Carreira Dev

3 mar, 2011

A história da revolução das startups

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Muito se fala sobre a revolução digital e a criação de novos mercados
junto com empresas de internet e informação. Mas o que talvez não se
saiba é que isso advém de um modelo de negócio (principalmente
americano) de investir em ideias e em conceitos inovadores nos seus
estágios iniciais, com a pretensão de colher lucros num futuro
relativamente distante.

Assim nasceram impérios digitais que definem as
regras e comandam o mercado digital atual. Interessante notar que
geralmente esse tipo de sucesso ocorre com muita frequência com startups
norte-americanas, sendo fatos isolados e esporádicos no Brasil.

Steve Jobs e Woz em 1976

Sendo assim, ficam as perguntas: o que o país precisa para replicar esse sucesso? e o que o governo pode ajudar nessa área?

Mas afinal, o que é uma Startup?

Com certeza quem já teve contato com internet e computadores
reconhece facilmente alguns nomes, tais como: Microsoft, Google, Yahoo,
Apple etc – empresas consideradas como onipresença na área digital.
Agora você sabia que:

  • O volume negociado somente com as ações da Microsoft é maior do que
    todo valor negociado na Bovespa? E que está avaliada hoje em 250 bilhões
    de dólares?
  • A Apple tem mais de 34 mil funcionários diretos?
  • A Microsoft propôs comprar o Yahoo! em 2008 por 50 bilhões de dólares? E o Yahoo não aceitou?
  • O Google tem apenas 10 anos de vida e gerou 23,6 bilhões de dólares
    em faturamento em 2009? E também possui 30,1 bilhões de dólares em caixa
    com 21 mil empregados?
  • Todas as empresas citadas tem a maioria de seus fundadores ou como
    presidentes ou no quadro de diretores? E que todas elas começaram como
    pequenas startups (de 2 ou 3 pessoas)?

Startup é o conceito de pequenas empresas que são montadas em casa ou
em faculdades e que recebem pequenos aportes de capital. Elas exploram
áreas inovadoras de determinado setor (mais comumente a de tecnologia),
possuindo uma aceleração de crescimento muito alta já nos primeiros
meses de existência em virtude de investimentos feitos por fundos de
investimento especializados.

Frequentemente as startups não tem um fluxo
de caixa favorável que viabilize sua existência, como foi o caso do
Google, que só conseguiu o primeiro balanço de faturamento após gastar
mais de US$ 100 milhões e 4 anos de trabalho.

Primeiro Computador da Apple

Geralmente as startups passam por um período de incubação, onde os
projetos são analisados e acompanhados nos seus primeiros dias de vida, e
sendo adequados a uma realidade viável dentro mercado.

Muitas
vezes os fundadores possuem boas idéias de projetos mas não conseguem
enxergar qual seria o caminho para alcançar a viabilidade financeira do
negócio, sendo que esse problema pode se perpetuar durante anos.

Para evitar a morte prematura de uma boa idéia, as incubadoras
prestam serviço de consultoria com apoio material e logistico,
facilitando os primeiros passos do nascimentos das empresas. Um dos
casos mais clássicos é o da Sun Microsystems que em 1982 foi incubado
pela faculdade que dá origem ao seu nome (Stanford University Network) e
se tornou referência em servidores e linguagem de programação.

Também existem startups que começam literalmente na garagem de casa,
onde apenas os fundadores visionários trabalham depois do serviço formal
para dar vida a uma idéia – o que torna tudo mais complicado.

Tal
história nos Estados Unidos é praticamente um conto clássico americano,
onde dois jovens trabalham em finais de semana e no turno da noite querendo
montar uma empresa que seja boa e lucrativa.

Talvez o mais clássico de
todos seja a história dos estudantes de engenheria elétrica Bill Hewlett e Dave
Packard, formados em Stanford, que começaram a trabalhar no
desenvolvimento de novos equipamentos elétricos em 1939 em uma garagem
com apenas US$ 500,00 em caixa. Mais de 80 anos depois, todos devem
ainda reconhecer a sigla HP em vários setores da economia, empregando
hoje mais de 310 mil funcionários.

Bill Gates e Paul Allen

Diversas universidades americanas dispõem de programas de incentivo e
abrigo para essas empresas iniciantes, sendo com certeza a mais famosa a
Universidade de Stanford – principalmente na área de internet, onde a
universidade cedeu ao Yahoo! seu primeiro acesso a internet, o primeiro
servidor do Google, o primeiro laboratório da Sun, o primeiro cabo de
rede da Cisco.

