SÃO PAULO – Craig Barrett, presidente da
Intel, apresentou na semana passada a visão da empresa
sobre o Brasil e propôs a criação de uma “”cesta
básica digital””. Líder mundial na fabricação
de processadores, a fabricante de processadores dita o futuro
da informática, mas sem a onipotência do passado.
– Ainda somos os melhores – disse Barrett, depois
de perguntado sobre os desafios do cargo. – Confesso que os primeiros
anos foram bem mais divertidos – completou, explicando que a década
atual tem sido complicada, pela depressão econômica
mundial e concorrência da principal adversária, AMD.
Nos últimos dois anos, a rival provocou
reações inéditas na Intel. Ao lançar
primeiro o Opteron e o Athlon 64, famílias de processadores
que operam em 32 e 64 bits, a AMD passou a ter produtos que não
existiam no cardápio da concorrente. No início,
a Intel desdenhou o movimento, afirmando que a arquitetura de
64 bits em micros domésticos só seria necessária
em 2007. Hoje, no entanto, a empresa já tem o Xeon Nocona
híbrido e prepara o seu irmão para o PC.
Com a competição acirrada, a Intel
se volta para mercados ainda em desenvolvimento. Em uma hora de
apresentação, Barrett apresentou a visão
da empresa para o futuro da sociedade, e como o Brasil pode se
encaixar nela. O executivo citou China, Índia e Rússia
como exemplos de países com projetos atuais de desenvolvimento
tecnológico – o primeiro com ênfase no hardware e
infra-estrutura e os dois últimos com software e serviços.
E afirmou que o Brasil precisa de algo semelhante.
– Não vou esconder que existem países
mais competitivos para a fabricação de processadores.
Acho que vocês devem investir em software e serviços,
pela criatividade e potencial dos profissionais locais.
Barrett afirmou que o país gasta 2% do seu
PIB com tecnologia da informação – pelo menos o
dobro de qualquer outra nação da América
Latina. E mostrou um ranking dos países com maior network
readiness, ou infra-estrutura e educação tecnológica.
O Brasil ocupa o 39º lugar e o 2º entre os latinos,
atrás apenas do Chile. Na escala geral, está à
frente da China e da Índia.
O executivo propõe uma “”cesta básica
digital””, composta de investimentos em infra-estrutura para acesso
à internet, capacitação de professores em
tecnologia e instalação de micros e internet nas
escolas, além da manutenção de projetos de
governo eletrônico.
– O exemplo de outras nações mostra
a necessidade de um plano de desenvolvimento tecnológico.
Embora o Brasil cresça em setores como acesso rápido
à internet e número de computadores domésticos,
isso só acontece entre os cidadãos com poder aquisitivo
alto – disse Barrett.
O executivo afirmou que a Intel estimula o aumento
da infra-estrutura e do desenvolvimento de software e serviços
nos países em desenvolvimento.
– Não patrocinamos fórmula 1 ou campeonatos
de golfe. Nosso negócio é estimular países
e empresas a crescer – afirmou Barrett, que tem na Intel Capital
o braço de investimentos da empresa, que chega a US$ 5
bilhões anuais.
Para o acesso à Rede em grande escala, a
Intel aposta no padrão WiMax, que garante conexão
sem fio à internet com uma antena num raio de até
50 km. Suas especificações estarão prontas
até o fim do ano. Em 2005 a empresa lançará
chips compatíveis com a tecnologia.
Um projeto-piloto de WiMax será lançado
em Brasília e cobrirá 35 km da capital federal.
Acesso à internet e cursos serão fornecidos em uma
escola e num caminhão Outra rede está programada
para Ouro Preto, MG.
O protocolo para redes sem fio de longo alcance
tem causado receio entre as operadoras de telefonia, celular e
fixa. Um sistema que cobrisse toda a cidade do Rio de Janeiro,
por exemplo, poderia servir para a realização de
chamadas VsIP (Voz sobre IP). Como o WiMax, por enquanto, independe
de licenças o custo da infra-estrutura e acesso seria baixo.
– Não vejo concorrência entre a telefonia
e a rede sem fio. Os dispositivos identificarão a melhor
forma de se comunicar sem que uma tecnologia substitua a outra
– afirmou Barrett.
Ao comentar a queda global nas vendas de computadores,
contra a explosão do comércio de celulares e micros
de bolso, o presidente da Intel continuou a política da
boa vizinhança:
– Imagino três telas no futuro. Uma pequena,
do celular e outros dispositivos. A média será a
do computador, onde você digitará e editará
documentos, imagens, vídeos, música. E a maior será
a televisão, para a interação social.
Craig Barrett está prestes a completar 65
anos, idade limite para um presidente da Intel. Desde 1997 no
cargo e há 30 anos na empresa, Craig Barrett terá
seu sucessor nomeado em maio de 2005 e se aposentará.