Carreira Dev

5 jan, 2007

Milhares de pequenos negócios saudáveis e excluídos

Publicidade

Numa
noite dessas, navegando pela rede, tive o prazer de assistir
a uma entrevista  com o colega de profissão Michel
Lent Schwartzman para uma tv online.

Esse rapaz, com sobrenome difícil, que soa alemão
(apesar dele ser carioca legítimo),  é um
dos mais antigos profissionais de web do País. Michel
tem apenas 36 anos e um currículo bem extenso:
Agency.com, EURO/RSCG, Medialab,  DM9DDB e hoje é diretor
da 10′minutos, uma das
principais agências interativas do Brasil.

Na entrevista,
Lent abordou assuntos relacionados a publicidade online, ao mercado,  a
internet atual e projeções
para o futuro. Fiquei ali assistindo, vendo o entrevistado e
os entrevistadores falando tantas palavras inglesas como expertise,
job, target, interactive, web standards e outras firulas
que soam bonito. 

Em determinado momento, Michel mostra o quanto é barato
realizar uma campanha pela internet, quando comparado com
a mídia tradicional. Cita alguns
valores como referência, dizendo que com 80, 100, 200 mil
reais dá pra
fazer uma boa campanha e que de fato um valor como esse seria
irrisório para uma campanha em meios como
TV, rádio e outdoor. 

Revela ainda que o foco de sua empresa está justamente
aí, no médio empreendedor.

Sobre as pequenas empresas que podem investir de 5 a 10 mil
reais, ele dá algumas soluções para
aquele que quer se destacar na internet como por exemplo o Google
Adwords e seus links patrocinados.

É sobre esse médio e pequeno empreendedor que
quero abordar nesse artigo. Muitos webdesigners chegam para
mim e perguntam: “Bruno, quanto devo cobrar?
Quanto?”. Vejam aí o que nosso amigo 

Michel disse. Um médio empreendedor pode investir até 200
mil reais numa campanha incluindo hotsites, banners e idéias
criativas. Percebam que o mercado dele está concentrado
no eixo São Paulo – Rio. Agora levanto a seguinte questão:
será que uma média empresa de Roraima, Piauí ou
Tocantins teria 200 mil reais para investir em publicidade online? 

Respondo: não.

Esse Brasil, de tamanho quase continental,
concentra grandes disparidades. Uma delas é essa, as disparidades
de mercado. Vamos visualizar alguns números.
Segundo o IBGE, em 2005, 39 milhões de brasileiros acessaram
a internet. Apenas 18,6% da população tem computador
em casa. Sendo 13% apenas tem acesso a internet. 

Agora só para se ter uma idéia, em 2000 esse número
era de 8%.

Sabe o que isso quer dizer? Que com o barateamento dos computadores
e ao acesso a internet teremos a sua massificação.
E tem mais, internet já fugiu dos limites do monitor e já é cada
vez mais presente em celulares, aparelhos estes cada vez mais
baratos.

O rumo é certeiro: em breve teremos tantas pessoas
conectadas na internet que chegaremos a mais de 100 milhões
de brasileiros.

Agora, o que fazer com aquele empreendedor de
Roraima, que lá é tido
como um médio empreendedor, mas pelas disparidades econômicas
não
tem 200 mil para investir? E aquela panificadora do meu bairro,
que com a popularização da internet já encontram
seus clientes pela rede, porém não tem ninguém
qualificado disposto a fazer um bom site ou uma boa campanha publicitária
online por 2 mil reais?  O que ele deve fazer?

Será que estamos criando uma enorme contingência
de pequenos empresários que querem estar na internet  mas
não tem como? Do que adianta links patrocinados se
o site a qual está linkado de nada serve, por  tão
mal feito que é?

É fato, o que tem mais nesse país são pessoas
de baixa renda (jeito bonito de dizer “pobres”).
Existe sim gente querendo investir em internet fora de São
Paulo. De Fortaleza a Caxias do Sul, de Cuiabá a Salvador,
existe uma quantidade enorme de pessoas desejando entrar na web
de maneira decente, confiável e promissora mas não
encontram agências e profissionais capazes de atendê-los
por um valor compatível
a sua realidade.

Ferramentas como Joomla, Xoops, WordPress e outros
CMS semelhantes chegaram com a promessa de democratizar o acesso
a ferramentas poderosas de edição
de sites que antes somente grandes empresas tinham a capacidade
financeira de possuir. Mas quem já teve
a oportunidade de encarar um CMS sabe que mesmo assim existem
dificuldades principalmente para um leigo. Fico imaginando o
dono da padaria do meu bairro tentando criar um site com o Joomla.
Complicado. Inevitavelmente ele precisará de alguém
para ajudá-lo. 

E os templates prontos? Outra tentativa
de democratizar esse acesso, disponibilizando bonitos layouts
para aqueles que não tem como investir em layouts próprios.
Resultado: sites iguais, sem personalidade, indo contra a maré da
personificação
como diferencial de mercado. Ponto negativo para imagem da empresa,
sendo percebida apenas meses depois do site ir ao ar.

Então, é isso o que vejo. Milhares de excluídos,
donos de pequenos negócios, que dão certo no meio
offline mas no online não conseguem ter acesso por falta
de um bom trabalho por valores compatíveis. 

Péssimos
profissionais que vendem sites ruins por 200, 500 reais, sabemos
que existem aos montes. Mas bons profissionais com boas
soluções para
esses pequenos empresários? Difícil de encontrar.

Aqui
fica a polêmica. Sei que muitos irão dizer
que o bom profissional deve cobrar caro mesmo pois é merecido.
Outros vão dizer que o mercado está prostituído.
Alguns vão falar ainda que há bons profissionais
cobrando  valores módicos e outros dizendo que se
não
tem dinheiro para pagar, que fique fora da internet.

O objetivo
desse artigo não foi responder mas provocar.
Pensem no que disse, tire suas conclusões e se possível
reparta com a gente. Estamos todos no mesmo barco e esse tipo
de discussão
só vem a somar. Pelo que se viu, na internet, existe
muita vida fora da Av. Paulista. 

Para o alto e avante!