A relação estreita entre essa universidade e investidores
sempre foi uma das grandes vantagens para os fundadores, proporcionando
aportes em empresas logo no nascedouro de empresas que podem se tornar
companhias multibilionárias.

Talvez sem o auxílio e o apoio logístico e
assessoria da universidade, apresentando investidores a estudantes
interessados nesses projetos, tais empresas nunca fossem realmente
fundadas.

Infelizmente no Brasil já é bem mais difícil listar empresas que
foram incubadas e orientadas dentro da faculdade, onde essa cultura é
menos difundida e, comumente existe uma divisão (talvez até rixa) entre o
meio acadêmico e o profissional.

Programas de incentivos como empresa
junior
ou até mesmo um espaço físico com recursos básicos para montar uma
micro empresa dentro da universidade são raros.

Mesmo com todas as
dificuldades, com a falta de um ambiente propício e sem incentivos,
ainda existem exemplos no Brasil de empresas de internet que venceram os
desafios e conseguiram ir atrás da viabilidade e sucesso por conta
própria, como foi o caso do Buscapé, Power.com, Boo-Box, BrandsClub,
MercadoLivre e muitos desses nem muito conhecidos no Brasil.

Todos
essas startups que viraram empresas de fato começaram com recursos
próprios, de forma precária até conseguirem visibilidade e aporte de
capital estrangeiro nos seus investimentos.

Capital de Risco (Venture Capital)

Bill Gates e Steve Jobs em 1991

No início da vida de uma startup, existe um personagem que desempenha
um papel preponderante para a sobrevida inicial da empresa: a Venture
Capital, ou fundo de capital de risco. Geralmente são fundos de
investimentos específicos que visam investir em empresas no seu estágio
inicial, quando ainda não tem viabilidade econômica nem mesmo previsão
da sua fonte de faturamento.

Também existem os famosos investidores anjos, que são agentes que
analisam propostas de negócio e dão o primeiro aporte de dinheiro para a
startup – mesmo quando essa ainda nem tem um plano de negócio ou mesmo
algo operacional.

Diz a lenda que um investidor anjo – um dos
co-fundadores da Sun – investiu 100 mil dolares no Google antes mesmo de
existir o buscador, somente na ideia apresentada pelos criadores Sergey
Brin e Larry Page.

Calcula-se que para cada dólar investido no Google em
seus dias de concepção, já renderam até o momento 20 mil dólares. Todo o dinheiro
investido nesse pequeno aporte foi usado para compra de máquinas e
financiamento dos criadores, além da contratação dos primeiros empregados da
startup durante 6 meses.

Primeiro equipe da Microsoft

Os fundos de VC (Venture Capital) geralmente são compostos por cotas de
empresários bilionários de tecnologia, que decidem em quais empresas
deverão ir determinado recurso. Para cada aporte feito por uma VC, é
feito um estudo de viabilidade e retorno do investimento, bem como
orientações e metas para as startups.

Caso o plano seja aceito e o
acordo fechado, será feito um acompanhamento para verificar se os
investimentos estão sendo usados conforme o programado.

Conforme as
metas atingidas, e estabelecido confiança entre os gestores do fundo e
os fundadores das startups, vão sendo disponibilizados mais
investimentos para que possa acelerar o crescimento da empresa. Isso
aconteceu com o Facebook, onde após um primeiro aporte de investimento
de US$ 500 mil em 2004, foram outros mais culminando no último aporte
de 200 milhões de dolares em 2009.

Nos Estados Unidos existe inclusive fundos abertos ao público que tem
como política somente investir em startup, permitindo pulverizar o
investimento em pequenas empresas e abrir oportunidade para o cidadão
mediano investir (e lucrar) nesse setor.

Como o capital nessa área hoje é abundante nos Estados Unidos, é corriqueiro o investimento em startups mesmo sem
existir um plano de negócio ou protótipo construido. Dependendo do
projeto, apenas bastava apresentar a idéia e conseguir confiança dos
analistas dos fundos.

Uma aposta certeira em uma startup é um rendimento tão bom, que
facilmente ultrapassa a casa dos 10.000%. Isso se deve ao fato de que o
investimento é feito na fase embrionária da empresa, onde as vezes essa
ainda não foi formalmente criada.

