Há anos os data centers buscam estratégias para reduzir seu uso de energia. A forte adesão dos mais variados tipos de clientes – corporações privadas, operadoras de telecomunicações e provedores de colocation e cloud computing – à bandeira de sustentabilidade, contudo, está acelerando a transformação dos data centers. Mais e mais players desse setor estão olhando além da eficiência energética, buscando agora um enfoque mais holístico. A meta é se tornar “mais verde”.
Estudo do escritório de advocacia internacional Norton Rose Fulbright realizado em 2021 mostra que os data centers estão sendo levados pelos clientes a reduzir a pegada de carbono, o consumo de energia, de água e de matérias primas e a quantidade de resíduo – incluindo lixo eletrônico – que produzem. A gestão de resíduos está avançando no mercado. Os clientes consideram os índices de materiais residuais e calor residual na hora de avaliar a sustentabilidade e a eficiência de cada fábrica de dados. A capacidade de documentar um zero impacto líquido da cadeia de resíduos é um claro diferencial de negócios.
Redução de consumo de energia é, também, uma frente de batalha estratégica. Um relatório da Vertiv sobre a importância do gerenciamento de energia para o sucesso do 5G observa que, embora as redes 5G sejam 90% mais eficientes do que suas antecessoras 4G, mesmo assim elas demandam substancialmente mais energia. Isso se deve a uma variedade de fatores, incluindo maior densidade da rede, dependência dos sistemas de TI, maior uso da rede e crescimento acelerado do tráfego. O estudo sugere que as teles precisam enfrentar esse desafio através da adoção das melhores práticas de eficiência energética, encorajando seus clientes a adotarem serviços habilitados pelo 5G para reduzir o consumo e as emissões em todas as esferas.
A eficiência energética é, hoje, apenas uma parte da equação, embora siga sendo uma parte essencial. Um estudo da McKinsey sobre a busca das operadoras de telecom por redes mais verdes verificou que, embora 15% do uso de energia das teles seja consumido durante a transferência de dados, os restantes 85% são desperdiçados pela perda de calor e outros fatores. As teles, diz o estudo, são responsáveis por ao redor de 3% da demanda global de energia.
A consultoria McKinsey identificou quatro maneiras de reduzir o consumo e os custos de energia:
- Soluções de desligamento orientadas por IA para parar o funcionamento de sistemas que não estiverem em uso, calibrando para ótimas as configurações dos equipamentos de forma a restringir o desperdício.
- Uso de otimização de energia com base na IoT para proporcionar leituras precisas do consumo. Nesse caso, usa-se sensores que medem com precisão a entrada e o uso da energia vinda da rede elétrica, ajudando a detectar potenciais problemas e emitindo alertas em tempo real.
- Fazer transformações estruturais e arquitetônicas para, entre outras medidas, migrar para sistemas cloud-RAN e “nuvem limpa”.
- Avaliar estrategicamente a origem da compra de energia.
De acordo com os analistas da McKinsey, é possível que todas as necessidades de energia da maioria das operadoras de telecom sejam supridas com energia verde até 2030. Vale lembrar que o mercado já conta com soluções inteligentes de gerenciamento de energia. São plataformas que apresentam um sistema integrado de controle e gerenciamento de recursos de energia, combinando armazenamento de energia, analytics, previsões e otimização econômica para ajudar a atingir as metas de sustentabilidade.
Esse tipo de solução facilita com que o gestor do data center tenha acesso a métricas que indicam de forma transparente o quanto a operação é realmente sustentável.
Métricas sustentáveis são diferenciais de negócios
Os clientes dos data centers querem medições de sustentabilidade transparentes e quantificáveis. Embora as métricas de eficiência para a sustentabilidade de data centers incluam PUE (Eficácia na Utilização da Energia), WUE (Eficácia na Utilização da Água) e CUE (Eficácia na Utilização de Carbono), o Green Grid, um consórcio da indústria de data centers sem fins lucrativos e que desenvolveu essas métricas, está adicionando uma nova métrica – IUE (Eficácia na Utilização da Infraestrutura).
De acordo com o Green Grid, a nova métrica foi criada para ajudar a identificar a quantidade de capacidade da infraestrutura determinada pelo projeto que um data center operacional pode efetivamente usar. Ao medir os data centers por eficácia, usando uma faixa de 0% a 100% do IUE real, o sistema ajuda a destacar possíveis deficiências no uso da infraestrutura ou capacidade ociosa.
Medições feitas por data centers incluem o uso de “aluguéis verdes”, que permitem melhorias no desempenho ambiental de um prédio e alinham as metas de sustentabilidade do locador e do locatário. Os data centers também estão escolhendo com mais cuidado os materiais de construção e os designs que usam. Cada vez mais, os proprietários e operadores de data centers estão avaliando e selecionando materiais de construção e de infraestrutura interna com base no desempenho ambiental e implicações como a pegada de carbono, produtos químicos perigosos e oportunidades de reciclagem e restauração.
A tecnologia é um importante impulsionador da sustentabilidade. Seu papel no data center é monitorar o consumo de energia, o uso de água, a temperatura, a umidade e os ciclos de pico de demanda. Soluções inteligentes podem, ainda, servir a várias funções, incluindo controle de temperatura e controle de iluminação, recuperação de águas pluviais, reciclagem do calor residual e refrigeração eficiente.
Redução de consumo de água
Os movimentos globais de sustentabilidade aumentam o foco na água como um recurso finito. O estudo Norton Rose Fulbright revela que quase 40% da energia consumida por um data center pode ir para a refrigeração. O uso de tecnologias de refrigeração evaporativas a base de água tem sido uma ferramenta comum para reduzir o consumo de energia. Essa redução no consumo de energia vem às custas do aumento no uso de água. Os operadores de data centers estão ampliando seus esforços para reduzir a dependência do suprimento de água. Isso envolve diversas táticas, incluindo o uso de sistemas de refrigeração que demandem menos água, implementando programas de recuperação de águas pluviais e reciclagem de água. Ou seja: o consumo de água está caminhando para se tornar um fator de sustentabilidade tão visível para os data centers quanto o consumo de energia.
Vários agentes na indústria de data centers estão rastreando seu uso de água e reportando essas descobertas em suas métricas de desempenho e de sustentabilidade. Os clientes do data center estão verificando aspectos como esses de cada player e, a partir daí, tomando decisões que levam em conta a maturidade da cultura sustentável de cada fábrica de dados.