A Valve é uma das maiores empresas de games do mercado. Na verdade, como eles mesmos dizem, eles não são apenas uma empresa de games:
We’re an entertainment company. A software company. A platform company.
A cultura da Valve é uma das mais interessantes que existem. Pra começar, não existe hierarquia, e a empresa aposta totalmente em um formato autogerenciável. As mesas são totalmente móveis (sim, elas têm rodinhas), o funcionário escolhe o projeto no qual vai trabalhar e ele mesmo define e prioriza as suas tarefas. Se você quiser ler mais sobre a cultura da Valve, recomendo que leia o livro que eles fizeram para novos funcionários. Esse livro explica que eles valorizam um determinado tipo de pessoa, que é o que eles chamam de pessoa “T-shaped”.
As pessoas T-shaped são profissionais que conhecem diversos assuntos de forma bem geral, não chegando a ser um profundo especialista (a parte de cima do T), mas também são experts em um campo de conhecimento específico (a parte vertical do T).
A Valve diz que esse tipo de pessoa é muito importante para o sucesso da empresa. O motivo é simples: um expert que conhece apenas sobre um assunto pode ter dificuldades para colaborar com o projeto como um todo. Já se a pessoa é alguém generalista que só conhece um pouco de tudo, então ela não acrescenta valor como indivíduo para o projeto. Logo, todos precisam ter os dois perfis, ampliando as possibilidades de colaboração para o produto e principalmente para o grupo como um todo.
Se fôssemos aplicar isso ao desenvolvimento web, estaríamos falando de um profissional full-stack. Geralmente, o mercado usa esse termo um pouco errado. Alguns lugares definem que um desenvolvedor full-stack é aquele back-end que entende de também de operações. Outros lugares definem o full-stack como sendo um back-end que também sabe front-end. As duas estão certas e erradas ao mesmo tempo. Veja: um profissional full-stack é aquele que entende razoavelmente bem todo o stack que se usa em um determinado projeto. O stack de desenvolvimento é o conjunto de tecnologias utilizadas para fazer o projeto funcionar. Exemplo: um site desenvolvido com HTML, CSS, JS, PHP, com WordPress como CMS e MySQL como banco, rodando em um servidor Ubuntu 14 com NGINX e Jenkins como CI. Se você consegue colocar um projeto desses funcionando em produção, sozinho, você pode se chamar de full-stack. E é claro que os stacks mudam de projeto para projeto. Logo, na verdade, um desenvolvedor pode não ser totalmente um full-stack motherfucker. É muito difícil achar um cara que saiba programar todas as principais linguagens back-end, que saiba configurar e manter muito bem servidores web e que domine todos os sistemas de CI etc. Esses caras são moscas brancas.
Se você quiser saber um pouco mais sobre essa história de dev full-stack, rolou uma thread interessante no Twitter esses dias. Conheci pelo Lucas Mazza. O podcast é em inglês e, nesse episódio específico, ele fala sobre o que é exatamente um desenvolvedor full-stack. Vale a “ouvida”.
Mais para frente, escrevo mais sobre a organização que a Valve mantém dentro da empresa.