Acessibilidade

13 nov, 2013

Saia desse mundinho de early adopters da capital

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Muitas vezes saímos por aí falando que isso ou aquilo está morrendo, que isso não se usa mais, que aquilo não se faz mais. Mas esquecemos de olhar  para FORA do nosso mundo, pra fora do mundinho de early adopters de tecnologia que moram em uma grande capital. Esse mundinho tem internet de, no mínimo, 5 MB, tem celulares de última geração ao alcance das mãos, tablets dos mais variados, e-readers para consumir e-books dos mais vários tipos porque tudo é muito corrido e fica difícil, às vezes, carregar um ou mais livros no busão/carro/bicicleta para ir ao trabalho. Mas você já pensou no interior do País? Nas cidades afastadas e com menos de 50 mil habitantes, onde se tem apenas uma operadora de celular monopolizando o mercado e fibra ótica é coisa de filme de ficção? Onde male male se tem um cinema (na maioria das vezes não tem) e a conexão de Internet mal dá pra assistir a um vídeo no Youtube?

Gosto muito quando as pessoas falam que determinada coisa acabou. Quer um exemplo? Há muitos anos não se ouve falar sobre disquetes (Floppy Disks) e, dessa forma, supõe-se que essa tecnologia está morta há muitos anos. Errado. A Sony, maior fabricante mundial de floppy disks encerrou sua comercialização de disquetes apenas em março de 2011 (sim, apenas cerca de 3 anos atrás!). Mas não se engane, ela ainda mantém esse mercado em alguns nichos como, por exemplo, a Índia. Ok, os haters vão dizer “mas Alê, é por causa de sistemas legados e tudo mais” e eu concordo com eles, mas temos que ter muito cuidado em falar que x coisa esta morrendo ou que já morreu, como no caso do disquete.

Recentemente saiu uma matéria na TV falando de uma escritora que criou um projeto em Mariana, cidade histórica de MG, para distribuir livros para as pessoas. Isso é um sinal de que e-books são apenas um plus na vida das grandes cidades, mas estão longe de tomar o lugar das clássicas publicações de papel. Se essa escritora não tivesse como arma os livros de papel, ela não conseguiria, nunca, fazer o trabalho que ela faz hoje.

Um outro exemplo sobre livros é o do homem que criou uma biblioteca sobre rodas em SP. Com doações de livros ele montou uma biblioteca itinerante que distribui livros a quem quiser. Como isso seria feito com e-books, DRMs e afins?

Ok, estamos falando muito sobre livros, disquetes e blablabla. Vamos para coisas mais concretas, do mundo tecnológico atual. Quando você desenha um website para o seu cliente e vende falando que ele é totalmente acessível, está pensando no cara que acessa por um celular low end com navegador escrito – toscamente – em Java? “Tá doido, Alê! Isso não existe mais!” – errado! Segundo Rapha Vasconcellos, Creative Sollutions LatAm para o Facebook, 30% do tráfego da gigante das redes sociais vem deste tipo de devices. Ou seja, SIM eles existem! E aí, você esta preparado?

Lembra quando eu disse, no início do texto, que algumas cidades mal tem cinemas e que em algumas outras a conexão mal dá pra ver vídeos no Youtube? Pois é, algumas cidades no Brasil e no mundo (sim, no mundo – e o mundo não é só Brasil x EUA x Europa) têm conexões tão baixas que são praticamente idênticas a velocidades da era da conexão discada. Por falar nisso, a Internet discada ainda existe em grande parte do Brasil e, mesmo alguns canais falando que ela está em extinção, ainda está um pouco longe de acabar. Pensando nisso podemos ver que Netflix está longe de substituir os horários de filmes das TVs abertas e das locadoras (sim, locadoras) nas cidades pequenas. Eu sei que é um pouco bizarro falar isso na mesma semana que a Blockbuster anuncia o fechamento das suas lojas, mas é a pura verdade e acontece em algumas cidades do interior do País, principalmente onde a conexão com Internet é muito lenta ou inexistente, o que faz com que as pessoas usem as locadoras para ter acesso a filmes.

Muito cuidado na próxima vez que “matar” alguma coisa. Primeiro, olhe fora do seu mundo, pesquise, analise, compare, depois tire suas conclusões.

Só quero deixar claro que sou totalmente a favor de todas essas novas tecnologias e que  uso todas, todos os dias. Mas entendo também que um mundo totalmente paralelo a este existe, está vivo e funciona, com tecnologias “mortas” ou obsoletas para nós, early adopters da capital, mas muito vivas para quem precisa delas.

E uma dica final para você que “vende” sites acessíveis: ele carrega em uma conexão de 56 Kbps, ou o usuário tem que entrar no site e ir fazer um café no coador até ele carregar todo?

Let’s Hack The Planet!