Desenvolvimento

2 abr, 2019

Robótica em escola pública: Débora Garofalo revela ao iMasters os desafios de ensinar tecnologia

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Débora Garofalo ficou mais conhecida nas últimas semanas. A professora acompanhou de perto a repercussão sobre seu trabalho, que usa lixo para ensinar robótica aos alunos. Depois de ser retratada pelos principais meios de comunicação do Brasil e do mundo, Débora ainda teve sua iniciativa reconhecida por um dos mais importantes prêmios voltados para a área de educação.

O Global Teacher Prize, considerado o Nobel dos professores, indicou Débora como uma das 10 melhores educadoras e educadores do mundo. No site oficial da premiação de 2019, ela apareceu ao lado de profissionais de diferentes partes do planeta.

Débora é professora da EMEF Almirante Ary Parreiras, na região do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Diante da realidade humilde e sem muitos recursos, a professora teve a ideia de usar sucata, para ensinar os alunos a construírem robôs em sala de aula.

Ela conta que tudo começou quando foi alertada pelos alunos sobre acúmulos de lixo jogados ao redor da escola: “A ideia partiu da escuta ativa dos alunos. Em conversas, me relataram a questão do lixo, dos alagamentos e doenças como dengue e leptospirose. Como professora era necessário transformar esse problema em currículo e atuar sobre ele”, explica Débora.
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A professora diz que após as aulas, públicas ou dentro das salas, a comunidade está mais sensibilizada sobre o descarte, sustentabilidade e sobre a importância de praticar os 3R’s (Reciclar, reduzir e reutilizar o lixo). O lixo está sendo descartado de forma correta e cada um tem feito sua parte.

Débora fala sobre desafios

iMasters – Quais foram as dificuldades de implantar e executar esse projeto na educação?

Débora Garofalo – As dificuldades foram a aceitação da proposta para todos os atores da Educação, que começou a mudar a partir das ações de pertencimento do trabalho.
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iMasters – Como se sentiu ao ser indicada ao Teacher Prize?

Débora Garofalo – Uma felicidade e responsabilidade, principalmente por ter o trabalho avaliado por um júri internacional e ter a possibilidade de transformar a nossa educação e a de outros países com o trabalho e ensino de programação e de Robótica. Um momento importante para valorizar práticas docentes e reinventar a nossa educação.
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iMasters – De que maneira a senhora pretende fazer isso?

Débora Garofalo – Desde 2016 venho realizando palestras pelo Brasil e atuado na formação docente e também conversado com secretarias de educação e mostrando a importância de inserir o ensino de programação e de Robótica. Com a repercussão do trabalho tenho intensificado e iniciei uma conversa com o Ministro, pedindo que o trabalho se torne uma política pública e que seja incluído no currículo brasileiro, pelo potencial de replicação e de baixo custo. Tenho conversado com muitas pessoas da Educação e já há possibilidade de aplicação para a rede estadual de ensino. Tenho intensificado o meu pedido a professores para que implementem o trabalho em suas aulas, por todo o benefício comprovado do projeto.

iMasters – De que maneira as tecnologias podem ajudar o ensino e a população?

Débora Garófalo – A tecnologia é uma das 10 competência da BNCC [Base Nacional Comum Curricular do MEC]. É fundamental estar na escola por ser uma propulsora da aprendizagem. Nossas crianças e jovens nasceram nessa era e precisamos inserir a escola nessa nova era. Por outro lado, se faz necessário um investimento das políticas públicas em conectividade e infraestrutura iniciado no governo anterior.

“É fundamental [a tecnologia] estar na escola por ser uma propulsora da aprendizagem”.
Débora Garofalo, Professora

iMasters – Com a repercussão sobre o projeto de robótica com os alunos, o que a senhora espera deles a partir de agora?
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Débora Garofalo – Eles estão com a autoestima elevada e compreendendo a importância da Educação para vida. O meu desejo é que eles prossigam com o estudo e conquistem o seu lugar no mundo. Ainda iremos ouvir muito sobre eles! São crianças e jovens com grande potencial, que entendem que não é o lugar que irá determinar o que podem ser na vida. Quem determina isso, são eles.

iMasters – Onde acha que o projeto de robótica com os alunos pode chegar?

Débora Garofalo – Eles [os alunos] já têm pensado na construção de protótipos para a vida, como construção de semáforos, energia solar e acessibilidade. Muitos estão interessados em cursar Engenharia, Biologia, programação. E já exercitam na Educação básica resolução de problemas, colaboração e empatia.

iMasters – Pretende expandir o projeto para outras escolas?

Débora Garofalo – Sim. Inclusive, já temos o trabalho ampliado para uma escola e em outras localidades brasileiras. O meu maior desejo é que se torne uma política pública.

iMasters – Como a senhora acredita que o governo e a iniciativa privada poderiam incentivar mais as crianças a se interessarem pela área de robótica e desenvolvimento como um todo?
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Débora Garofalo – A escola ainda é vista como uma ilha. É necessário realizar parcerias com as escolas e criar espaços para o trabalho mão na massa, além de formar professores para a aprendizagem criativa.

Robótica nas salas de aula

iMasters – Como a senhora, inserida neste contexto, vê o futuro dessa área? Qual a importância de trazer robótica para as escolas?

Débora Garofalo – Estamos vivenciando a indústria 4.0. É fundamental que as crianças e jovens vivenciem a linguagem de programação e Robótica na educação, lidando com o raciocino lógico, soluções de problemas, colaboração e empatia, reinventando a educação através da tecnologia como uma propulsora, ao exercer o pensamento crítico, científico e ético, preparando esses jovens para o futuro próximo.

iMasters – O que espera para o futuro?

Débora Garofalo – Espero que tenhamos uma educação pública de qualidade, com equidade para todos, com altas expectativas para alunos e professores, onde os profissionais serão valorizados e respeitados. É necessário para uma sociedade avançar o investimento em educação.

“É necessário para uma sociedade avançar no investimento em educação.”
– Débora Garofalo, Professora.

Projeto ajuda o Jabaquara

Para saber mais sobre o projeto e sobre Débora Garofalo, assista ao vídeo abaixo, publicado no site do Global Teatcher Prize.