Carreira Dev

19 abr, 2011

E se o Egito fosse aqui?

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Todos devem ter acompanhado a confusão criada
no Egito, diante um grande movimento popular para a derrubada do então
presidente Hosni Mubarak. Assim como aconteceu na Tunísia, a organização dessas
manifestações em todos os cantos do país teve a internet, com as redes sociais
Facebook e Twitter, como principais ferramentas, permitindo o agendamento das
mobilizações e a comunicação em tempo real entre os manifestantes, juntamente
com serviços de telefonia celular.

Percebendo isso, imediatamente o governo
egípcio bloqueou o acesso ao Facebook e ao Twitter, e convencidos de que com
essa ação ainda não conseguiriam interromper a onda de protestos, as
autoridades do governo egípcio, pela primeira vez em nossa história,
interrompeu todo o tráfego da internet e dos serviços de telefonia celular por cinco
dias consecutivos.

O resultado disso foi o completo estado de
revolta que levou o país inteiro a participar das manifestações, incluindo a
adesão de muitos empresários, pois, com a interrupção dos serviços de
comunicação, as empresas se viram vítimas de toda a situação. Não houve
qualquer reação por parte dos provedores, deixando as empresas à mercê da
própria sorte.

E aqui no Brasil, será que as empresas estão
expostas a esse risco? Sim, só que por outros motivos. Acredito que as empresas
correm o risco de terem suas operações paralisadas, não por ações de repressão
do governo, mas simplesmente por falhas na gestão de órgãos importantes, como é
o caso da Eletrobrás Furnas, por exemplo. Enquanto no Egito o governo
“derrubava” os sistemas de comunicação propositalmente, aqui no Brasil, nosso
próprio sistema elétrico se “auto-derrubava” em uma cascata de falhas, deixando
milhões de usuários residenciais e comerciais sem abastecimento de energia
elétrica, como foi o caso do apagão do Nordeste em fevereiro deste
ano. Logo em seguida, a capital mais rica do país passou por um “mini-blecaute”,
atingindo regiões importantes, como a Avenida Paulista.  Isso sem contar os históricos apagões
nacionais de 2001 e 2009. Só em 2010, foram registrados 91 apagões regionais em
todo o Brasil, 48 a mais do que em 2009. Houve um grande aumento dessas ocorrências
nas grandes cidades, em especial na região central de São Paulo e na zona sul do
Rio de Janeiro, levando comerciantes e empresários a se acostumarem com a contabilização
constante de prejuízos.

E quanto a ANATEL, que mesmo em meio a tantas
denúncias contra as operadoras de telefonia e internet devido às altas tarifas
cobradas e à baixa qualidade dos serviços prestados, não consegue impor o
mínimo de compromisso dessas empresas para com seus clientes?

Para as empresas que dependem diretamente de
um ambiente informatizado, o prejuízo é ainda maior. As consequências dessas
falhas são as mais variadas: equipamentos danificados, falha de integridade na
base de dados, corrupção de arquivos dos sistemas e interrupção das atividades
e das operações que suportam o negócio.

 

Aquelas que não investiram tempo em criar
planos de continuidade/recuperação de desastres e não investiram dinheiro
para adquirir soluções tecnológicas que suportem os serviços nos momentos de
parada podem apenas contar com a sorte. E é o que muitos fazem, acreditando que
a quantidade de ocorrências desse tipo não justifica o investimento.
Pois bem, eu começaria a mudar de ideia o quanto antes.

Atualmente, vivemos um bom momento no país,
com a estabilização da economia, gerando um significativo aumento na produção
de bens e serviços. Para dar suporte a isso, é necessária uma grande demanda de
fornecimento de energia elétrica, e é justamente aí que começa o problema. Segundo
especialistas no setor energético, corremos sérios riscos de novos apagões,
contrariando as palavras do governo. É claramente perceptível a limitação na
distribuição da energia gerada e a deficiência das empresas operadoras desse
setor.

Tenho observado em diversas empresas de
pequeno e médio porte uma procura maciça por geradores de energia, seja para
compra ou aluguel. Fabricantes comemoram o aumento de 70% nas vendas desse
produto, segundo uma matéria recente de grande jornal em circulação de São
Paulo. Isso é o reflexo da desconfiança dos empresários que têm observado as
constantes falhas no fornecimento de energia na região.

Mesmo com esse aumento significativo, ainda é
grande a falta de estrutura e preparo das Pequenas e Médias Empresas referente
à prevenção desse tipo de incidente de segurança da informação. Não estou aqui
dizendo que todos devam ter um gerador em sua empresa para suprir as constantes
falhas de fornecimento de energia, mas que cada um saiba o que fazer durante a
ocorrência de um evento dessa natureza.

Ao analisar o negócio de cada empresa e
o setor de mercado ao qual ela pertence, poderemos chegar à conclusão de que ela
pode ficar algumas horas sem acesso aos seus sistemas enquanto outras, por
exemplo, precisam de alta disponibilidade, inclusive nos finais de semana.

Mais do que adquirir tecnologia para suprir
essa carência, é necessário ter um plano de contingência e também um plano para
recuperação de desastres, pois nenhuma atividade está totalmente isenta de riscos
de parada. Saber o quanto de tecnologia cada empresa necessita investir e o
quanto ela depende de pessoas para executar tal ação é o papel das
consultorias de segurança, que possuem uma visão abrangente das necessidades de
todo o negócio, e não apenas do departamento de T.I.

Com a tecnologia definida e as pessoas
responsáveis claramente identificadas, damos o passo seguinte, que é escrever os
procedimentos detalhadamente. Para validar toda essa etapa, realizamos testes
periódicos com toda a equipe.

Independentemente dos motivos que podem levar à
interrupção do nosso sistema de energia e comunicação, devemos assumir a
responsabilidade de pelo menos nos proteger de tais falhas, para preservar a
continuidade do nosso negócio e a imagem de nossa empresa.

Ah, após o Egito, foi a vez de o governo
da Líbia apertar o botão “off” da internet. Quem será o próximo?