Desenvolvimento

12 fev, 2015

Critérios para se aferir a qualidade de um sistema de informação

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Segundo a Associação de Auditores de Sistemas de Informação de Rolling Meadows, efetividade, eficiência, integridade, confiabilidade, disponibilidade, confidencialidade e conformidade são os melhores critérios para se aferir a qualidade de um sistema de informação especificamente, ou de uma informação qualquer, em geral. Além da eleição desses critérios, a associação também sugere a seguinte interpretação:

Efetividade

“A informação é efetiva se ela satisfaz as necessidades informacionais do consumidor que a utiliza para uma tarefa específica. Se aluguém pode realizar a tarefa com a informação, então ela é efetiva. Isso corresponde aos seguintes objetivos de qualidade: quantidade apropriada, relevância, compreensibilidade, interpretabilidade, objetividade.”

O critério da efetividade é finalista, teleológico. Considera a informação não como um fim em si mesma, mas como uma ferramenta para a realização de um objetivo externo, a tarefa. Porém, o fato de uma informação ser útil para a realização de uma tarefa apenas é relevante se você considera o relacionamento entre a informação e a tarefa. Em outras palavras, toda informação é útil para alguma tarefa, mas nem toda informação é útil para toda tarefa. Conhecer o fato de a letra ‘Q’ estar na primeira posição do teclado QWERTY é útil para quem digita a letra ‘Q’ nesse teclado, mas totalmente irrelevante para a tarefa de cozinhar pamonha. Então, há uma vinculação, uma aitia final ou, pelo menos, instrumental, entre a informação e a tarefa pela qual ela é realizada. Esse detalhe revela-se na ênfase à relevância, acrescentada entre os objetivos de qualidade do critério.

A quantidade apropriada também é indicada como objetivo de qualidade da efetividade. Esse objetivo, porém, considerado simultaneamente à relevância, sugere um pressuposto não-conjuntista para a definição da informação. Se a mesma informação está representada mais de uma vez, desnecessariamente, então a quantidade de ocorrências dessa informação é maior do que a quantidade apropriada. E, portanto, é possível que a mesma informação esteja representada em mais de uma posição. No conjunto dos números naturais, por outro lado, cada elemento ocorre uma única vez e o objetivo de qualidade compatível com isso seria o da relevância. Ou seja, não haveria muita informação relevante, mas qualquer quantidade de informação irrelevante. E, se houvesse muita informação relevante, então não seria o caso de essa quantidade estar acima do estritamente necessário, pois é um pressuposto razoável que toda informação relevante seja, necessariamente, necessária.

Esse raciocínio leva, portanto, ao último dos objetivos de qualidade elencados. Se apenas a informação relevante está representada, então a representação é necessariamente objetiva. Por outro lado, a objetividade é um critério de difícil interpretação, nada trivial ou pacífico, mesmo na epistemologia. Além disso, a objetividade se opõe à subjetividade – de fato apontada como objetivo de qualidade no critério da fiabilidade.

Sob a efetividade, os associados de Rolling Meadows também incluem a compreensibilidade e a interpretabilidade. Mas, esses são conceitos estritamente pragmáticos. A compreensibilidade da mensagem, ou da informação, depende do conhecimento compartilhado por emissor e receptor. A diferença entre os dois objetivos de qualidade permanece por ser explicada. Nada há no Apêndice VI que contrarie a hipótese de serem apenas sinônimos. A inclusão da interpretabilidade ao domínio da efetividade alarga o escopo desse critério, impondo as agendas da educação ou da formação cultural do consumidor da informação. Esse alargamento, porém, contraria o escopo mais realista da utilidade teleológica ou instrumental enfatizado inicialmente.

A efetividade de Rolling Meadows é um critério teoricamente frágil, insustentável em seu conjunto e possivelmente inconsistente. É um esboço programático incompleto, e nisso reside seu único mérito.

Eficiência

“Enquanto efetividade considera a informação como um produto, a eficiência está mais relacionada ao processo de obtenção e uso da informação. Portanto, esse critério está alinhado à visão da ‘informação como um serviço’. Se a informação efetiva é obtida e utilizada de forma fácil (i.e., ela demanda poucos recursos – físicos, cognitivos, de tempo, de dinheiro), então o uso da informação é eficiente. Isso corresponde aos seguintes objetivos de qualidade: credibilidade, acessibilidade, facilidade de operação, reputação.”

Exceto pela facilidade de operação, que é um conceito econômico, os demais objetivos de qualidade da eficiência são incoerentes com o apelo à demanda por recursos na definição do critério. Essa definição de eficiência complementa a de efetividade. Segundo aquela, a informação deveria ser útil, segundo essa, o usufruto da utilidade deve ser fácil. Portanto, é um critério que modaliza um conceito anterior; um predicado de segunda ordem.

A informação é efetiva se pode ser usada para determinada tarefa e é eficiente se esse uso for econômico. Falta, porém, qualquer consideração à medida da economia. Uma solução é econômica apenas comparada a outra solução, mais dispendiosa. A necessidade da existência de pelo menos duas alternativas, e a necessidade de se estabelecer critérios de comparação, porém, não são mencionados.