Infelizmente a taxa desse tipo de
acerto é baixa. Fundos com um bom índice de acerto conseguem que 5% das
empresas investidas tenham sucesso. Ou seja, esse é o tipo de
investimento é muito arriscado, mas quando ocorre um sucesso, vem de
forma a compensar todos os outros investimentos perdidos.

Ciclo de vida da Startup

Pode-se identificar fases na vida de uma startup de sucesso da seguinte forma:

  1. A concepção da ideia;
  2. Construção protótipo do produto;
  3. Lançamento;
  4. Aporte de capital;
  5. Crescimento e adequação ao mercado;
  6. Venda ou IPO.

Sendo que as fases 4 e 5 podem ocorrer repetidas vezes nesse ciclo.

Brin e Page na sua lendária garagem

Quando ouvimos que basta ter uma boa ideia para que uma startup possa
ter sucesso, vemos que na realidade a coisa é bem diferente.
Acredita-se que uma boa idéia, mas muito boa mesmo, vale uns… 10
dólares. Ou seja, ter uma boa ideia para startup é essencial, mas
trabalhar duro e contar com assessoria e apoio técnico é muito mais
importante.

Outra coisa que deve ser destacada durante a construção da
startup é a natural adequação da idéia à realidade, onde acontece o
amadurecimento do plano de negócio e o posicionamento da empresa no
mercado.

Depois de encontrar uma idéia que se alinhe com o perfil dos
empreendedores e construir um protótipo para o lançamento do produto, é
necessário saber como o negócio irá se sustentar, tendo em vista que um
aporte de capital não é garantido.

Geralmente é nessa hora em que é
necessário elaborar novos modelos de negócio para não afetar seu
crescimento e garantir o lucro da empresa. Por exemplo, no Google foi
muito discutido qual seria o modelo adotado para conseguir fonte de
renda, de uma forma justa para o usuário e lucrativa para o cliente.

Depois que o modelo de negócio é concebido de forma que não atrapalhe o
crescimento da empresa, os lucros são realmente espantosos, sendo que a
escala e o alcance da ferramenta é global.

Com o dinheiro entrando em caixa, as dívidas sendo pagas e a carteira
de clientes crescendo, geralmente as startups ou são compradas ou é
feito um IPO (Initial Public Offering – Oferta Pública Inicial de
Ações).

Um exemplo recente no Brasil de uma startup que foi comprada é o
Buscapé, que foi adquirida pelo conglomerado Naspers por 342 milhões de
dólares em 2009. Já o Google preferiu fazer uma IPO em 2004, onde suas
ações começaram valendo US$ 70,00 e hoje estão valendo US$ 477,50, tendo
chegado a valer mais de US$ 600,00 (+850%).

Claro que nem tudo são flores. As empresas de startups tem uma das
maiores taxas de mortalidade, se comparado com outros setores. Mesmo
tendo uma boa idéia, um bom modelo de negócio e mercado disponível, as
vezes falta estratégia para focar no ponto mais relevante da empresa e
conseguir tração em um curto espaço de tempo.

Apesar da paixão e entusiasmo dos fundadores, que as vezes trabalham
mais de 12 horas por dia, sem fim de semana e férias, é necessário uma
visão realista com metas e objetivos listados com prazos estimados para
conseguir chegar em algum lugar.

Salvo raras exceções, as startups
precisam de uma consultoria (geralmente oferecida por incubadoras ou
fundos de investimento) que ajude a guiar os empreendedores para centrar
esforços nas melhores oportunidades de negócio, atentando para o tempo
que será gasto na empreitada.

Incubadoras Públicas

Você sabia que o criador do acessório revolucionário Kinect do Xbox 360
da Microsoft é um brasileiro de Curitiba? Que o responsável pelo design
do Twitter é um brasileiro? Que um dos fundadores do Facebook é também
brasileiro? Que o Google tem uma fábrica de software em Belo Horizonte,
que cuida exclusivamente do desenvolvimento do Orkut? E também que o Google
comprou uma empresa de tecnologia de busca do Brasil? Ou seja, é fácil
perceber que o Brasil tem potencial e gente capacitada para revolucionar
a tecnologia, só falta a oportunidade. E os norte americanos já
perceberam isso.

