo ViewModel.

Um exemplo completo pode ser encontrado no repositório PlainMVVM.

O nome ViewModel não foi usado aqui por mero acaso, ele vem de um padrão de arquitetura conhecido como MVVM (Model-View-ViewModel). Ele tem se tornado popular, principalmente num contexto de programação reativa, inclusive em alguns artigos do equinociOS. Mas pouco se fala fora desse contexto, a NatashaTheRobot deu uma palestra sobre Protocol Oriented MVVM, com algumas ideias interessantes para organizar o código usando MVVM. A ideia que eu descrevi aqui pode não corresponder à um MVVM formal, mas ilustra de uma maneira razoavelmente simples como separar mais as responsabilidades facilitando testes e reaproveitamento de código.

Críticas, sugestões e comentários são sempre bem-vindos, é só me pingar no @diogot ou no Slack do iOS Dev BR.