Credibilidade e reputação também são conceitos pragmáticos, assim como a compreensibilidade da efetividade, e dependem mais do receptor do que da mensagem. Uma informação credível será mais facilmente utilizada, mas isso depende tanto mais da condição receptiva e a predisposição à crença do seu público consumidor, do que da informação propriamente dita. A credibilidade é um critério que incide sobre um discurso, mais do que sobre uma partícula de informação. Uma informação, enquanto elemento mínimo de um discurso, não pode ser credível ou incredível. Considerando essa restrição, a credibilidade da informação precisa ser interpretada como a condição da informação de pertencer a um discurso credível. Já o objetivo de qualidade da reputação é ainda mais pragmático, e traz consigo todo o espectro de problemas e possível subjetividade da parafernalha ética, moral, político-econômica e psico-social.

Assim como a efetividade, a definição de Rolling Meadows para a eficiência é claudicante no escopo e serve apenas como um resumo programático. O ponto de interesse, nesse critério, é apenas o da economia. O ponto de interesse da efetividade é o da utilidade, utilidade instrumental ou finalista extrínseca.

Integridade

“Íntegra é a informação livre de erros e completa. Isso corresponde aos seguintes objetivos de qualidade: completude, acuricidade.”

Acurada é a informação precisa, que vai direto ao ponto e apenas a ele. Esse objetivo de qualidade está mais relacionado à relevância da informação do que ao seu valor de verdade. A acuricidade também é importante para a eficiência, pois é amiga da economia. Por outro lado, a completude determina que toda a informação verdadeira esteja disponível. Obviamente, há uma contradição entre as exigências de acuricidade, precisão e de completude. São dois objetivos dificilmente conciliáveis. A informação livre de erros, ou seja, verdadeira, e completa é o tema da obra de Kurt Godel e, ainda assim, toda a tradição analítica é magnanimamente ignorada pelos associados de Rolling Meadows. Desejar acriticamente a completude, como revela o famoso toerema do lógico austríaco, pode ser uma meta simplesmente ingênua.

Considerada em sua definição sintética e sem ressalvas, a integridade de Rolling Meadows é um critério ingênuo, mal servindo como guia programático.

Fiabilidade

“Fiabilidade é frequentemente vista como sinônimo de acuracidade; porém, também se pode dizer que a informação é fiável se ela é verdadeira e possui credibilidade. Comparada à integridade, a fiabilidade é mais subjetiva, mais relacionada à percepção, e não apenas aos fatos. Ela corresponde ao seguintes objetivos de qualidade: credibilidade, reputação, objetividade.”

Curiosamente, todos os objetivos de qualidade da fiabilidade já pertencem aos critérios anteriores. E mesmo a acuricidade citada no cabeçalho da definição já era item central da integridade. A credibilidade e a reputação pertencem à eficiência e a objetividade pertence à efetividade. Portanto, sem maior aprofundamento, pode-se supor que esse critério é substancialmente vazio. A definição sintetiza o critério pela soma de dois predicados: verdade e credibilidade. Essa soma é bastante representativa e une aparência e condição. Há uma pressuposição mercadológica e propagandista que evoca o binômio clássico da doxa e da episteme: não basta a informação ser verdadeira, ela deve também parecer ser verdadeira.

Segundo a fiabilidade, não basta a informação ser verdadeira, ela deve também parecer ser verdadeira. Esse é o critério da propaganda.

Disponibilidade

“Disponibilidade é um dos objetivos de qualidade sob a pecha da acessibilidade e da segurança.”

Acessibilidade e segurança são princípios contraditórios. A definição do critério da disponibilidade não dá pistas para a resolução desse conflito.

A disponibilidade é um critério de qualidade óbvio para qualquer sistema de informação. Mesmo na língua falada ela está sempre em voga: raramente a conversa entre duas pessoas pressupõe a presença da plateia universal.

Confidencialidade

“Confidencialidade corresponde ao objetivo de qualidade da capacidade de restringir o acesso à informação.”

A confidencialidade é um desdobramento formal, uma consequência lógica da disponibilidade e considerada, isoladamente, contrária a disponibilidade. Os dois critérios são inconciliáveis: ou não se pode considerar de todo a definição de disponibilidade, ou não se pode considerar a confidencialidade isoladamente.

Considerando que o confidencial é um predicado que pertence ao conjunto do seguro, a confidencialidade é, em sua definição, inconciliável com a definição completa da disponibilidade.

Conformidade

“Conformidade no sentido de que a informação precisa estar conforme as especificações é algo coberto por qualquer dos objetivos de qualidade da informação, dependendo dos requisitos. Conformidade à regulação é mais um objetivo ou requisito do uso da informação – não exatamente uma qualidade inerente da informação.”

Ao contrário do que pressupõe a definição, parece ser útil manter um critério dedicado à conformidade da informação aos requisitos. Como já mencionado, esse aspecto desempenha um fator importante na efetividade, pois a informação útil para certa tarefa precisa estar vinculada à tarefa-fim. A conformidade complementa a efetividade, mas não está explicitamente incorporada àquela. Já a conformidade à regulação é uma qualidade inerente à informação, principalmente em sistemas de informação estatais. São exemplos os sitemas de transparência dos dados dos gastos do governo, editalícios e de metronomia. Em todos esses usos é uma qualidade inerente à informação a sua conformidade aos regulamentos vigentes.

A conformidade é um critério importante, porém, aparentemente foi subavaliada na definição dos associados de Rolling Meadows.