Arquitetura de Informação

1 jun, 2012

Usabilidade em Interfaces para crianças: características da cognição de 5 a 7 anos

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A gente sabe que falar em crianças é falar de um universo muito rico em possibilidades, retenção de informação e aprendizado. E também é um universo cheio de comportamentos cognitivos específicos para algumas faixas etárias.

Piaget define o processo de cognição infantil – estudo dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento – dividido em faixas que são identificadas segundo grupos etários:

  • 0 a 2 anos: Sensório-motor
  • 2 a 7 anos: Pré-operatório
  • 7 a 11 anos: Operações concretas 
  • 12 anos em diante: Operações formais

Jakob Nielsen, ao divulgar seu último estudo sobre comportamento infantil em navegação na internet, percebeu que atualmente muitas crianças em fase pré-operatória estão acessando e navegando a internet e, com isso, muitas informações na construção de ambientes virtuais para elas devem ser revistas e adaptadas à faixa a que pertencem.

Embora a faixa etária compreenda graus distintos de formação da cognição infantil, foi possível perceber características de navegação tanto de rejeição quanto de aceitação comum a essas idades. Um bom exemplo é a recusa da repetição de métodos de navegação, ou seja: o método utilizado em uma determinada navegação que tenha gerado sucesso pode ser recusado em outra.

O estudo apontou também a importância de refinar a segmentação do publico alvo: a divisão de crianças que se limita de 03 a 12 anos precisa ser repensada e deve se considerar os grupos apontados por Piaget no que diz respeito a fases de cognição. É fundamental para o sucesso do projeto web que se desenvolva tecnologias distintas para grupos de 3 a 5 anos, 6 a 8 anos e 9 a 12 anos.

Se a criança for convidada a navegar em um site que não pertença a sua faixa etária (falando em termoscognitivos), ela simplesmente o rejeitará.

Outro ponto importante a salientar é que crianças não percebem a natureza comercial dos sites e não identificam a intenção publicitária. Por outro lado, podem fixar determinadas marcas em suas mentes através de informações que sejam visualmente interessantes e relacionadas com diversão.

Como criar interfaces para crianças?

Por conta das possibilidades e das restrições, o estudo de interação entre crianças e computadores tem recebido atenção nos últimos anos, justamente pela quantidade de crianças que já utilizam computadores e internet (antes mesmo de ter completado sua alfabetização), além da crescente consolidação dos games no cenário infantil como brincadeira predileta.

Nesse momento é que se percebeu a quantidade de internautas que tem entre 5 e 7 anos e, dessa forma, foi identificado como um público crescente e com potencial de fidelização para alguns segmentos de sites (jogos, brincadeiras, aprendizado) pode ser utilizado para envolver a criança com uma marca de produto ou serviço.

Com a intenção de identificar o comportamento da criança diante de um computador, Alexandre Mano e José C. Campos (Universidade do Minho, Portugal) fizeram um estudo para entender crianças entre 5 e 7 anos quando interagem com computadores. A intenção do estudo foi perceber os motivos que levam as crianças a utilizar ou não a interface que lhes é oferecida.

Eu achei bem interessante o estudo e vou deixar aqui alguns pontos bem interessantes e pertinentes para se utilizar na construção de interfaces. Já na primeira parte do estudo foram apresentadas as características cognitivas de crianças entre 5 e 7 anos, baseado no trabalho de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo.

Primeiro vamos conhecer a descrição das principais características desta faixa etária (Bee, 1984 e Richmond, 1970):

  • Egocentrismo

As crianças tendem a centrar o seu raciocínio no seu próprio ponto de vista, e por vezes não consideram a possibilidade de existência de outros pontos de vista. Elas pensas que tudo tem ação direta com suas vontades e ocorre por causa de alguma coisa que tenha feito. Por exemplo: quando eu durmo tudo dorme também, quando eu acordo tudo acorda também.

  • Raciocínio transdutivo

A criança liga fatos que não possuem relação entre si. Exemplo: Quebrei um vaso da mamãe, coelhinho da Páscoa está triste e não vai me trazer ovos, a chuva é ele chorando de tristeza. O raciocínio transdutivo está ligado ao egocentrismo, em que a criança sente que os fatos estão ligados, ou são influenciados, por sua vontade.

  • Reversibilidade

As crianças normalmente apenas consideram o momento atual, presente. Não são capazes de entender que certos fenômenos são reversíveis, isto é, quando mudamos algo, podemos também desfazer a mudança.

  • Centração

A centração é a incapacidade de considerar os múltiplos aspectos ou características de uma situação, como por exemplo altura e largura de um objeto.

  • Intuição

As crianças julgam muitas vezes as situações através da criatividade e da  imaginação. Se estes dados não são ajustados pelo seu raciocínio, podem não ser capazes de avaliar as situações corretamente.

  • Sincretismo

É a característica em que a criança não forma classes entre os diferentes atributos dos objetos. Ela apenas os agrupa de forma desorganizada, formando amontoados. Assim, uma criança que se encontra nesse período, quando solicitada a formar grupos com diferentes objetos (plantas, animais, objetos de cozinha etc.), poderá colocar juntos objetos que não possuem relação entre si, como por exemplo animais e objetos de cozinha.

  • Dificuldades de classificação

As crianças normalmente experimentam dificuldades para estabelecer e relacionar classes de objetos ou situações.

  • Dificuldades de seriação

As crianças frequentemente têm dificuldades para ordenar ou criar séries.

Com essas informações, podemos enxergar claramente que muito estudo e cuidado é necessário para projetar interfaces para crianças. No próximo artigo, vamos falar sobre o resultado aplicado da pesquisa.