Quando o CEO vê na sua agenda uma reunião para falar de APIs ele pensa: “Hmm, isso parece muito técnico. Esse não deveria ser assunto para o CIO ou o CTO?”. A resposta é “não”. Embora seja um termo técnico, a exposição de APIs vem abrindo possibilidades para modelos de negócio superinovadores.
Imagine uma API como uma cola digital que conecta dois pedaços de software. Embora popularizadas por empresas digitais como Facebook, Google, Amazon, Twitter e Netflix, elas vêm ganhando espaço também na economia tradicional.
Aqui, listo diversos exemplos de como as empresas podem entrar ativamente na “API Economy”.
- Receita direta
Receita direta é o modelo de negócios mais aparente quando pensamos em API gerando receita. Nesse modelo, o cliente é cobrado pelo acesso à API. O serviço de nuvem da Amazon (Amazon Web Services) é o exemplo clássico – e de muito sucesso – da estratégia que cobra pelo uso (ou “pay-as-you-go”).
As variações mais comuns desse modelo são: (i) Freemium, no qual o cliente não paga nada até um certo limite, a partir do qual as transações passam a ser cobradas; (ii) Tiered, em que a cobrança não é por transação individual, mas sim por volume de transações, agrupadas em intervalos.
Exemplos muito interessantes desse modelo, além da Amazon, são a PayPal (pagamentos), Sendgrid (envio de e-mails) e o Twilio (serviços de telecomunicações).
- Canal de distribuição: programa de afiliados e marketplaces
APIs são usadas como um canal de distribuição para que empresas possam aumentar sua capilaridade e, consequentemente, suas vendas. Programa de afiliados é um excelente exemplo de geração de negócios com API. Dois exemplos indiscutíveis:
- A Amazon Associates permite que você coloque em seu website ou aplicativo dados de produtos relevantes para o seu público, direcionando-os para o site da Amazon. Se eles venderem, você leva uma comissão que pode chegar a 10%.
- Expedia Affiliate Network (EAN): anunciou uma receita de US$ 2 bilhões através de transações (reservas de hotéis e pacotes) feitas pelos parceiros afiliados – portais e agências de viagem do mundo todo. E essas transações, vocês devem imaginar, vieram das APIs.
Além de programas de afiliados, existem os Marketplaces, como Nova Pontocom e Mercado Livre. Explicando: a Nova Pontocom, empresa do grupo Pão de Açúcar que opera as marcas Extra, Ponto Frio e Casas Bahia, desenvolveu uma plataforma de Marketplace na qual lojistas especializados podem vender seus produtos através do e-commerce do Extra.com.br. Com esse objetivo, de descomplicar as integrações com os lojistas, a empresa desenvolveu uma estratégia de APIs abertas, disponível em http://desenvolvedores.extra.com.br. Muito mais produtos no portal, muito mais vendas.
- Marketing/Branding
A API livre é publicidade gratuita. Facebook, Twitter e LinkedIn permitem o acesso gratuito a suas APIs e, como seu modelo de negócio baseia-se em atrair a maior quantidade possível de pessoas e conteúdo para, na sequência, vender publicidade para empresas, as APIs passam a ser fundamentais na estratégia dessas empresas.
A receita aqui é simples: aplicativos externos como Instagram, Foursquare, Candy Crush Saga e Spotify trazem mais usuários e conteúdo para as redes sociais, e o aumento de tráfego traz também mais receita com publicidade.
- Diferenciação e “Lock-in”
Os sistemas internos das empresas não costumam mudar com muita velocidade. Então, se você é provedor de uma solução de software que roda na nuvem (SaaS) e seu cliente integra os processos e outros sistemas internos dele ao seu software, é bem menos provável que ele troque seu serviço pelo do seu concorrente.
Esse é o “efeito Stickiness”, ou “efeito Chiclete”, numa tradução descompromissada. Você pode fazer mais receita cobrando pelo acesso à API do seu cliente ou simplesmente assegurar a receita futura criando barreiras para a concorrência.
Mas se, além de facilitar essa integração com seus clientes, você começar a incentivar parceiros – outras empresas de software complementares ao seu serviço –, a desenvolver integrações que façam as soluções funcionarem em conjunto, você estará desenvolvendo o posicionamento como plataforma. Empresas como a Salesforce.com (líder em CRM na nuvem) fazem isso com maestria. Existe hoje um ecossistema de aplicações que consome ou envia dados para o Salesforce.com. Assim, a empresa conseguiu forte diferenciação dos seus principais concorrentes. E, claro, os diferenciais podem se refletir em seu preço.
Desnecessário dizer, claro, que a forma mais rápida e eficiente de integração tanto com clientes quanto com parceiros é através de APIs.
- Redução de custo
Bem, reduzir custo não é uma forma de aumentar receitas, mas certamente pode ser encarada como uma maneira de melhorar a rentabilidade de qualquer empresa. Então, podemos mencionar aqui alguns cenários de uso de APIs que não têm o propósito de ampliar os canais ou gerar receita direta, mas que têm seduzido muitas empresas.
Seu filho pode assistir a “Galinha Pintadinha” usando o Netflix no iPad, na Samsung SmartTV, na Apple TV ou no Playstation, pois todos esses dispositivos acessam um mesmo conjunto de APIs.
Atualmente, a maior parte dos aplicativos móveis foca na interface visual, sendo que os dados e as transações de negócio continuam sendo realizados pelos sistemas internos. Então, não faz sentido as empresas investirem no desenvolvimento de aplicativos móveis sem se preocuparem com a forma como os dados e os serviços são expostos.
Algumas empresas encaixam essa abordagem dentro de uma estratégia de Omnichannel. No varejo, por exemplo, a empresa pode ter o website, o aplicativo móvel para consumidores, os comparadores de preços e os parceiros na cadeia de valor, todos acessando um mesmo conjunto de APIs. Nesse cenário, imperam consistência, produtividade e simplicidade.
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Artigo publicado originalmente na Revista iMasters: http://issuu.com/imasters/docs/revista_imasters__12