Talvez uma pergunta melhor seja: por que a Microsoft ainda coloca esforço em desenvolver um novo Internet Explorer?
Primeiramente, eu devo admitir que fiz um julgamento errado. Quando o Project Spartan foi anunciado, eu o chamei de um novo IE6. À medida que os detalhes foram emergindo, percebi que essa foi uma afirmação errada.
Desde seu anúncio, o Project Spartan foi renomeado para Microsoft Edge. E ele está parecendo bem bacana, de um ponto de vista técnico.
Mas eu não consigo parar de pensar: por que a Microsoft ainda investe recursos em um novo browser?
O declínio do Internet Explorer
Eu tenho um bom número de sites do Google Analytics aos quais tenho acesso. Se eu comprar a pilha de tecnologias dos visitantes, especialmente dos User-Agent, veremos que o Internet Explorer continua em declínio.
Para demonstrar, veja as estatísticas de User-Agent (navegador) do meu blog. Público-alvo: altamente especializado/técnico.
2013-2014
2014-2015
Internet Explorer: de 10.55% para 4.96%.
Um grande site de carros. Público-alvo: gente normal
2013-2014
2014-2015
Internet Explorer: de 37.73% para 29.76%.
Um grande site de entretenimento. Público-alvo: gente normal
2013-2014
2014-2015
Internet Explorer: de 19.98% para 13.30%.
O site da nossa empresa. Público-alvo: misto de técnico e pessoas normais.
2013-2014
2014-2015
Internet Explorer: de 22.37% para 18.30%.
Acho que tenho um bom mix de sites de conteúdo em meus exemplos. É suficiente dizer que o Internet Explorer está em declínio em todos os segmentos. Chrome é o campeão, e Firefox é o segundo colocado.
Todos os geeks provavelmente poderiam ter previsto isso, sem nenhum número.
Apostando em um browser
O que a Microsoft tem a ganhar ao construir um navegador próprio novamente? A reputação da empresa entre os web developers com o Internet Explorer não é boa. Há uma razão pela qual os sites são desenvolvidos para Chrome ou Firefox (ferramentas de debug, compatibilidade…) e não para o IE.
Mesmo hoje, estamos aqui xingando o Internet Explorer pela lenta adoção dos web standards, a quantidade de versões novas e velhas em uso, suas esquisitices e todo o trabalho necessário para fazer com que o desenvolvimento moderno funcione.
Por que a Microsoft arrisca tudo isso novamente com um novo browser?
Ou, talvez uma questão ainda maior: já que a Microsoft utiliza a tecnologia existente para construir ferramentas como o novo Visual Studio Code (usando o Atom, do GitHub, como base), por que eles criariam um motor de renderização para a web totalmente novo?
Por que não utilizar os motores existentes, comprovadamente eficientes, como Webkit, Blink ou Gecko? Por que arriscar ainda mais a imagem da empresa, quando há alternativas viáveis?
Fazendo dinheiro com o navegador
Há apenas uma forma de ganhar dinheiro ao construir um web browser: publicidade.
No caso da Microsoft, isso acontecerá com o Bing sendo o motor de busca padrão e mostrando anúncios nos resultados de busca.
E digo mais: sem o Internet Explorer/Edge, não haveria Bing. O market share de buscas é dominado pelo Google. Se a Microsoft não tiver um browser para oferecer o seu motor de busca como padrão, ele não teria nenhum valor.
O Bing precisa do Internet Explorer. Internet Explorer/Edge precisa do Bing – e é a razão da sua existência.
As alternativas
Quando consideramos as alternativas para valer, para a Microsoft, provavelmente há bem menos possibilidades do que pensamos.
Google Chrome? Eles têm Google Search para competir com o Bing.
Apple Safari? Mac OS X e iOS estão aí para competir com Windows e Windows Phone.
Mozilla Firefox? Recentemente eles escolheram o Yahoo! como search engine padrão, em vez de Google ou Bing.
Levando tudo isso em consideração, provavelmente eles não tinham muitas escolhas. Adotar um dos navegadores atuais como padrão significaria dar o market share a um concorrente.
Mas isso nos faz pensar quanto realmente vale a pena ter um navegador web. Se fizer um bom trabalho, ninguém vai notar. Se for um outro IE6, todos vão reclamar.
O que há de bom, então? Qual o ganho? Deixe sua opinião.
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Mattias Geniar faz parte do time de colunistas internacionais do iMasters. A tradução do artigo é feita pela redação iMasters, com autorização do autor, e você pode acompanhar o artigo em inglês no link: https://ma.ttias.be/whats-the-value-of-owning-a-browser/