Desde a última semana, o Google vem sendo duramente criticado por especialistas, pesquisadores e entusiastas da inteligência artificial pelo registro de seis patentes relacionadas a redes neurais e treinamento de computadores. Para eles, a empresa acaba de começar uma corrida comercial em um campo ainda incipiente e que vem sendo estudado em diversas frentes. Todas elas, agora, passam a ser prejudicadas pelas propriedades e podem ter que voltar à estaca zero em alguns de seus trabalhos.
A ideia de um registro de patentes é proteger tecnologias inventadas internamente contra cópia ou roubo, principalmente quando os responsáveis pelos trabalhos não são mais empregados da empresa. Com os documentos, o Google seria capaz de, por exemplo, cobrar royalties sobre as inovações que são de sua propriedade ou processar por plágio aqueles que fizerem uso indevido delas.
Uma das tecnologias registradas tem a ver com o conceito de dropout, que utiliza certos filtros de informação para evitar que a inteligência artificial, durante seu processo de aprendizagem, não tenha que lidar com informações redundantes ou repetidas. Colocada em diversas camadas de detectores da rede neural, a tecnologia trabalha com algoritmos de probabilidade para prever quais informações são essenciais ou repetidas durante cada exercício, aumentando a eficiência das máquinas.
Esse é o principal alvo de críticas, já que o conceito de dropout é utilizado em boa parte das pesquisas relacionadas à inteligência artificial. A tecnologia foi inventada por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, trabalhando a serviço do Google, mas boa parte dos pesquisadores da área acreditava que ela se tornaria um conceito aberto, e não uma patente registrada por uma companhia específica.
Outras tecnologias registradas que foram alvo de comentários negativos estão relacionadas a “sistemas de classificação de objetos”, com dados bastante amplos e dispersos no documento de aplicação emitido pelo Google, além de outros sistemas relacionados ao reconhecimento de distorções em imagens avaliadas. São conceitos que também podem ser considerados amplos e aplicados a diversos métodos de pesquisa atuais.
O consenso entre especialistas e pesquisadores do setor é que, com o registro de patentes pelo Google, outras empresas possam ser incentivadas a fazer o mesmo. E enquanto a gigante das buscas normalmente é amiga de estudiosos e universidades, normalmente investindo em trabalhos conjuntos, a mesma coisa não pode ser dita de outras companhias, que podem acabar iniciando ações judiciais para proteção de uma tecnologia própria, com foco em sua comercialização futura e na obtenção imediata de lucros com patentes.
Por outro lado, há quem tenha mais cautela nos comentários e afirme que o Google sabe que tais tecnologias ainda estão em estágio de maturação e bem longe de qualquer uso comercial. Sendo assim, os registros teriam a ver com a proteção das próprias inovações diante de outras empresas que também trabalham com inteligência artificial e poderiam tomar a dianteira, registrando elas próprias as patentes de invenções de terceiros. Os patent trolls, principalmente, seriam o principal alvo da mudança – e também os únicos realmente afetados por ela.
Por enquanto, o Google não se pronunciou sobre o assunto.
Com informações de Canaltech