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16 abr, 2015

De DDD, a linguagem onipresente, ou sua negação, à novilíngua

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Em domain-driven design o conceito de linguagem onipresente constitui um dos pilares para a construção de conhecimento sobre o domínio, aliás, todo conhecimento existente se construiu em torno de linguagens onipresentes. Concorda? Não?!

Imagine-se pensando em algo que você não sabe nomear. Imagine-se comunicando algo que você não conhece o nome. Imagine-se como interlocutor de alguém que descreve a maior maravilha do mundo! Você consegue ver nos olhos da pessoa o quão maravilhoso é o que ela tenta explicar, mas faltam palavras para fazê-lo, então a descrição se faz por associações mais pobres que a realidade desejada.

Linguagem onipresente é o mínimo objetivo de um grupo de pessoas. Desenvolvedores que não falam a mesma língua terão problemas para comunicar não só o que irão fazer, mas o que já está feito.

E agora vem o problema que desejo abordar neste artigo.

Hábito de leitura, você tem?
Hábito de debater, você tem?
Hábito de refletir sobre um tema, você tem?

Os melhores programadores que conheci tinham ao menos um desses hábitos. E teve os outros programadores que conheci.

Quanto mais você lê, maior é o seu dicionário e mais rica é sua capacidade de apresentação do seu próprio pensamento; e se existe algo primordial para um desenvolvedor, é comunicar com clareza o que pensa.

É por isso que existem as linguagens onipresentes capturadas nos design patterns, refactoring patterns e jargões de profissão.

Essas linguagens facilitam a compreensão, na medida em que domam o fantasma das diferenças de comunicação.

Mesmo assim, meu caro, lembrando Sheena, a rainha da selva “Palavras são como o vento, não podem ser capturadas”, mas os conceitos representados pela palavra podem, sim, ser capturados e inclusive servirem de peça de lego para a criação de novos conceitos. É do conceito que surge a palavra ,e não ao contrário. Vide os kanji’S.

kihayashimori
kanji para árvore, bosque e floresta.

 

O hábito de discutir é outro mal interpretado.
Para a maioria das pessoas que pergunto “você gosta de discutir?”, somente fazer a pergunta já ofende. Discutir não ofende, pelo contrário, amplia conhecimento.

Discutir, ou melhor, debater, é salutar para o desenvolvimento de ideias. Se você não debate sobre algo, não tem como saber se está indo no caminho certo ou errado. Mas para debater sem parecer louco você precisa conhecer a terminologia do assunto, a linguagem onipresente ou, talvez, você precise colaborar na construção da linguagem onipresente.

E refletir sobre algo?
Parece maluquice, eu sei, mas será que refletir sobre algo é realmente algo tão trivial?

A maioria das pessoas confunde pensar em algo com pensar sobre algo.

Na minha humilde opinião de merda (mhodm, tô tentando fazer esse acrônimo pegar faz tempo), a maioria das pessoas confunde pensar em algo com pensar sobre algo. Pensar em algo é pensar na imagem de algo, por exemplo, uma estrela, um ato de contemplação mental, visualização. Já pensar sobre algo é racionalizar o que você vê, buscar compreender o que é a estrela através das características que você visualizou. Sim, visualizar é o primeiro passo.

Visualizar é pensar na estrela. Debater consigo mesmo sobre a estrela é pensar sobre a estrela, e debater exige representação, linguagem.

Homens poderosos, no bom sentido da palavra, não nesse sentido ocidental fracassado, mas no oriental, em que poder está antes de tudo na compreensão de si, são capazes de representar seus pensamentos de maneira ainda mais rica que palavras, utilizando imagens, como Einstein.

Mas acho que poucos de nós estão preparados para isso. Einstein ficou trancado dentro de si por quatro anos, período que demorou para começar a falar. Não me parece fácil se comunicar por imagens, ou através de música, mesmo que essa apresentação abaixo prove a existência da música na natureza humana

Quanto ao domínio das palavras e suas representações, não só como fenômeno social restrito a desenvolvedores de software, mas como algo mundial: “Ninguém percebe, ignora, que aos poucos deixam de existir as cores preto e branco para existir o preto e o não-preto, ou melhor, o existir e não-existir. Estamos perdendo os meio-tons”.

Estamos perdendo os meio-tons. 1984 está se tornando realidade. O dicionário da novilíngua é realidade.

E se você acha que este artigo não tem nada a ver com um problema sério de desenvolvimento de software, talvez isso seja a prova, ou a não-prova.