Design & UX

13 dez, 2002

Uma breve história dos cartazes

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"Cartazes são mensageiros.
Cartazes são expressão de cultura. Cartazes
deixam marcas. Visíveis e inconfundíveis,
como parte de um processo de comunicação,
eles dependem do local e data de publicação.
Bons cartazes falam uma linguagem internacional."
Manfred Triesch

Relatam os estudiosos que os primeiros
cartazes foram desenvolvidos por meio de xilogravuras,
obtidas através da impressão de matrizes
de madeira pelos povos orientais, principalmente japoneses
e chineses, ainda no século X. Mas foi somente
no final do século passado que a arte de reunir
textos e ilustrações em uma folha de papel
alcançou maior projeção ao ser
propagada pelos mercadores europeus, e um alto grau
de sofisticação logo impingida pelos artistas
plásticos da época. A integração
entre produção artística e industrial
é exemplificada na carreira de Jules Cherét.
Filho de um compositor tipográfico e aprendiz
de um litógrafo em Paris, ele foi para Londres
estudar as técnicas mais recentes. De volta a
Paris em 1860, Cherét gradualmente desenvolveu
um sistema de 3 a 4 cores de impressão.

O estilo de Cherét atingiu seu
auge por volta de 1880 e foi adotado e desenvolvido
por outros artistas como Pierre Bonnarde, o famoso Henri
de Toulouse-Lautrec. Consagrado por retratar cenas da
vida noturna e do submundo parisiense, Toulouse-Lautrec,
por exemplo, assinou centenas de cartazes de divulgação
de espetáculos de cabaré, então
reproduzidos através de pedras litográficas.
Foi nas mãos de Toulouse-Lautrec que a arte publicitária,
através do toque impressionista, tornou-se famosa.
Apesar da fotografia já existir há algumas
décadas, suas imagens não podiam ser reproduzidas
nem em grandes formatos, nem em grande escala. Artistas
então pintavam o design dos cartazes, que era
transferido à mão para a superfície
das pedras para impressão litográfica
– uma para cada cor.

Na virada do século, o movimento
mais importante no design de cartazes era a Art Noveau.
Seu expoente mais famoso e extravagante foi o artista
checo Alphonse Mucha. Seus cartazes contêm belas
mulheres de longos cabelos ondulados, emolduradas por
uma decoração floral e traços orgânicos.Os
cartazes artísticos deste período, demonstraram
liberdade estética e ousadia criativa que acompanhou
o primeiro confronto com as inovações
tecnológicas em produção gráfica.

Quando os artistas ao invés de
adicionarem texto com tipos de impressão, desenharam
eles próprios seu lettering, e eram responsáveis
por cada elemento num design que intencionava a reprodução
por máquina, eles estavam praticando o que posteriormente
foi reconhecido como design gráfico.

O período entre as décadas
de 20 e 30 foi bastante rico tanto em movimentos no
design de cartazes quanto na pintura:Bauhaus, De Stijl,
futurismo, cubismo, entre outros. Entretanto a maioria
dos cartazes produzidos durante essas duas décadas
visava promover produtos comerciais ou eventos culturais.
Desenvolvendo concepções cubistas e construtivistas,os
cartazes marcantes de A. M. Cassandre dominaram a publicidade
francesa no período entre guerras. Ele interessava-se
especialmente pelas letras, segundo ele um elemento
indispensável e muitas vezes negligenciado no
design de cartazes.Cassandre acreditava que a função
primeira do cartaz era veicular a mensagem.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os
cartazes que anunciavam produtos deram lugar àqueles
que ajudavam a promover os esforços de guerra,
por meio de apelos de recrutamento ou veiculação
de informações. Os governos que encomendavam
esses cartazes queriam urgentemente mensagens diretas
e eficazes; assim assumiram o risco de contratar e dar
liberdade a jovens designers modernistas. Os resultados
foram, muitas vezes controversos, mas vêm deste
período, alguns dos mais criativos designs de
cartazes. As portas também foram abertas para
anúncios comerciais mais inventivos depois que
a guerra terminou. Raymond Savignac foi o mestre do
gag visual. Seus numerosos cartazes, produzidos para
clientes no mundo todo, caracterizam-se pelo design
simples, direto, bem-humorado e eficaz.

Durante a década de 60, os cartazes
foram cada vez mais encarados e vendidos como obras
de arte a serem emolduradas e penduradas nas paredes.
Nos EUA e na Europa museus e galerias de arte encomendavam,
publicavam e comercializavam cartazes de muitos grandes
artistas, inclusive Andy Warhol, René Magritte
e Roy Lichtenstein. As décadas de 60 e 70 presenciaram
o surgimento de uma série de movimentos de fundo
político/social que acabaram por influenciar
de forma decisiva o design gráfico, entre eles
o movimento estudantil, o psicodelismo e o punk. Os
cartazes desta época eram criados para uma platéia
exclusiva, com letreiros praticamente ilegíveis,
carregando a mensagem implícita: "Se você
não consegue ler, não é para você".
O psicodelismo começou na costa oeste dos EUA
e se espalhou pela Europa com o movimento hippie.

Por outro lado, os designers japoneses
cresciam em importância internacional, pois estavam
mais dispostos do que os demais a abraçar a nova
tecnologia. Na década de 70, a tecnologia ampliou
ainda mais a liberdade dos designers, propiciando-lhes
maior controle sobre a composição tipográfica
e a reprodução da imagem. Já na
era contemporânea, poucos são os artistas
gráficos cujas obras se destacam quantitativa
e qualitativamente. Um exemplo é Ikko Tanaka,
que possui obras fixadas em museus como o MOMA, de Nova
Iorque. Os cartazes de Ikko Tanaka são conhecidos
pelo uso sutil da cor. Embora claramente japoneses,
demonstram uma compreensão do pensamento ocidental
moderno em relação ao design.

Alguns dos cartazes mais controvertidos
do século foram produzidos por Oliviero Tosconi
para a Benetton, empresa italiana de confecção.
Sob o slogan "The United Colours of Benetton"
ele expôs imagens chocantes e violentas, inclusive
Cristo como um aidético morimbundo, um carro
se incendiando e uma mulher dando à luz. O único
ponto em comum entre as imagens é o fato de impressionarem.
Embora alguns críticos questionarem a sua relevância
em relação ao produto, os cartazes atraíram
grande interesse.

Apesar dos muitos gastos em campanhas
publicitárias pela televisão, o comércio
e o governo não abriram mão da comunicação
direta e eficaz do cartaz. O computador continua cada
vez mais importante no design de cartazes, e novos programas
permitem a manipulação da imagem em níveis
nem sonhados anteriormente. O trabalho resultante pode
mesclar qualquer combinação de fotografia,
ilustração e tipografia.