Em 15 de agosto de 1943, nos Estados Unidos, nascia o ENIAC, o primeiro computador eletrônico de uso geral. Criado com fins militares durante a Segunda Guerra Mundial, o equipamento ocupava uma sala inteira, pesava cerca de 30 toneladas e foi projetado para realizar cálculos balísticos. Foi um marco que deu início a uma das maiores revoluções tecnológicas da história da humanidade.
O que era uma máquina restrita à lógica e ao poder bélico, ao longo das décadas, se tornou parte indissociável do nosso cotidiano, presente nos bolsos, casas, hospitais, escolas e até na forma como nos locomovemos. E, mais recentemente, a informática passou a ser vista também como um instrumento de transformação social.
É com essa premissa que atua Adriana Duarte, especialista em inteligência artificial aplicada à acessibilidade. Ela é a mente por trás de um aplicativo brasileiro que usa IA para orientar, com precisão, pessoas cegas ou com baixa visão em centros urbanos. A proposta é simples e poderosa: usar a tecnologia para promover autonomia e segurança a quem vive as cidades de forma diferente e muitas vezes invisível.
“A informática nasceu para resolver problemas complexos. Hoje, temos o dever de usá-la também para resolver problemas humanos. Inclusão é um deles e a tecnologia acessível pode ser parte essencial dessa resposta”, afirma Adriana.
Tecnologia com propósito real
Enquanto o ENIAC levava horas para processar dados simples e precisava de técnicos especializados para operá-lo, hoje um APP. instalado em um celular consegue entender comandos de voz, interpretar o ambiente e oferecer orientações de trajeto em tempo real para pessoas cegas ou com baixa visão.
A solução criada por Adriana e sua equipe combina geolocalização, mapeamento urbano e inteligência artificial para permitir que usuários transitem com mais independência em vias públicas, estações de transporte e centros comerciais. E o melhor: sem a necessidade de conexão com equipamentos externos ou acessórios adicionais. “Estamos criando algo que realmente é acessível, tanto no uso quanto na proposta. A autonomia deve ser um direito de todos e a tecnologia tem o papel de garantir isso”, explica.
Da exclusão à autonomia digital
Segundo o IBGE, mais de 19% da população brasileira tem algum tipo de deficiência visual. Muitas dessas pessoas enfrentam dificuldades todos os dias para fazer tarefas simples, como atravessar a rua ou chegar ao trabalho com segurança. Iniciativas como a de Adriana mostram que a tecnologia pode e deve ajudar a transformar esses direitos em uma realidade concreta.
No Dia da Informática, a data que celebra a apresentação do primeiro computador eletrônico ao mundo, a história mostra que a verdadeira evolução digital vai além da capacidade de processar dados. Ela está na capacidade de escutar, incluir e transformar vidas reais.
Sobre
Adriana Duarte é especialista em inteligência artificial aplicada à acessibilidade e autora do livro Além da Visão: Uma História de Coragem, Fé e Superação. Deficiente visual desde o nascimento, atua há a anos no atendimento a públicos vulneráveis e na promoção da inclusão. Atualmente cursa MBA em Inteligência Artificial pela Faculdade Iguaçu e lidera o desenvolvimento do aplicativo, voltado à mobilidade urbana de pessoas com deficiência visual. Adriana é referência no debate sobre autonomia e inclusão, com forte presença nas redes sociais e no ativismo por uma tecnologia aplicada para ajudar pessoas. Pois além de “viver na pele” a realidade do dia a dia das pessoas com baixa acuidade visual, Adriana também é casada com um portador de visão subnormal. E juntos desafiaram todas as probabilidades, transpondo obstáculos inimagináveis até para pessoas com acuidade visual intacta.