Agora, o que aconteceria com Bill Gates e Steve Jobs se eles
precisassem trabalhar para pagar a faculdade? Ou com os criadores do
Google e Yahoo! se a universidade não desse abrigo e suporte para os seus
primeiros servidores, muito menos orientação profissional? Talvez o
mundo de tecnologia seria bem diferente hoje. Como no Brasil essas
iniciativas são muito tímidas ou pouco efetivas, provavelmente seja
necessário um programa no Governo para conseguir dar impulso nesse
setor.

Se analisarmos os gastos iniciais hoje de uma startup enxuta,
verificamos que são mínimos: espaço físico,
computadores, servidores e acesso à internet. Também é preciso
considerar que os fundadores da startup no Brasil vão precisar de uma
bolsa auxílio durante seu período inicial, e talvez uma orientação
profissional e curso de Inglês.

Os projetos poderão ser pinçados nas
faculdades de tecnologia e passar por um processo de triagem através de
uma consultoria especializada, com criação de cronograma, metas e
prazos. Como os estudantes seriam os donos das próprias ideias e
negócio, eles teriam disposição e motivação para se dedicar muito mais
do que as 8 horas convencionais, bem como finais de semana e feriados. E
o tempo de constatação de viabilidade de uma startup é relativamente
curto – de 1 a 2 anos.

Dessa forma, pode-se ajudar o jovem universitário que está procurando
criar novos negócios, retirando-o do mercado de trabalho formal, e
ajudá-lo a apostar na sua idéia inovadora, provendo um ambiente propício
para criação de novos mercados e novos negócios.

Pode-se considerar
também que isso irá incentivar o aumento das empresas nacionais
desenvolvedoras de software e soluções de tecnologia, fortalecendo o
mercado interno e criando mais oportunidades de emprego direto.

Outro apoio importante que pode ser desenvolvido pelo Estado é a
criação de mini cursos e palestras de empreendedorismo específicos para
startups, possibilitando aos jovens conhecer o mercado e suas
tendências, e quais os meios que o Governo disponibiliza de ajuda para
esses empreendedores.

Paralelo a isso, pode-se também criar feiras e
encontros de fundadores de empresas de tecnologia, com palestras,
concursos e premiações de projetos. Esse tipo de apoio é importante
principalmente para ajudar os gestores das Venture Capital’s no Brasil a
encontrarem novas oportunidades de investimentos, ajudando os jovens
empreendedores a dar sobrevida aos seus projetos.

Entretanto, apesar de existir alguns movimentos de incubadoras em
universidades de startups de tecnologia no Brasil, verifica-se que em
muitas dessas ainda falta a visão comercial dos projetos, o que dificulta o
amadurecimendo da startup e sua sustentabilidade.

Outro ponto deficiente
é que, geralmente, esse tipo de iniciativa existe apenas em faculdades
públicas, onde geralmente não é encontrado o estudante com menor poder
aquisitivo.

Em outras faculdades, principalmente particulares, existe
um programa de incubadora fictício, servindo apenas como atrativo para
influenciar a escolha da faculdade em que o estudante irá fazer o curso,
mas na realidade não tem a função específica de ajudar a desenvolver
uma empresa de verdade.

Infelizmente no Brasil não existem casos de
sucesso conhecidos de startups de tecnologia nascidas e instaladas em
faculdades, que depois realmente viraram grandes empresas.

Sendo assim, o apoio estatal para a criação de novas empresas nesse
setor é extremamente importante para repetir o mesmo sucesso que ocorre
nos Estados Unidos.

Dessa forma, pode-se conseguir movimentar o mercado
de tecnologia no Brasil e proporcionar um arranque no setor, podendo
depois evoluir por conta própria com fundo de capital de risco aberto ao
público, ou algo do gênero.

Conclusão

Existe um mercado bilionário de tecnologia praticamente inexplorado no
Brasil. Temos pessoas criativas, inteligentes e empreendedoras cheias de
potencial. Entretanto, o país não oferece hoje um ambiente muito
propício para virar um berçário de startups de sucesso.

Assim como uma
criança, uma startup precisa ser cuidada e orientada com especial
atenção nos seus primeiros meses de vida, senão pode falhar
desastrosamente. Com a ajuda do Governo para dar um apoio inicial,
oferecendo um investimento mínimo, podemos sair da inércia e ganhar
velocidade, podendo nascer no Brasil talvez um novo Vale do Silício.

Referências